3- Festas tem surpresas. (REVISADO)

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Mentirosa. Não é uma festa de calouros. Ao contrário, é dos veteranos de engenharia. Pelo menos é isso que está escrito na faixa pendurada em frente à quadra em que ocorre a suposta festa.

Quis voltar para o alojamento, para segurança de quatro paredes, mas estava fora de cogitação ir sozinha. Engoli o nó na garganta. As notícias que víamos na televisão sobre festas, bebidas e meninas vulneráveis nesses locais me gelaram a espinha. Mas eu tinha que superar. Já estávamos aqui.

- Você me disse que era uma festa de calouros- argumentei enquanto aguardávamos na fila para entrar no local.

- Boba, calouros não têm festas, só trotes. Era para você não ficar sozinha nem eu ir sozinha - falou retocando o batom no espelho da bolsa.

- Não sou muita fã de festas- o segurança alto usando óculos escuros a noite pegou a minha mão, conferiu a pulseira que havíamos comprado, e autorizou minha entrada. Esperei que fizesse o mesmo procedimento com Letícia e em seguida atravessamos a porta coberta por um pano preto e avistamos o salão lotado.

As luzes dançantes rodavam por cima das pessoas combinando com o ritmo do som e os corpos em movimentos. A música era alta demais e todos seguravam pelo menos um copo de bebida nas mãos para completar a diversão. Era estranho para mim, até mês passado eu não teria idade suficiente para entrar em um lugar como esse. Agora, estou aqui. E, de certa forma, faço parte desse grupo. Somos universitários.

- Olha- Let gritou no meu ouvido para que eu pudesse escutar. - Você não gostava de festa porque nunca veio comigo. Vamos! - ela pegou na minha mão e entrou sem ressalva no meio da multidão cortando caminho em meio as pessoas. Fiquei um pouco tonta com sua habilidade de desvencilhar de tanta gente enquanto eu tropecei e pisei em vários pés.

Senti-me sufocada e embriagada pelo espaço e a energia daquele lugar. No momento em que estava a ponto de sucumbir sem respiração, Let soltou minha mão e paramos sobre uma bancada de mármore. Tentei controlar minha agitação passando os dedos entre os cabelos e me deparei com milhares de prateleiras de bebidas que pareciam multiplicadas por espelhos que cobriam toda a parede.

- O que você quer? Pode deixar que eu pago- Let abriu a carteira e fez sinal para o barman. Era esse o termo que se utiliza, né? Acho que li isso num livro uma vez.

- Não quero nada nem iria deixar você pagar Let- descansei os cotovelos no balcão e o barman veio até nós.

- Dá para parar de frescura May. Você é muito menina do interior mesmo, um dia eu te levo para minha terra ai sim você vai ver- foi a primeira vez que reparei no seu sotaque nordestino. Acredito que ela tentara anular esse fator cultural porque seria impossível não ter estranhado antes.

- Por favor- ela se dirigiu ao homem atrás do balcão. - Uma batida de limão para mim e uma Skol beats para ela- ele anotou o pedido e saiu.

- Eu falei que não quero nada Letícia- reclamei.

- Você não vai ficar ai chupando dedo. Aliás, vai morrer de sede quando nós formos dançar- ela fez um movimento com o corpo demonstrando o que dizia.

- Sem chance.

Dez minutos depois, eu estava lá. Com a latinha na mão, pela metade- confesso que o sabor me surpreendeu- e exatamente no meio da pista de dança. Mesmo com sacrifício, meus quadris se balançavam de um lado para o outro tentando acompanhar o ritmo da música. Se fosse em minha cidade natal, nem matando que faria isso. No dia seguinte, já seria fachada de a "baladeira de Areal". No entanto, aqui, mesmo morrendo de vergonha do meu jeito desajeitado de dançar, eu continuei. Seria muito pior ficar parada.

Já Letícia se esbaldava, jogava as mãos para ar depois descia contornando seu próprio corpo. Os quadris iam para um lado, empinava a bunda para o outro e descia até o chão.

Em seguida, mexia nos cabelos. E arrumava mais energia para fazer aquilo tudo de novo não sei quantas vezes mais. Perdi a conta dos inúmeros garotos que chegaram nela, mas ela foi rigorosa, eles não eram bonitos. Mas então, enquanto eu me distraía com minha Skol beats na mão, um homem alto, charmoso e com pinta de garanhão a girou pela cintura e ela foi incapaz de se controlar. Engatou num beijo suculento com ele e eu fiquei sem graça de estar parada ali, do lado deles. Virei bruscamente o corpo em busca de espaço, quando um liquido gelado derramou por completo em cima da minha roupa ensopando-me.

Senti o cheiro nojento de álcool subir. Era cerveja, estava ensopada de cerveja. Busquei o rosto responsável por aquilo e o encontrei quinze centímetros acima da minha cabeça. Fiz cara feia. O homem de barba rente à pele e cabelo descontraído sobre a cabeça encarou meu rosto e franziu a testa. Na hora em que pensei que fosse abrir a boca para oferecer algum tipo de ajuda, ele virou as costas para mim e fingiu não ter feito nada.

- Escroto- falei com raiva tentando enxugar minha blusa.

- O que disse?- ele me olhou sobre os ombros ainda segurando a lata de cerveja. Foi para ele ouvir mesmo, falei alto e em bom tom. Quem molha a outra pessoa inteira e nem ao menos pede desculpa? Idiota sem educação.

- Que você é um escroto- rebati, agora, o encarando.

Okay. Senti-me um pouco vulnerável, ele era bem mais alto do que eu. Ao mesmo tempo, minha experiência em brigas era zero. Mas falta de educação eu reconheço, minha mãe me ensinou muito bem em relação a isso. Quando uma pessoa causa qualquer tipo de dano à outra, mesmo que seja sem querer, a primeira deve pedir desculpa e se possível oferecer ajuda.

- Que garota abusada- ele cuspiu as palavras em cima de mim.

- Eu? Olha o que você me fez seu idiota! Estou toda molhada e essa roupa nem é minha- por que eu comentei isso com ele? Ai, que raiva.

- Você é ridícula! Joga seus cabelos em cima da minha cerveja e eu sou culpado por te deixar molhada em todos os sentidos?

Molhada em todos os sentidos? O que ele quis dizer com isso? Ah, não! Não pode ser! Eu vou matar esse cara. Quem ele está pesando que é para falar assim comigo? Apertei os dedos envolta da minha latinha e joguei a cerveja no rosto do cara.

- Ah, sua filha da... - falou enxugando o rosto com os braços.

- Nem ouse falar da minha mãe- o ameacei com indicador no meio da sua cara.

- Agora estamos quites- joguei a latinha vazia em cima dele.

Olhei para trás, a procura de Let, mas ela já havia visto a cena, assim como um grupo de pessoas ao nosso redor.

Estava indo até ela, no momento em que fui impedida por dedos grandes que afundaram na pele do meu braço me fazendo virar de frente ao seu dono.

- Se não estivéssemos no meio desse salão eu te dava um corretivo- era o palhaço da cerveja ainda. Ele puxou a gola da minha blusa bruscamente e enfiou sua lata de cerveja lá dentro. Dei um tapa na sua mão, mas não foi o suficiente para ele recuar. Depois que largou a cerveja no meu peito, revirou-se rápido e sumiu no meio da multidão. Meti a mão no seio, tremendo de ódio, e tirei a latinha gelada do contato com a minha pele. Ai que vontade de me enfiar no meio daquelas pessoas, achar aquele escroto e entornar toda essa cerveja naquele cabelo bagunçado.

- Pensei que você não fosse de brigas Mayara- brincou Letícia, rindo de mim dentro do banheiro.

- Olha o que ele me fez! - apontei para a blusa molhada enquanto tentava secá-la inutilmente com papéis.
- Desculpe também. As roupas são suas, nem sei o que dizer.

- Relaxa. Aposto que aqueles olhos maravilhosos por vários minutos sobre você compensaram o desastre.

- Idiota- joguei papel higiênico em cima dela.

- Preferiria, sinceramente, não ter esbarrado com aquilo.

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Bjss da Gabss

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