42- Hurt outside, drink inside !

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É um quarto pequeno, mas ainda assim é bem melhor e confortável do que o alojamento. Tem uma cama de solteiro, escrivaninha, espelho e uma janela que dá para uma avenida do bairro São Cristovão, segundo informações do Vicente. Não é nobre como a zona sul, porém é digno.

- Foi o melhor que eu consegui. – ele me abraça por trás e sinto seus lábios pousarem de leve na minha cabeça.

- Está ótimo. De verdade. Mas você não irá tentar resolver as coisas com seu pai? – falo um pouco preocupada.

- Ele sabe que o único herdeiro daquela merda toda sou eu. - se afasta um pouco irritado.

- Se o meu pai acha que sou incapaz para o cargo que se dane! Entregue nas mãos de um daqueles investidores falsos do caralho.

De um segundo ao outro, a veia de Vicente ressalta e noto que o assunto o deixa bastante estressado. No fundo, acho que existe uma mágoa entre os dois. A do filho por pensar que o pai não põe fé nele e a do pai, por acreditar que o filho não corresponde as suas expectativas.

Vicente está sentado na cama inquieto e agarra minha cintura quando me aproximo.

- Não acho que exista pessoa melhor que você para a Heim. - mexo no seu cabelo bagunçado e ele apoia a cabeça na minha barriga.

- Só a Mayara me disse isso até hoje.

- Talvez só ela tenha sido sincera o bastante com você. – me ajoelho ficando cara a cara com ele. Bom, só hoje eu já tive a visão de Vicente ciumento e há poucos segundos a de irritado. Mas essa nova faceta nem em meus sonhos mais profundos poderia prever. Ele está frágil.

- Se você não estivesse aqui nesse momento minha companheira seria um bom litro de cachaça.

- Em que ela seria capaz de te ajudar? – deslizo a mão pela barba rente até sua nuca.

- Ajuda a esquecer do fato de que o filho que nasceu para ser o prestígio do pai é visto como um fracasso aos olhos dele.

Observo em volta a procura de uma solução e vejo a ponta de uma garrafa saindo de uma das malas de Vicente.

- Tive uma ideia! – digo deixando um selinho com ele.

Pego a garrafa de dentro da maleta e sento ao seu lado na cama.

- Para com isso! Esse troço tem mais álcool do que você já bebeu a vida inteira. – ele tenta roubar a garrafa de mim, mas desvencilho.

- Não Vicente! Me deixa! Eu tenho uma proposta. Quietinho. – apoio meu dedo indicador em seus lábios.

E ele aguarda que eu fale em silêncio.

- Assim, eu não sei se isso tem nome porque acabei de inventar. Mas a cada mágoa revelada tomamos uma dose. Acho que pode se chamar... Hurt outside, drink inside !

Ele ri alto.

- Olha ela bilíngue! Então seria tipo mágoa fora e bebida dentro, é isso? – ele esboça um sorriso mais uma vez.

Faço que sim com a cabeça tímida com a ideia fruto da minha pouca criatividade.

- Topo! – ele diz.

- Ótimo – abro a garrafa e faço a tampa de copinho pequeno. – Pode começar! Qual sua primeira mágoa?

- Isso é meio estranho. Mas... – ele faz uma cara um tanto sem graça- Quando eu quebrei o braço ainda criança e minha mãe não foi ao hospital comigo porque disse que tinha cabelo marcado.

Nossa, que mãe é essa? Tento disfarçar o quanto estou incrédula e encho a tampinha com líquido que entope minhas narinas de cheiro de álcool. Envergonho-me por oferecer bebida como forma de cura, mas antes que possa dizer qualquer coisa ele pega a tampa da minha mão e bebe.

- Sua vez! – ele diz fazendo uma cara de que a bebida é forte.

- E-eu odiava a forma como meu pai olhava para minha tia. Enganando nossa família. – as palavras machucam relembrando e quando dou por mim já bebi uma dose cheia que desceu queimando todas minhas células.

- O olhar do meu pai no dia que ele descobriu que já consumi drogas. – mais uma dose.

- Os sussurros de choro da minha mãe no quarto. – mais uma para mim.

Rodadas e mais rodadas se passaram. Já estávamos sentados desleixados na cama, o ambiente girava no lugar. Era confuso, mas sentíamos alegre.

- Ho-hoje aquele filho da puta be-beijando você. – ele pega garrafa e engole.

Puxo a bebida da mão dele.

- Isso não é mágoa! É ciúme– dou um gole. Ele puxa de volta antes que eu abuse e a garrafa solta da mão dele diretamente em cima mim.

O cheiro do álcool sobe e me faz lembrar o dia em que nos conhecemos.

- Você adora me molhar né– faço uma pose seduzindo que certamente não combinaria com o estilo sóbria.

- Como se não gostasse de ser molhada – ele mordisca o canto direito do meu pescoço. Uma vibração percorre meu corpo enquanto seu lábio alcança o lóbulo da minha orelha.

- Acho que teremos que nos livrar dessas roupas – ele diz.

Eu estou embriagada. Ele está embriagado. E fazer sexo desse jeito se tornou um pouco confuso, mas muito engraçado. Se um dia foi difícil se livrar do sutiã, sem os sentidos por inteiro, foi ainda pior. Ao invés de nos estressarmos, riamos do nosso desastre. Do nosso maravilhoso desastre.

Um tom a mais de liberdade me encanta e a bebida se torna justificativa para ser selvagem e ousada. Ele gosta. Claro. E nossa pele pinica entre dentes cravados e puxões de cabelo.

- Ai Vi-vicente! - gemo.

No outro dia de manhã, um ruído fino toca me despertando. Sinto uma tremenda dificuldade de me mexer. Minha cabeça parece pesar dez quilos e o máximo que faço é abrir os olhos.

- É seu celular linda. – Vicente está em pé na beira da cama e me entrega meu telefone. Olho de relance o alarme e o desligo. Estou adiantada posso deduzir. Meu corpo não ligaria se não estivesse.

Forço-me a levantar e sinto pontadas na cabeça. Ressaca só pode ser.

- Tudo bem? – ele agacha de frente a mim na cama.

- Bastante dor de cabeça.

- Já comprei um café da manhã bem gorduroso para você e muita água – ele aponta para algumas sacolas ao lado da cama.

Prendo meu cabelo em um coque desarrumado e como tudo que ele trouxe batatas fritas, ovos, bacon. Coisas que nunca comeria em dias normais, mas ele diz que quanto mais gorduroso melhor para o que estou sentido. De fato, meia hora depois pareço mais renovada.

Após experimentar a delícia de um banho em um chuveiro um pouco melhor do que o de costume, eu arrumo minhas roupas e escovo os cabelos com a mão. Estou pronta para sair quando Vicente diz:

- Hoje, você vai para faculdade oficialmente como minha namorada. 

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É de madrugada, mas já é terça-feira!! Para que vocês vejam o nível de ansiosidade da pessoa em postar. Isso tudo é porque tem bombas vindo por ai! Shhhh! Cenas do próximo capítulo...

Obrigada pelas minhas fiéis e lindas leitoras! Que mandaram recadinhos de incentivos para continuar firme! MU-I-TO  O-BRI-GA-DA!

Bjss da Gabss

P.s: Peço que se perceberem algum erro de ortografia ou digitação nos capítulos a partir de agora me falem, por favor! Para que eu já concerte e fique tudo de boa. :)

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