Bônus Rosângela

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Rosângela Santos
Vamos dizer que eu demorei um tempo para encontrar o amor verdadeiro, mas felizmente o cupido demorou mas acertou. Johnseff Reydel é o grande amor da minha vida. Conheci-o em uma das faxinas que eu já tanto fiz em minha vida, ele é um advogado muito conceituado no país, e eu nem consigo acreditar que ele viu algo em mim. Cada vez mais ele pedia que eu faxinasse a casa dele, mesmo sempre estando limpa, até o dia que ele me fez a proposta de fixar-me como empregada dele, e como o salário era alto, e em casa estávamos precisando de dinheiro eu acabei aceitando. Em nossa convivência diária acabamos ficando algumas, quer dizer, várias vezes, até que nosso envolvimento se tornou algo inevitável, e ele me pediu em namoro. Eu estava praticamente morando em sua casa, e cada vez mais estávamos nos envolvendo e nos apaixonando mais. Até que eu descobri que estava grávida, como todas as outras vezes eu fiquei muito feliz, e mesmo com medo do que o John acharia eu lhe contei a notícia. E para a minha total felicidade ele me disse que seu maior sonho era ser pai, então foi o dia mais especial e feliz da minha vida. Saímos para comemorar em um restaurante chiquérrimo, e depois tivemos uma noite fantástica em um motel de luxo. Não ache que sou interesseira, Jonhseff é fantástico, cavalheiro, amoroso, e como brinde para o deixar ainda mais perfeito, ele é rico também. Mas acima de tudo, eu o amo. Depois da descoberta da minha gravidez, ele me pediu em casamento, pois por conta do trabalho estaria se mudando para a Rússia e queria que eu fosse junto, como sua esposa.

-Sim, eu aceito! - grito em empolgação.

John coloca o anel de esmeralda em meu dedo e beija a minha mão.

-Eu amo você Ângela, muito - ele me abraça forte e beija-me.
-Eu também te amo amor.
-Então você aceita ir embora comigo? Mesmo sabendo que os seus três filhos e sua sobrinha irão ficar? - seus olhos são tão profundos que me fazer ver a imensidão desse mundão.
-Sim. Eles são novos, inteligentes, tenho certeza que ainda se saíram bem nessa vida. Eu já lutei muito por eles, agora eles tem que seguir com a vida deles, que eu vou aproveitar a minha.
-Concordo com você minha linda. Eu, você, nosso bebê tornaremos-nos uma família linda e seremos muito feliz - ele me abraça ainda mais forte.
-Eu sei meu amor - beijo o cantinho da sua boca e solto um gemido de empolgação.

No dia seguinte combinamos de ir na favela pegar minhas coisas, mesmo John me confirmando de que eu não precisaria de nada daquilo, pois ele me daria todas as roupas de qualquer boutique de luxo que eu quisesse, mas acima de tudo eu queria deixar uma explicação para meus filhos. Eu não sou uma mãe ruim, eu pelo menos não me acho. Pelo contrário, já lavei tanto banheiro para sustentar eles.

-Nossa senhora! Que lugar horrível - John diz olhando as ruas da favela - como você vivia aqui?
-Melhor aqui do que debaixo da ponte, né amor?! - aconchego-me em seus braços no banco de trás enquanto seu motorista nos leva até a minha casa.
-Agora você terá tudo do bom e do melhor minha linda - ele beija minha testa e fica fazendo carinho em meus cabelos que agora estavam como de uma verdadeira diva, graças à uma tarde maravilhosa que eu passei em um salão de luxo da zona sul.

Paramos em frente ao barraco que morei por tantos anos, e me sinto aliviada por sair daqui. Existiram momentos em que eu pensei que nunca teria a oportunidade de ser feliz, mas felizmente chegou a minha vez, e eu não vou deixar ela passar por nada desse mundo.

-Vai rápido por favor, estou com medo de morrer nesse lugar - John reclama fazendo uma careta de desgosto e eu não resisto à uma risada.
-Já venho - dou um selinho nele e desço do carro.

Entro em casa e dou graças à Deus por ela estar vazia. Pego algumas roupas mais arrumadinhas, algumas coisas que eu tinha ganhado de presente do John, e todo o dinheiro que eu tenho guardado. O restante das roupas velhas e surradas eu largo por lá mesmo, não preciso mais delas. Logo que chegarmos na Rússia vou fazer compras e montar um guarda roupa como os das famosas. Jogo tudo em uma mala velha de qualquer jeito, pois sei que terei muitas empregadas para me servir. Olha que ironia da vida, né?! De tanto que já servi os outros, agora vou ser servida. Pego um papel e uma caneta e rabisco uma carta rapidamente. Não quero sumir sem mais nem menos, vai que eles resolvem ir atrás de mim? Deus que me livre!

"Há um tempo, eu mantenho uma relação com um homem muito especial. Um dia fui arrumar sua casa, nos conhecemos, e não nos desgrudamos mais. E há alguns dias, eu descobri que estava grávida, contei para o meu namorado, e ele me revelou que estava sendo tranferiso para Rússia por conta do trabalho. Ele pediu que eu fosse morar com ele, pois não queria ficar longe da minha gestação e do bebê. Eu aceitei. Aceitei porque quero uma vida ao menos digna para esse serzinho que está sendo gerado em mim. Desculpa por não poder levar vocês. Sei que um dia vão me entender, vocês tem a vida inteira pela frente, vão conseguir se dar muito bem.
Tchau".

Sem demonstrações de afeto, primeiro porque eu nunca fui muito sentimental, e segundo para não deixar as coisas ainda mais difíceis do que já estão. Respiro fundo, contente e aliviada por me livar daquele lugar horroroso. Só que para o meu total desespero, assim que estou saindo de casa vejo Ofélia puxando o meu braço para que a veja, e me observa curiosa.

-Ofélia... - sussurro um tanto decepcionada.
-A própria. Onde a senhora vai com essa mala? - ela sempre foi a mais abusada. Olha como fala comigo?!

Antes que eu precise responder algo, jogo-me dentro do carro, mas a garota insiste em me impedir de ir embora. Seus olhos se encontram com os meus, e eu sinto pena por deixá-la. Vejo meu netinho, o Ben, o quanto de dificuldades que eles passaram e ainda terão que passar. Eu até poderia levar ele comigo, para ter uma boa vida também, só que assim que eu não teria sossêgo mesmo, pois a Ofélia é louca por esse menino, e iria até no inferno atrás dele.

-Desculpa - digo baixinho, com pena dela, do Ben, do Claiton, do Reinaldo, e da Somálian, que tratei por tantos anos como minha filha do coração.
-Vamos sair desse lugar logo Alfred! - John grita ao motorista ao perceber que a coisa ficou feia.

Alfred arranca o carro em alta velocidade e com a minha porta ainda aberta, que eu só consigo fechar depois. Os braços de John me envolve e me trás um conforto sem igual. O pequeno nó que se formou em minha garganta ao ter que se despedir desse jeito se desfaz, e eu me despeço daquela favela com uma felicidade inenarrável.

Filhinho de papaiOnde histórias criam vida. Descubra agora