Volto do almoço com Letícia e tem um homem engravatado na porta do nosso quarto.
Isso é no mínimo estranho. A pouco mais de uma hora recebi um e-mail do senhor Antônio praticamente ordenando que eu comparecesse a Joatinga. Um bairro nobre do Rio de Janeiro em que nunca estive antes. Agora o tal do homem diz que veio me buscar.
- Mas hoje é domingo. – argumento.
O moço alto mantém a compostura estilo militar e insiste que está encarregado de me levar para uma reunião. Abro mais uma vez o email oficial da empresa e mostro para Letícia. Ela lê com atenção, mas acaba me dando sinal positivo para ir.
- Querida, não se nega um pedido desse a um chefe. – ela diz.
Ok. Peço para o senhor de terno me esperar na saída e procuro pela roupa mais formal que tenho. Uma saia justa estilo lápis verde e uma camisa social branca. Pego um salto emprestado com Let para realçar minha postura e finalizo com um batom discreto.
- Qualquer coisa me dá um toque ou manda uma mensagem que ligo para 190 na hora. – minha amiga diz ajeitando meu cabelo.
- Desse jeito você me deixa com medo. – estremeço.
- Bobagem. – ela me dá um beijo na testa e empurra minhas costas em direção à porta.
Não deve ser nada, mas o que leva um empresário como ele convocar sua inexperiente estagiária para uma reunião de domingo? Será que ele vai me demitir por causa de Vicente? Por favor, não.
O motorista abre a porta para mim e me sento no banco detrás. Depois disso não trocamos nenhuma palavra a não ser por ele perguntando se necessito alguma coisa. Quem sou eu para precisar de algo? Sou apenas uma pobre universitária.
Afastamos-nos pouco a pouco da zona sul que conheço e adentramos em uma estrada cheia de verde e tendo o mar como paisagem de um lado. Por aqui não tem prédios. Avisto ao longe algumas mansões. A reunião só pode ser numa delas. Aperto meu celular. Qualquer coisa eu ligo para Letícia na hora.
- Chegamos. – o moço abre a porta para mim.
Desço em frente a uma piscina sem fundo em que a água parece encontrar o mar. O deque de madeira cria um conjunto rústico e sofisticado. A casa é repleta de detalhes decorativos e árvores ruborizando o ar moderno do prédio de dois andares branco. Nunca estive em uma mansão como essa. Cada pedacinho transborda riqueza. É uma obra prima desenhada e calculada por um bom arquiteto.
- Você aqui! – ele diz e me tasca um selinho. Recuo e saio do meu transe.
- O que é isso? Cadê o seu pai?
- Por favor. – ele deixa os dois copos sobre uma mesa- Não venha brigar comigo. Quero desfrutar esse lugar com você.
- Foi você quem mandou o email? – ele não responde, mas sei que foi. – Por que isso?
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Ilhas de Ilusões
RomansaMay é natural de Areal, uma pequena cidadela no interior do Rio da Janeiro. Aos dezoito anos, ela consegue aprovação em uma das melhores instituições de arquitetura da capital. Na universidade federal, a garota desbrava um universo contraditório e u...