"Sempre quis alguém que me ouvisse...
Não as bobagens que eu falo de vez em sempre.
Mas o que a minha alma não sabe dizer.
Que fizesse esforço para captar tudo que não sai da minha boca"
(Clarice Corrêa)Ofélia Santos
O que eu estou achando desse novo Noah? Simplesmente maravilhoso. Eu meio que não tenho o que falar. Ele me surpreendeu muito, e me deixou muito feliz com o carinho e a atenção que teve comigo e com a minha família. Eu já sentia desejo por ele fazia tempo, e depois de descobri esse novo homem, é impossível não amá-lo. Pela segunda vez eu me entrego de cabeça em um relacionamento. A primeira vez foi com o pai do Benjamin, que não deu muito certo, mas eu seria muito ignorante de compará-lo ao Noah. Noah não chega aos pés daquele homem. Não vou carregar uma imagem negativa dos homens só porque eu fiz a burrada de me envolver com um que não presta. Os homens prestam sim. A prova disso é o Sr. Sousa, e o próprio Noah, que estava deitado comigo nesse momento, esperando um esclarecimento. Eu irei desabafar com ele, pois eu realmente quero iniciar um relacionamento ao seu lado, por isso me sinto na obrigação de lhe confessar tudo.-Querido, eu preciso te contar tudo sobre mim. Desde a minha infância até o que aconteceu na Lusitano. Sei que são muitas coisas, mas eu quero um relacionamento de verdade com você, sem mentiras e omissões.
-Tudo bem amor, estou aqui para te ouvir. Pode começar.Respiro fundo, colhendo cada pedacinho das minhas lembranças, até as mais dolorosas, e início a história da minha vida.
-Eu fui a primeira filha da Rosângela, e por incrível que pareça, eu fui planejada. Minha mãe era amigada com o Dênis, meu pai, e viviam juntos na favela, como um casam normal. Decidiram ter filhos, e eu nasci. Tudo foi tranquilo e comum até os meus três anos, que foi quando meu pai foi chamado para jogar em um time de futebol mais famoso, da série B. Devido aos treinos, ele nunca estava em casa, e isso começou a ser motivo de brigas frequentes. Resumindo, ele e minha mãe brigaram e decidiram terminar. Ele manteu contato por um tempo, mas depois desapareceu. A mesma história, ou de maneira ao menos parecida, aconteceu com meus outros irmãos, que foram cada um de um pai diferente. Mas até ai, tudo bem. Rosângela trabalhava, se esforçava para sustentar a casa, e tudo mais. Ela nunca foi muito afetiva, mas como nós estávamos acostumados, isso não fazia tanta falta. Eu cresci meio rebelde, eu diria até esquisita - rio sem graça - eu era a típica emo piriguete da escola. Foi quando conheci Félix, o pai do Benjamin. Eu tinha de vinte, para vinte um anos, e ele tinha vinte e sete. Nos relacionamos algumas vezes, ele era divertido, romântico, falava o que uma mulher queria ouvir, e eu cai na sua. Completamente apaixonada. Até que ele se mostrou quem verdadeiramente era, acabando com o conto de fadas que eu achei estar vivendo. Seu pai, Noah, foi muito importante em minha vida. Se não fosse ele, dar uma oportunidade de emprego para uma grávida perdida, e pagar a minha faculdade, eu não sei o que teria sido de mim e da minha família.
Lembrar de tudo isso me machuca muito. Pois são lembranças que faço de tudo para esquecer.
-Continua querida - Noah ne incentiva.
Respiro fundo, agora vem a pior e mais recente parte. Preciso desabafar logo e tirar esse peso das minhas costas.
-Eu nem imagino quem esteja por trás do crime da Lusitano. Eu só sei que tinha uma reunião marcada com o seu pai, e quando cheguei na sala de reuniões, não era ele que me esperava. Eu me machuquei muito devido à 'delicadeza' dos bandidos. Ao fim, eu não sei bem o que eles queriam, pois em nenhum momento pediram para eu abrir o cofre ou coisas do tipo.
-Esse foi o papel do meu pai. Abrir o cofre - Noah diz com os pensamentos longes - mas e à suspeita de estrupo? - ele sussurra a última palavra.
-O ato não se consumiu - digo baixinho - mas eles arrancaram as minhas roupas, me tocaram, e fizeram eu... Argh! Eles me obrigaram a colocar a boca no... - não consigo terminar a frase e desato à chorar.Noah se senta na cama, me tirando de seu peito, e me puxa para sentar no meio de suas pernas.
-Não chora - ele seca minhas lágrima - já foi, e eu estou com você agora.
-Você ainda vai gostar de mim? Ainda vai querer me beijar? - pergunto sentindo uma dorzinha chata no coração.
-Ofélia, para de pensar bobagens. Eu não queria falar isso tão cedo, mas eu amo você! - ele me abraça forte e beija minha testa.'Eu também amo você', digo em pensamento, sem estar preparada para falar isso em voz alta. Ainda.
Adormeço no colo do Noah, e quando acordo, horas depois, encontro a cama vazia. Pego meu celular no criado mudo ao lado da cama, e vejo que já são nove da manhã. Nossa, eu dormi demais. Levanto-me, me sentindo meio tonta, e resolvo tomar um banho para tirar esse mal estar. Visto uma blusa soltinha na cor branca, e uma calça jeans preta. Caminho pelo corredor da minha casa, matando toda a saudade que senti. Tudo estava muito silencioso, e isso me deixou com uma pulga atrás da orelha.
-Noah? Claiton? Somálian? Naldo? Benjamin? - chamei todo mundo enquanto caminhava pelo corredor do andar de cima.
Todos os quartos estavam vazios, eles só podem estar lá em baixo. Desci e também não encontrei eles. Quando estava ficando louca, Dona Cida, uma senhora simpática que trabalha para mim, aparece.
-Bom dia Lia - diz sorridente - senti sua falta, mas saiba que Noah cuidou muito bem da casa.
-Ah também senti sua falta amada - abracei-a - que bom que Noah se comportou- sorrio - falando nele, cadê a minha família?
-É... Então Lia, você viu a limpeza que fiz nas janelas enquanto estava no hospital? Mas me diga, qual foi a palavra final do médico? - era impressão minha ou Dona Cida estava tentando me distrair?
-Ficou muito boa a limpeza Cidinha, obrigada. E o médico disse que está tudo bem, só não posso abusar da sorte. Mas me diga, onde estão todos eles? - corro os olhos ao redor da casa, sem encontrar respostas.
-Que bom Lia, pensei tinha sido algo mais grave. E esses roxinhos que ficaram espalhados pelo seu corpo, eu tenho um remédio caseiro ótimo para apagar as manchas - sim, ela está mudando de assunto.
-Então depois arruma ele para mim Dona Cida. Agora para de mudar de assunto, e me diz de uma vez onde eles estão - saio à procura da minha família, e quando estou chegando no quintal, na aérea de lazer, Dona Cida grita atrás de mim.
-Ela está indo!Olho para trás e encontro seu sorrisinho amarelo em minha direção.
-O quê vocês estão aprontando? - pergunto ao sair na aérea externa.
Todos estavam lá. Benjamin, Noah, Claiton, Naldo, Somálian, Alemão, Sra. Melissa, Henry e sua mulher, Enzo e sua noiva, Alícia e seu noivo. A piscina estava coberta por pétalas de rosas vermelhas, e no chão, ao redor da piscina, havia algumas velas. Elas não estavam acesas, pois aqui fora estava ventando muito. Todo mundo estavam posicionados de maneira descontraída ao redor da piscina, alguns de pé, outros sentados nas espreguiçadeiras. Somente Noah me encarava sério, eu diria que até que um pouco nervoso. Ele vestia uma camiseta cinza bem clarinha, e uma calça jeans escura. Com as mãos nos bolsos, me olhava ansioso.
-Vem até aqui amor - ele me chama.
Caminho até a sua direção, e aquele monte de gente me olhando, me deixa intensamente nervosa.
-O que vocês estão aprontando? - pergunto mais uma vez.
-Lia, meu amor - ele pega minhas mãos e sorri - faz ideia do porque de estarmos todos reunidos aqui?
-Não faço a menor ideia - sorrio sem graça.
-Deixa eu te explicar então - ele respira fundo, como se estivesse tomando coragem - eu não queria fazer aquele clássico discurso clichê que todos fazem, mas acho necessário, pois quero que você veja, de verdade, o que sinto por ti - olho para todas aquelas pessoas ao nosso redor, e sinto minhas bochechas esquentarem.
-Mas precisava dessa plateia enorme? - pergunto baixinho, somente para ele ouvir.
-Precisava querida. Preciso dizer para todos o quanto você se tornou importante para mim. Não vou explicar como nasceu o meu amor por você, pois acho que nem conseguia dizer. Foi tão derrepente, foi tão intenso, tão único, tão nosso... Desculpa se não me dou bem com as palavras, desculpa se não estou falando tudo que você quer ouvir. É que estou meio nervoso - ele coça a cabeça - eu já falei demais, acho que me empolguei - todos riem - só queria dizer que eu realmente te amo, e amo sua família. Quero ser pai dos seus filhos, e dos futuros que quero ter contigo. Quero ser seu amigo, seu confidente, seu namorado, e seu marido - ele se ajoelha e tira uma caixinha vermelha aveludada do bolso - Lia, meu amor, aceita se casar comigo?
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Filhinho de papai
RomancePLÁGIO É CRIME ! No Código Penal Brasileiro, em vigor, no Título que trata dos Crimes Contra a Propriedade Intelectual, nós nos deparamos com a previsão de crime de violação de direito autoral - artigo 184 - que traz o seguinte teor: Violar direito...