Capítulo 17

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Tenho espasmos de culpa. Meio aos conscientes efeitos incisivos da brutalidade desses acontecimentos, lembro do tornado. O tornado daquele pesadelo. Ao chegar aqui, tido como uma analogia simplificada, os fatos estão sendo astuciosos, tais quais os tornados, destruindo sem intenções o que há no caminho. A natureza que o criou, faz tornar o impacto inevitável. Agora, meus anseios se mesclam sob uma coesão indecifrável. Tudo já fora destruído (ou tudo o que eu espero que já tenha sido destruído). Só que esse tornado ainda não cessou.

Os olhos dele, grandes e castanhos, apagam suas expressões. Não consigo tê-lo aqui comigo. Soa o mesmo que o rompimento de uma represa por um motivo ilógico. Advertindo a esse pensamento, já não tenho mais uma gota de lágrima a escorrer. Ajoelho perante a cama, em seguida, passo meus dedos por entre seus cabelos.

- Por que está assim?

Enquanto Sara responde, abano minha cabeça em descontentamento.

- Daniel, ele... - ela fala baixo. - Ele não queria que Thomas pudesse interromper...

A repreendo de imediato com outra pergunta: - O que ele deu para o meu irmão? - agora me viro, e olho para cima. Ela parece não querer demonstrar em palavras o que sente, mas sucinta:

- Uma dose do mesmo líquido paralisante que apliquei nele, só que... Reduzida.

- Paralisante? Mas ele é só uma criança. - aponto para sua Avó. - E ela disse que...

De repente, Sara agacha, junto a mim numa conexão direta, pega minha mão direita com suas duas. Esse proceder me hipnotiza. Quer me dizer algo urgente.

- Escuta, a bala foi de borracha e oca, contendo o composto. Em você, o soro poderia o ter enfraquecido, esse era o objetivo principal para te trazer aqui. Mas em Thomas, ele não tinha certeza quais efeitos causaria, até perceber que a bala perfurou a pele dele e, por sorte, não os órgãos. - ela fala com rapidez e propriedade. - A pomada de ervas e suco de Bepentol foi de extrema ajuda, mas não teve um resultado cicatrizante...

- Espera, espera, espera! - tiro minha mão junto das suas. - Como sabe tudo isso? Você estava o tempo todo comigo.

- Se lembra de ontem? A noite que você dormiu na casa da dona Bette? Então, me encontrei com ele e trocamos as... Informações. - ela abaixa o olhar à procura de melhores razões. - Não quero que tu me ache uma completa mentirosa, ou má. Eu não sou assim... - me levanto a interrompendo. Não sei o que pensar para amenizar a angústia que passo a alimentar. Por ela confirmar que traiu nossa mútua confiabilidade, me trazendo para este lugar, ou por ele ter dito que ela nunca me esqueceu, sendo eu como um álibi para sua própria liberdade. Não sei. Não sei. Confusão. Tornado. - Daniel, não precisa me perdoar. Pode me tirar do foco. Ir embora. Só não podia o deixar fazer aquilo com você. Olha para mim. - ela endireita minha cabeça para nos unirmos. - Só quero vocês bem, longe disso, de todas essas situações... Ainda tenho que te dizer tantas e tantas coisas, mas agora, Thomas precisa de você mais do que qualquer outra pessoa no mundo.

Imediatamente, o start é acionado. Ele pode estar tão fraco que o que há de ser feito, deve ser para ontem. Consigo desobstruir a suspeição, pois sua história e justificativas não se limitam pelo o que fora externalizado, mas não estamos no lugar, na hora, ou momento para dissecá-las.

- Tudo bem. - respiro.

- Você precisa o levar para um hospital. Não tenho ideia de quais efeitos colaterais o Curaremetônio tem no organismo de uma criança, apesar do meu pai constatar que só dormiria por um longo tempo.

A adrenalina corre por entre minha veias. Sinto o rigor de abatidas energias sendo repostas em seus devidos lugares.

- Sabia deste lugar?

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora