48- Mocinha.

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- Bom dia. Por favor, preciso saber notícias de Vicente Heim. Ele deu entrada há poucas horas aqui- quase agarro o braço da secretária para enfatizar meu recado.

Provavelmente minha cara de apavorada deve ter assustado, ela faz uma ligação rápida. Tento segurar as lágrimas. Ele foi baleado senhor. Por favor, esteja tudo bem.

- A senhorita é parente do paciente? – ela questiona.

- Sou namorada.

- Vou pedir autorização aos pais para subir.

- Por favor, me fala como ele está! – choramingo.

- Um minuto senhorita- ela pega o telefone mais uma vez.

- Por favor. Por favor. Por favor- insisto no balcão do hospital.

Ele é maluco. É retardado. Faz tudo de errado. Fala merda. Pensa merda. Mas ele não pode se machucar. Não pode.

- Mayara- seu Antônio apoia a mão em meu ombro e atravesso as barreiras da intimidade e o abraço.

- Como ele ta? Me diz, por favor.

- Ele está sendo operado. Você havia me dito que ele não estava envolvido... – ele me encara desapontado e mais um vácuo sufoca minha respiração.

- Senhor, eu não sabia. Pelo amor de Deus o que aconteceu?

- Vamos subindo- ele me encaminha por um corredor.

- Ele foi baleado no morro da Maré perto da Ilha – ele respira com dificuldade após uma emoção de momento.

-Testemunhas disseram que ele estava acompanhado de um menino chamado Luís e levava cocaína.

Se eu tivesse voltado com ele, conversado sobre tudo nada disso estaria acontecendo. Eu não consigo suportar essa dor que machuca sem ver. Essa angustia dilacerando meu ser.

- Quem é essa garota Antônio? – voz ríspida.

Minhas vistas estão embaçadas por lágrimas e a primeira coisa que vejo são cabelos loiros cintilantes e olhos azuis marcantes. É a mãe do Vicente.

- A namorada- o dono da Heim conclui.

- Namorada do Vicente? – noto seus olhos e eles parecem mais secos do que nunca. Como pode?

- Meu filho não namora- ela diz inclinando o nariz um pouco para cima.

- Isso não importa! Vou pedir notícias aos médicos- o senhor diz encaminhando passos em direção ao centro médico.

Vou atrás dele ansiosa por notícias quando uma mão fria agarra meu braço, olho para trás assustada e o azul daqueles olhos me fita.

- Mocinha, ainda não fomos apresentadas- ela faz menção de largar meu braço e faço questão de puxá-lo com raiva.

- Sou Marisa, mãe do Vicente. Acho que agora a mocinha pode ir para casa. Não precisa fingir isso tudo apenas por alguma bolsa de marca.

- O que? – ela está falando que sou interesseira? Que tudo isso que estou sentindo aqui dentro é fingimento?

Tento lembrar que aquela senhora é mãe do Vicente.

- A senhora entendeu errado. Eu não tenho interesse em nenhum centavo do Vicente. Minha única preocupação é a saúde do seu filho porque o amo- minhas lágrimas caem- Amo muito.

Nenhum traço do seu rosto se comove. É uma armadura de fera que diferente da do seu filho eu não sinto nenhum tipo de afeição.

- Já vi muitas como você, mas madrugar no hospital me surpreendeu. Agora pode ir para casa- ela faz um sinal com a mão indicando a saída.

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