Capítulo 3

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Acordo estritamente assustado. Foi tudo tão veloz e árduo. Tento recobrar o ar. Ele, que estava na outra cama sozinho, vem aflito aonde estou.

— Daniel?

— Uau. Eu... E-eu tive um pesadelo horrível.

— E como foi? — com o cenho franzido, quer saber.

— Me lembro de gritos, tempestade, destruição. — vislumbro com um olhar perdido. — Também existia uma sombra amedrontadora.

— Que estranho.

— Absolutamente estranho.

Procuro conformismo. Não vale a pena estender os delírios dessa noite. Pelo menos não agora. Nem com ele.

— Você estava acordado quando foram embora? — pergunto-lhe.

— Estou de pé há algum tempo, mas não quis descer à procura da Vó Bette. — ele pega uma lousa mágica que esteve desenhando. — E não sei quem deixou isso pra mim.

— Pode ter sido ela.

— Sim.

Aparentemente, é ficarmos a sós por aqui que o intimida. Espero ter a disposição necessária para salvaguardar a responsabilidade de tê-lo comigo. Acaricio meus cabelos para concertar o desnível avantajado, bocejo, e olho para os quadros nas paredes listradas na vertical que não havia atinado. São parentes de longa data, pessoas que fazem parte da nossa descendência. As malas, ainda fechadas, estão nos aguardando para o desarranjo. A preguiça logo bate na porta da consciência, mas não quero atender. Apesar do fatídico sonho, sinto minhas cognições mais estruturadas no anseio em demostrar acomodação por participar da sucessão de afazeres. Tento pensar nas tantas possibilidades que o dia de hoje nos reserva. Só que a caneta riscando a lousa me distrai com facilidade. No instante em que me direciono a este garotinho concentrado, ele larga os objetos ao lado para dizer que está com fome. Já sabe o que responder, Daniel.

— Vá, retire o pijama e escove os dentes. Não precisa temer. A Vó Bette deve estar na cozinha. — ele obedece sem questionar.

Fui instruído durante as fases iniciais da sua infância quanto às educações fraternas disciplinares a serem seguidas. Tanto eu quanto ele, aprendemos o básico. E isso, por enquanto, está sendo importante. Ao confirmar audivelmente seus passos transitando no corredor na ida ao banheiro, me descubro, vou à mala, pego uma calça preta e uma camiseta branca como esboço da obra Amendoeira em Flor, de Van Gogh. Assim que ele retorna, peço para escolher a sua, enquanto eu tomarei um banho.

Na volta ao quarto, Thomas não está. Bloqueio a vinda de negativasexpectativas; pode ter ido à sala, mesmo receoso. Me sento na ponta da cama,comprimo as pálpebras e respiro. Tateio o baú, pego meu aparelho celular, vejoa hora. É meio-dia. Certamente, estamos longe o suficiente para qualquer aromade comida quente chegar, ainda assim, sabido das saudosas receitas que a VóBette faz, torna o ambiente parte daquilo. Não há aroma algum. Bem, no instanteque aciono a internet móvel, as mensagens de texto proliferam.

11:02 | Theo: Onde você está??

11:02 | Theo: Estamos preocupados e na frente da sua casa.

11:03 | Theo: Como assim você some e não nos avisa?

11:03 | Theo: Nós marcamos horário para irmos ao Shopping, se recorda?

11:10 | Johnny: Daniel??

11:10 | Johnny: Ei!

11:10 | Johnny: Nos escreva algo.

11:12 | Susan: Dan, o que houve?

11:12 | Susan: Estamos esperando suas respostas.

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora