Claro que eu não tenho vontade! Mayara. Do. Céu. Nem quando estávamos juntos naquele apartamento eu senti tanta vergonha. Eu acabei de dizer que o beijaria. Lá naquele lugar. E por mais que tente decifrar as razões de ter cogitado essa ideia- a mais insana e incabível- não consigo explicar.
Quero morrer! Sem melodrama. Nesse exato momento é isso que eu quero. Obviamente, não serei a primeira a puxar o assunto com o homem paralisado me olhando. Mal consigo manter os olhos abertos e desvio a atenção para Marcelo jogado no chão da calçada.
Claramente, fingindo ter um extinto de amiga, eu corro até ele e pergunto se está bem. Ele sacode a cabeça meio que concordando e fico sem saber mais o que fazer. Queria apenas uma desculpa para fugir de Vicente. Poder me livrar de algo que sufoca a minha alma. Angustia minha normalidade. Tira todo e qualquer senso de racionalidade.
- Vai ficar jogada em frente à calçada de uma boate com um bêbedo? – diz exalando veneno.
- Nem parece que eram amigos. Quanta consideração. – digo tentando fazer com que Marcelo levante. - Vou chamar um táxi e levá-lo para casa.
- Já fiz isso enquanto você fingia acudi-lo. - ele diz mostrando a tela do celular com um aplicativo de táxis.
Fala sério! Ele está sempre na frente.
- Ótimo. Estou indo embora. – deixo Marcelo apoiado na parede e procuro por algum ponto de ônibus perto daqui. Nada.
- Desiste. Não vai conseguir voltar sozinha.
Sim. Ele quer que eu me humilhe, implore e rasteje para que me ajude. Graças a Deus um táxi amarelo para perto de nós. Ajudo Marcelo a caminhar até o veiculo, mas Vicente me impede. Não faço questão de discutir. Ele é pesado demais.
- Solta. Eu levo. – meu amigo está tão bêbedo que não reage à ajuda de Vicente. Ele cai sentado no banco detrás do carro.
Abro a porta da frente e quando vou me sentar Vicente não permite.
- Não vai embora com ele.
- O que? Quem é você para me dizer isso?
Ele desvia os olhos para o motorista e depois olha para mim.
- Eu te levo. São lados diferentes da cidade. – seu tom de voz ameniza. Com certeza para não causar má impressão ao estranho.
Eu não posso ir com ele, mas vou. E então o táxi vai embora. Poderia arrumar cem razões contrárias para o que acabei de fazer. No entanto, nada mudaria o que eu fiz de verdade.
- Ignore o que eu disse ta. Eu não estava pensando direito.
- Sou tão detestável assim? – ele diz se aproximando de mim. Dou três passos para trás e ele me persegue. Meu corpo encosta na parede. Vicente apoia os braços perto da minha cabeça e me aprisiona.
- Para. – empurro seu peito tentando-o afastar. Ele não cede. Pelo contrário, os olhos verdes me fuzilam um tanto raivosos e... Desapontados?
- Não pode fazer isso. – desvencilho-me dos seus braços- Brincar comigo. Com meus sentimentos.
- Que sentimentos Mayara?
- Esquece. - Boa pergunta idiota! O sentimento que fez com que eu me entregasse a você chorasse no banheiro por suas palavras e perdesse boas horas do meu dia pensando em que lugar estar, o que está fazendo e se está perto de mim ou não.
Era tudo que queria dizer e faltou coragem. Ou melhor, eu ainda tenho orgulho próprio para não admitir isso a um cretino.
Vicente respira fundo por três vezes seguidas e a veia do seu pescoço começa a pulsar demonstrando o quanto está nervoso.
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Ilhas de Ilusões
RomanceMay é natural de Areal, uma pequena cidadela no interior do Rio da Janeiro. Aos dezoito anos, ela consegue aprovação em uma das melhores instituições de arquitetura da capital. Na universidade federal, a garota desbrava um universo contraditório e u...