Capítulo 5

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Começa a chover fraco. Outros trovões soam. Nada muda meu estado psicológico degradante e inconsciente para audaz e parcimonioso. Reajo aos seus comandos. Não consigo me vislumbrar sozinho fazendo o que estou fazendo. Simplesmente prestes a abrir a janela acima de nós. Sempre sussurrando, me conta o status. Sara nota que só há apenas um feixe de luz proveniente da sala de jantar. A água dos céus se misturam ao suor que escorre no meu rosto pela franja molhada que se formara na testa. Escutamos passos, vindos da sala pelo o que disse. Logo, ela agacha num suspiro. Conectamos nossos profundos olhares assustados. Sara encosta o dedo indicador, outra vez, nos meus lábios. Respiro. Um som oco surge dum objeto que cai. Pisadas e resmungos pesados. Está se afastando. Pode ser a chance. Não aguento mais esperar.

- Está irritado. - ela fala entre piscadas de tensão.

- Tem que ser agora.

- Sim... Sim! - me ajude a empurrar essa janela.

O nó na garganta que quase impede o ar de sair, retorna. Sara começa a empurrar com destreza os vidros para um lado, e eu para o outro. Devagar. Calmamente. Como a casa é composta por madeira envelhecida, escutamos mais pisadas. Vêm em nossa direção, sem devaneios.

- Mudemos o plano inicial. - sussurra Sara. Oh não. - Está vendo aquela parede, que ao fundo está tudo escuro?

Confirmo ansioso com a cabeça.

- Vá até lá, depois adentre pelo acesso ao quarto. É aonde Thomas pode estar.

Mesmo bastante apreensiva, tenta se controlar. Eu também. Ver aqueles olhos, castanhos e cintilantes à chuva, à noite, cheios de esperança, encoraja e reconforta. Ela confia em mim. Admito a obtenção da responsabilidade em garantir reciprocidade. Estamos juntos numa triste situação em busca de um caminho sem perspectivas de sucesso. Somos completamente diferentes, um tanto quanto partes que carecem de união. É hora de agir.

Subo na janela, forçando os braços para erguer o corpo. Alguns outros ruídos de louça e talheres ecoa de onde ele estava. Quase colocando o outro pé para me equilibrar, paro instantaneamente. Um vulto passa pela porta de acesso à cozinha. Por um segundo não caio para trás. Contrariando a isso, piso com o pé direito no chão deste imundo ambiente. Há um desagradável odor de azedo e óleo queimado, que devem vir daquelas frutas podres no canto do armário e caídas no chão próximo a um balde de lixo improvisado. Panelas, pratos, caixas de cereais, caçarolas sujos estão por todo o lugar. A cada pisada que dou, uma madeira range. Sucedo à parede atrás da porta e permaneço encostado na escuridão. Além da luminosidade amarelada da rua, me localizo pela luz vida da sala. Comprimo os olhos constantemente numa tentativa de abafar o nervosismo.

Sara olha para mim, através da janela aberta, sacudindo a mão que segura algumas pedras arredondadas. Com o semblante, ainda preocupado, se afasta. Não... Não joga no vidro! NÃO JOGA NO VIDRO! Ela arremessa, e um pedaço é quebrado, caindo estilhaçado. Soa praticamente estrondoso. A pedra quica. O caminhar dele, agora, é veloz.

- "Vai, entra!" - leio os movimentos da sua boca. Ela se abaixa, talvez antes que o pai, bem ao meu lado, a veja.

Somente a porta nos separa. Abro bem os meus olhos. O que eu faço? Ele fala algo indiscernível com a voz grave, andando devagar até os destroços. E se... Dou passos leves, supondo pisar em algodões. Imponho fé. Saio de trás da porta, atravesso a maçaneta pegajosa. Ele procura o culpado com a cabeça lá fora. O que me deixa surpreso, é o que faz em sequência pulando para fora. É a minha chance! Sara sabia que faria isso. Quando sai do meu campo visual, sigo em passos largos e continuamente leves na direção do quarto. Transfiro atenção a tudo. Continuo com as mãos nas paredes não encontrando interruptor algum. ALI! Ao fundo. Thomas está ali. Nesses instantes de proximidade, consigo ouvir a voz de Sara. Parece esbravejar alguns pedidos e além de desculpar. Não tenho certeza. Perante à maçaneta, ofego. Giro com exímio impulso, mas não abre. Aquele sórdido trancou a porta. Os dois acabam de entrar na residência. Sara grita com ele, pedindo para que pare. Se mexe, Daniel! Não, não vá, esconda-se! Daniel, a ajude. Mais dúvidas. Como lidar? Me induzo a insistir numa crença concebida pelos meus pais: as representações das nossas intensas dúvidas, se dão aos nossos próprios fantasmas. Só venceremos quando decidirmos quaisquer sejam os lados desse conflito na atitude de jamais estagnar.

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora