XI Capítulo

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Ofélia Santos
Passar um mês em casa em repouso total foi quase impossível. Eu não nasci para isso. Quando as dores nas costelas diminuíram ao menos um pouco, eu já comecei a arrumar a casa, e descer com a Somálian para praia para vender as coisas. Meu neném está cada vez mais terrível, ontem, quando cheguei da praia, ele correu em minha direção, segurou meu rosto com as duas mãozinhas miúdas, e disse:

-Ti amo mamã.
-Oh meu amor - peguei-o em meu colo - a mamãe te ama muito mais.

Aqui em casa as coisas estão andando muito tranquilamente, o que me dá um certo desespero. Quando tudo vai bem demais é porque em breve algo ruim vai acontecer. É sempre assim. E o pior de tudo é que aqui, não acontece uma coisa ruim por vez, quando acontece é uma desgraça coletiva, um monte de coisas ruins de uma vez só. Naldo, continua trabalhando tranquilamente pela manhã, e fazendo o ensino médio a tarde. Somálian passa o dia na praia, vendendo suas coisas, e pela noite faz seus doces e lanches para vender no dia seguinte. Claiton, meu irmão mais novo e usuário, continua nessa vida, mas nesses últimos dias ele está mais tranquilo, indo para escola e até lavando a louça do almoço para me ajudar. Já minha mãe, não para em casa. Diz que está sempre fazendo uma faxina em alguma casa diferente, mas também nunca trás dinheiro, não sei o que anda acontecendo com ela.

Hoje, eu não fui vender as coisas na praia com a Má, pois eu estava com muitas dores nas costelas, então fiquei de repouso. Acho que os esforços que fiz nos últimos dias pioraram o meu estado, mal consigo levantar da cama sozinha, de tanta dor. É de tarde e o Naldo ainda não chegou para buscar o Ben na escola, e como eu nem consigo levantar, nem tentei ir sozinha. Somálian esta na praia, e minha mãe esta fazendo suas faxinas por aí. Escuto a porta da sala de abrir, e do quarto grito, para quem quer que fosse, me ajudasse a levantar.

-Estou apertada para ir no banheiro - comento logo que Claiton entra no quarto.
-Deixa que eu te ajudo.

Claiton com as mãos em minha cintura me ajuda a levantar, eu solto um gemido de dor, mas caminha devagarinho até o banheiro. Faço minhas necessidades e volto para o quarto. Sem que perceba a minha presença, flagro Claiton mexendo em minha bolsa.

-Por momento eu pensei que você tinha decido mudar, sair dessa vida... - comento com total desgosto.

Ele olha para mim surpreso e decepcionado com mesmo tempo. E então ele ergue o meu celular que estava tocando, entrega em minhas mãos e vira as costas para sair do quarto.

-Eu só fui atender seu celular que estava tocando. Que bom saber que você confia em mim - diz amargurado sem ao menos olhar para trás e sai do quarto.
-Como se você nunca tivesse traído minha confiança, né? Não é porque você mudou por uma semana que você reconquistou a minha confiança Claiton - jogo meu celular tocando na cama e caminho furiosamente atrás dele que está sentado no sofá da sala.
-Vai me dar sermão agora? - questiona incrédulo.
-Vou fazer o papel que a mãe nunca fez. Você é uma criança, um pirralho! Só tem 13 anos, 13 anos, e já faz uma palhaçada dessas. Quem você acha que é, hein? Vai estudar meu filho, vai querer ser alguém na vida. Ou você quer viver messe barraco para o resto da vida?
-Eu quero mudar - ele me olha chorando - estou tentando... Mas não consigo. Hoje faz quatro dias que estou sem fumar, mas isso me dói tanto... Os meninos na escola estão sempre fumando e eu tento fugir para não ver e não querer fazer igual.

Me sinto tão mal por não saber como ajudá-lo, talvez um pouco de carinho e atenção resolva. Abraço Claiton bem forte, lembro dele bebezinho, não que algum dia ele tenha deixado de ser um.

-Eu vou tentar de ajudar, eu prometo.

Claiton chora ainda mais alto e me abraça tão forte que chega a doer.

Filhinho de papaiOnde histórias criam vida. Descubra agora