Capítulo 6

39 4 0
                                    

Certo. Primeiro, encontrar a única forma de livrar nossa pele. Segundo, se aliar à itens para a defensiva. Droga! Não dá para quebrar outro vidro duma outra janela. O projeto de cama, a penteadeira, dois tipos de mesas infantis, papéis longos como cartazes, alguns pedaços de madeiras avulsos, crucifixos pelas paredes, nada ajuda em sutileza.

- Está aberta! - Thomas grita sussurrando para o único acesso à saída. É claro que estava aberta, eu só eliminei a contingência de que estaria.

- Consegue empurrar comigo? - indago apontando para janela.

- Posso tentar.

Pisadas no assoalho fora do quarto são ouvidas por nós. Congelamos. Não entra aqui. Não entra aqui. Thomas abraça minha perna. Compartilho do que sente. Não entra aqui. Os passos parecem ir à porta da frente. Ele volta, perece vir para cá. Ele para. Estranho sua demora para andar. E então, retorna; dessa vez, para onde saiu. Ufa. Precisamos agir logo! Acelero o pequeno com gestos e já adianto para destravar o ferrolho de metal enferrujado e suspender com a mão direita os vidros sujos. Ele sobe num dos pedaços de tora que pegou, e empurra comigo para cima com afinco. Mesmo praticamente emperrada, deu certo. Visualizo a rua inóspita. O chão está ensopado, com algumas poças e folhas. Amanheceu! O céu está azulando e o sol, daqui umas horas, começará a clarear o dia. A vontade voraz de contatar meus pais, consome o temor. Impulsiono o corpo à frente para estrebuchar no gramado baixo. Antes que eu pudesse deter base para ajudar meu irmão, ele já está na beirada pronto para pular. Certo, peço para que segure no meu braço direito servindo de apoio. Ele pula. O comunico para sermos silenciosos. A casa da Vó Bette está logo ali. Perto. Damos passadas rápidas e abaixados. Me atento a míseros sinais suspeitos. Atravessamos a rua, então, olho para trás. A mochila azul listrada de Sara está jogada próximo àquela janela.

- Thomas, espera.

- Por quê?

- Fica aqui. - enfatizo.

A umidade impregna no meu corpo. Nos instantes desse lépido caminhar, estremeço pelas roupas que intensificam essa ação natural. Talvez seja por isso que me braço dói acentuadamente. Dou inúmeras olhadas para ele, que só observa com as sobrancelhas arqueadas. Não dá para voltar. Estendo o braço, pego a mochila e a transfiro para as costas. Olho para o quarto e a porta está aberta! Corro num susto. Gesticulo para Thomas fazer o mesmo na direção à casa da Vovó.

Chegamos no hall e a chave está acoplada. Retiro da fechadura. Entramos e a giro por dentro. Sigo direto para o telefone residencial, daqueles antiquados que tem uma roleta com buracos nos números para torná-los visíveis, bem ao lado do sofá. Ainda tremendo, disco o número do celular do meu pai. Fora da área captável. Disco o da minha mãe. O tu... tu... tu..., constante me deixa mais que ansioso. É delirantemente perturbador. Tu... tu... tu... Portanto um chiado. Há interferência. Shiii. Me torno entristecido, com ânsia, aflito. Um estrondo soa aos fundos externos da casa. Não sei se é a causa deste infinito chiado. Sem resposta. Sem qualquer comunicação. Outro estrondo, agora, vem da porta de entrada. Parecem chutes. Thomas me agarra.

- Mãe, se me ouve, por favor, venham nos buscar...

Baaam!!

Lá está ele, o incrível homem sem coração.

Largo o telefone, que cai no chão.

Ele exprime um semblante entorpecido.

- Não deviam me contestar em desobediência. - ele articula. - Não vão ligar para ninguém, obstrui a fiação de rede.

A mochila se despeja no meu antebraço. Meu irmão está segurando o choro.

- Você, Daniel, pagará pelo esforço antecipado.


Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora