Capítulo 2

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Acordo neste mórbido sábado. Ou melhor, há apenas vinte por cento de lucidez aqui. Meu rosto permanece enterrado no travesseiro, bem como meu corpo afundado na cama. Não sei como, mas sinto que já passou do meio dia. Tenho que levantar!

Forço os braços para erguer o corpo. Inevitavelmente, retorno para a mesma posição, só que, com o rosto virado para o criado-mudo, avistando meu aparelho celular que vibra no mesmo instante. Tento três vezes alcançar o não tão distante para alguém disposto. Ao tê-lo, já são mostradas as mensagens de Theo na tela acesa. Na festa ele estava vibrante, tanto pela aparência — trajando chamativas cores primárias nas roupas lisas — quanto pelo excesso de deslumbramento ocasional.

Abro a aplicação.

12:35 | Theo: É claro que vai achar estranho, mas JESUS!, o que foi aquilo ontem?!

12:35 | Theo: Estou impressionado até agora.

12:35 | Theo: Inesperada!

12:35 | Theo: O que você achou? Vi que conheceu alguém. Quem era?

12:37 | Theo: Nunca te vi daquela forma... Cantou. Dançou. Quase ganhou de mim. E não queria te expor nada disso, mas notei que ganhou pontos com a "galera".

É muita informação para absorver agora. O que afirmar? O ânimo é tamanho que estou quase voltando a dormir.

12:38 | Eu: Sim, Theo. Foi muito divertido.

Ele não demora para responder.

12:38 | Theo: Onde estão as exclamações, Dan?? Está desanimado?

12:38 | Eu: !!!!!

Depois, apago a tela. Não por ele, e sim, por mim.

Nem conseguiria sequer falar agora.

Soa como uma mistura de exaustão, descoordenação motora e prazer pela posição confortável. Minha consciência quer que eu levante, só que o imã não permite. Estou num processo de paixão magnética que não me desprende destes lençóis.

Vamos lá, Daniel. Daniel Sullivan! Foco.

Certo, já notei que estou entrando numa viagem paranoica.

Alguém me ajuda?

Espera, que sons são esses? Pequenas batidas rápidas. Batidas vindas da escada? Sim... E agora está no corredor. E agora entra no meu quarto. Qual a novidade de eu ser desperto por algo nada sutil?

— Vamos, vamos, Daniel! Levante! — grita Thomas sob minhas costas — Tenho uma SUPER novidade!

— Thomas Sullivan, por favor! Me deixa quieto. — começo a falar. Ele faz o que peço.

— Não vai querer ouvir?

Acaba me deixando curioso com uma esquisita entonação persuasiva para uma criança de seis anos. Me descubro e devagar me sento perante a ele. Seu pijama comprido amarelo-claro com ilustrações por traçados de Kung Fu Panda e os cabelos castanhos penteados para trás o fazem ser fofo demais.

— Sou todo ouvidos.

Antes, se posiciona em cima dos próprios pés olhando fixo para mim.

— Nós vamos pra casa da Vó Bette e do Vô Roberto. — como o repreendi, ele acaba contendo o entusiasmo. Thomas talvez não recorde das idas para lá e que não eram seus passeios preferidos. Chorava algumas vezes antes de irmos juntos, ainda que estar na presença da Vó Bette soava encantador. — O que foi? Isso não é legal?

— Não é isso. — Provavelmente nossa mãe o pediu para me convencer a ir. Apesar disso ser minha culpa, estou disposto a amenizar o possível; principalmente essa dor atrás dos olhos. — Quando sairemos?

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora