IV Capítulo

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Ofélia Santos
Não gostei nada de saber que teria que trabalhar com o Noah. O garoto é o maior filhinho de papai, super metido, acha que o mundo gira ao seu redor. Preciso lembrá-lo que o mundo não é uma mosca para ficar girando em torno de uma merda. Tudo bem, eu peguei pesado. Mas o que eu posso fazer se o Noah é o cara mais insuportável que eu conheci em toda a minha vida?! Confesso que surpreendi-me com o nosso primeiro dia de trabalho, foi super produtivo, e apesar de ter saído tarde da Lusitano, eu fui embora tranquila, com aquela sensação de dever cumprido. Mas minha paz não durou por muito tempo. Ao começar a subir as escadarias da favela eu notei uma movimentação um tanto estranha, ainda mais por ser quase meia noite. Subi as pressas, preocupada ao pensar que aconteceu algo grave, e me assusto ainda mais ao ver as luzes da minha casa acessa. Entro em casa já desesperada, e vejo minha mãe, o Naldo e a Somálian me esperando.

-Cadê meu filho? - pergunto logo de cara, sem ao menos cumprimentá-los.
-Não falei? Isso ainda vai dar muita briga. Ela é louca pelo filho - meu irmão Claiton entra na sala.

Vejo que Claiton, que parece estar sóbrio, sentar-se no sofá ao lado de minha mãe.

-O que aconteceu? - cada instante fico mais desesperada.
-O Benjamin está no quarto - Naldo me acalma e eu solto um suspiro fundo.
-Então porque todo esse drama? O que vocês estão fazendo acordados até essa hora? - jogo minha bolsa no sofá mais pego-a rapidamente. Não é porque o Claiton está sóbrio que ele não possa me roubar. Dinheiro eu não tenho, mas meu único cartão de crédito fica na minha carteira para uma possível emergência.
-Tivemos um problema hoje na escolhinha do Ben. Houve algum descuido com o preparo da comida, e algumas crianças passaram mal - explica minha mãe.
-E o Ben está entre essas crianças?
-Sim. Ele teve uma intoxicação alimentar. Levamos ele no postinho aqui do bairro.
-Oh! - exclamo preocupada.

Entro no quarto e pego meu bebê que estava acordado brincando com a chupeta. Abraço seu corpinho frágil e chego cada pedacinho do seu corpo. Tá, eu sei que foi uma intoxicação alimentar, mas o que eu posso fazer com as minhas paranóias de mãe?

-Meu bebê ficou dodói foi? - encho seu rosto de beijos e ele gargalha alto.
-Mãmãmã - balbucia sorridente.

Sento-me no meu colchão com Ben no colo, e fico com ele, dando carinho e atenção. Queria tanto poder passar mais tempo com o meu filho! No começo fiquei com raiva de ninguém ter me ligado avisando, mas eu nem tenho direito de reclamar pois minha mãe faz muito por mim. Ben adormece novamente em meu colo, e eu o coloco no carrinho. Tenho que tomar um banho logo e ir domir, pois amanhã acordo cedo novamente. Antes que eu me deite, minha mãe me trás uma sacolinha.

-Este é o remédio que o Benjamin precisa tomar. Comprei um genérico pois era mais barato - pego a sacolinha da sua mão e dentro dela encontro o remédio e uma nota fiscal.
-Puta merda, tudo isso? - questiono incrédula ao olhar o valor.
-Desculpa filha, mas o médico disse que sem esse remédio, ele não vai melhorar. E amanhã ele precisa ir ao médico cedo, ver se está melhor. Será que você poderia entrar mais tarde para levá-lo? Tenho uma faxina marcada, e não posso furar.
-Tudo bem mãe, eu dou um jeito.

Agradeço a minha mãe e vou dormir. Depois eu penso em um jeito de pagar esse remédio. Se tem uma coisa que eu sei é me virar. Mas minha noite não foi como eu esperava. Ben vomitou duas vezes, e chorou boa parte da noite. Acabou que eu passei praticamente a noite toda em claro. Pela manhã eu estava um caco em pessoa, acabou ajuntando a preocupação com o Ben, com o trabalho que teria que faltar, e ainda o mal humor pela noite não dormida. Era um dos típicos dias que eu 'acordava com a macaca'. Liguei para o senhor Sousa, que como sempre foi genoroso e compreendeu o motivo da falta. Disse que era para eu ficar despreocupada, pois nada seria descontado do meu salário. Peguei Ben que não dormiu nada essa noite , coloquei a primeira roupa que encontrei, e fui na escolhinha do Ben.

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