Bônus - Má e Alê

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"Porque tudo de mim ama tudo em você. Ama suas curvas e todos os seus limites, todas as suas perfeitas imperfeições. Dê tudo de você para mim, eu te darei meu tudo. Você é o meu fim e meu começo, mesmo quando perco estou ganhando, porque te dou tudo de mim, e você me dá tudo de você".

(All Of Me - John Legend)


Somálian

Pego a máximo que consigo de roupas que caibam na minha mala, e deixo algumas peças que não consegui levar. Saio da minha agora, antiga casa, e vou em direção ao meu novo bairro. Nada comparado ao bairro de luxo que morava, muito pelo contrário, são pessoas muito carentes que lutaram o muito pelo que têm. Quando desço do táxi, ligo para que o Alemão venha me ajudar com as malas, já que o nosso prédio não tem elevador. Minutos depois o meu lindo homem aparece, com uma bermuda, regata, chinelos, e o cabelo úmido do banho tomada à pouco.

-Oi neném - ele me beija e pega as minhas malas.

-Oi Alê, conseguiu fazer a nossa janta?

-Eu tentei, acho que não ficou aquelas coisas, mas vai servir para hoje.

Rio descontraída, e abro o portão para que ele entre. Felizmente, moramos no terceiro andar, então não há tantas escadas. Entro em nosso apartamento, apelidado carinhosamente por mim como apertamento, e eu sinto um delicioso cheiro de lasanha. Largo as minhas coisas no chão da sala mesmo, pois ainda nem temos sofá, e vou até o nosso forninho apreciar a travessa coberta por queijo derretido.

-Hmm amor, acho que ficou bom hein...

-Vamos comer? Eu estou faminto, só estava te esperando.

-Vamos!

Nos servimos e sentamos na nossa cama, é, mesa é uma outra coisa que está na nossa lista de compras. Comemos conversando, e rindo em grande parte das vezes, trocamos algumas carícias, e quando acabamos a refeição, Alê lavou a louça para que eu pudesse tomar banho. Quando saí do banho, ele já estava deitado me esperando, deito-me ao seu lado, e ele enlaça a minha cintura com os seus braços musculosos.

-Adorei a janta amor, muito obrigada - beijo o seu peito nu.

-Não foi nada. Como foi lá na sua casa?

-Na minha antiga casa né?! Porque a minha casa é essa aqui - digo sorrindo e ele retribui.

-É. Você já contou para alguém?

-Para a Lia, não vi o Noah ainda.

-Acho que quando ele souber, vai surtar - Alê faz uma careta.

-É, talvez. Mas ele não vai me impedir de correr atrás da minha felicidade.

-Ufa, que bom. Só faltava você me abandonar.

-Nunca, não depois de tudo que você fez por mim.

-O que eu fiz neném? A única pessoa que fez algo bom uma para outra nesse relacionamento foi você! Você me tirou do mundo do crime, me tirou da solidão, me fez querer ser alguém decente o menos uma vez na vida. Eu serei eternamente grato a ti por isso - beija a minha cabeça.

-Alê, mas porque você se envolveu em todo aquela sujeirada? Morar na favela não é motivo suficiente, eu também morava e nem por isso entrei nesses caminhos.

-Ah, é complicado. Não tem um motivo que justifique nada do que eu fiz, eu meio que estava cansado de tudo, e queria uma vida fácil.

-Mas e os seus pais? Nunca tentaram te impedir?

-Eu nasci em um orfanato na verdade, nunca os conheci. Quando eu saí de lá, eu fui morar na rua. Passei fome, frio, apanhei de PM, comi o pão que o diabo amassou. Quando uns drogadinhos me ofereceram droga para vender eu somente aceitei, e uma coisa foi levando a outra. Comecei a ganhar dinheiro, ganhar o meu espaço no mundo do crime, e quando eu dei por mim, já estava envolvido até o pescoço, e já não tinha mais volta.

-Ainda bem que tudo se ajeitou no final - beijo o seu queixo - quero você comigo, para sempre, mas não quero um criminoso.

-Eu sabia que mais cedo o mais tarde eu sairia dessa vida. Eu nunca suportaria chegar em casa, ver a minha mulher e meus filhos, e agir como se eu fosse o melhor homem do mundo. Pode não parecer, mas a consciência de bandido também pesa.

-Imagino mesmo. Mas nada de pensar em filhos ainda, nossa situação ainda é muito instável. Eu ainda me pergunto como eu fui louca de de alugar um apartamento conosco ganhando uma miséria.

-Mas nós vamos sobreviver, eu sei que vamos. Sei que o trabalho no posto de gasolina não dá muito dinheiro, mas até o fim do ano eu vou tentar entrar para polícia.

-O QUÊ? - grito surpresa - meu homem policial?

-Porque, não gostou da ideia? É o meu sonho desde de muleque.

-Eu amei amor, quer dizer mais ou menos - abraço o seu quadril.

-Você me chamou de que? - ele ergue a cabeça para olhar em meus olhos.

-Amor. Meu amor - beijo seus lábios.

-Eu vou morrer de tanto amor neném! Você só me chamava de Alê, que eu nunca sabia de era Alê de Alemão, ou Alê de Alexandre.

-Sabia que eu nunca me lembro que o seu nome é Alexandre? Para mim você sempre será o Alemão.

-Você quis dizer amor, né? Eu sempre vou ser o seu amor.

-Exatamente!

Alê trocou as nossas posições, e em segundos ele estava sobre mim. Nossos beijos esquentavam cada vez mais, e quando eu me dei conta, meu pijama já estava do outro lado do quarto. Nosso ritmo era frenético, o desejo exalava dos nossos poros, e faltava pouco, muito pouco, para gozarmos sem nem ainda ter ocorrido penetração. Alê pegou uma camisinha, não sei da onde, e alisou a minha entrada antes de me invadir lentamente.

-Eu não tenho mais dúvidas de que eu te amo - sussurrou em meu ouvido.

A cada estocada, Alê recitava uma frase no pé do meu ouvido.

-Muito obrigado por aparecer e me arrancar da solidão. Você foi a primeira pessoa que se importou comigo. A primeira que me amou de verdade. Sempre te amarei mais a cada nascer do dia. Te amarei por dias, horas, meses, anos. Te amarei nos dias chuvosos. Te amarei ainda mais nas horas de tristeza. Te amarei em todas as estações. Te amarei por tudo, ou apesar de tudo. Te amarei com todo o meu coração. Para sempre.

Filhinho de papaiOnde histórias criam vida. Descubra agora