Capítulo 1

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Eu podia ser que nem o Arthur, ágil com as palavras. Podia ser que nem a Júlia, dedicada em demostrar independência intelectual. Ser que nem o Thiago, pela idolatria exacerbada ao seu estilo charmoso. Que nem a Carla, líder do Clube do Círculo. Além do Matias, aclamado pelo corpo e rosto perfeito. Ou mesmo a Thamiris, antenada às novidades midiáticas para formar opiniões. Podia ser que nem o Danilo, introspectivo e respeitado por todos da sala. Ser que nem a Thaís, empoderada e segura de si. Que nem os primos Alisson e Adônis, vozes que chamam atenção. Além da Beatriz, um farol que todos admiram ou detestam. Ou mesmo ser igual ao Bernardo, vocalista da Desnaturados, a banda de Pop Rock mais relevante em Delfim Santos por criarem as próprias músicas.

Não é exagero visualizar que já tentei ser todos eles.

Para que sejamos destacáveis no Ensino Médio, nós excludentes, teríamos que fazer parte da popularidade. Nosso nome teria que estar na boca das pessoas e, definitivamente, por algo bom em suas perspectivas. Nas perspectivas que dão aval protetivo para as mazelas depreciativas que tangem os tratamentos concebidos aos excluídos.

Os adjetivos comportamentais estereotipados para adolescentes são os mais fáceis de copiar, e os mais difíceis de alicercear às diversas personalidades em construção. No Primeiro Ano Letivo, tomei essa decisão: "Daniel, basta observar ao redor, escolha em qual destes grupos você mais se identifica e vai na fé." Só que isso não partiu de mim. Os irmãos Denis charlatão e David impostor não pertenciam a nenhum grupo, sequer eram bem quistos; foram conhecidos por verem a certeira oportunidade — um alvo fácil — para plantarem suas visões de toda gente. Era o terceiro mês de aula aqui em Delfim Santos, quando eu estava nos corredores apreciando os projetos artísticos impressionistas da turma do Terceiro Ano, Denis chegou sorrateiramente na minha orelha, me fazendo assustar, para falar que me espreitava, e claro, explicar sobre essa tal escolha de grupo. Não foi inusitado, foi assustador. Mas com o passar do tempo, descobri que seus pensamentos faziam sentido, e eu fiquei investido como se precisasse de conselhos para que, talvez, a convivência na nova escola pudesse ser mais satisfatória. Uma pena que se limitavam à esta noção analítica dos hábitos alheios, o que automaticamente me tornava parte daquilo que chamavam de OMC's (Os Malucos da Conspiração). Meu afastamento não foi imediato, só que dado o acontecido, eles pareciam não se importar. Mesmo isolados, nunca os vi como vítimas quanto àquele ocorrido no fim daquele ano. Me impressiono até hoje por suas expulsões devido agressão a alguém no banheiro; afetar o rosto perfeito de Arthur deve ter sido fácil, mas não para eles. Não soube do grave porquê.

Suas cadeiras acopladas nas respectivas carteiras, ao fundo da sala, não foram substituídas, nem suas personalidades.

No Segundo Ano Letivo, estava feliz e disposto a explorar os horizontes plurais e convidativos. Minha mãe havia conseguido trabalhar na loja de artesanatos que meu pai associa, meu irmão cada vez mais ciente e prestativo me ajudou a criar as primeiras esculturas para compor os variáveis utensílios da loja, e eu estava descobrindo de vez a paixão pela arte. Bem, e se eu encontrasse alguém que admirasse estes anseios comigo? A busca por amizades havia começado.

Os adolescentes não são criaturas que devem ser temidas, são fases humanas que devem ser retoricamente sociáveis e aproveitadas. Tinha que dar uma chance para eu reverter o antissocialismo que abafara as reais intenções idiossincráticas. Eis que no primeiro dia, me deparo com um garoto de cachos loiros, chamando a atenção de algumas pessoas com uma estampada euforia. Ele me cativou por uma peculiaridade: estava colando alguns cartazes no mural principal de entrada, com frases convidativas e positivas pintadas à mão com uma destreza impecável na elaboração do estilo de aquarela para cada palavra. Tive que falar com ele, que revelou a frustração incoerente de não ser relevante para cenário artístico relativas às opiniões negativas recebidas. Por que surgia em mim empatia por aqueles que têm problemas internos, mas que tentavam não admiti-los? Não entendo ainda hoje ao que se devia as inesperadas aproximações naturais no que se revelam doses de desapoio moral. Ora, Theo nunca esteve desmotivado ou apático, suas vibrações sensoriais eram inspiradoras e ainda são, ele tem objetivos claros para onde quer chegar. Consequentemente, sua delicadeza subversiva com as relações pessoais passaram de esquisitas à toleráveis.

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora