Capítulo 13

40 4 0
                                    

Não pensamos duas vezes antes de guardarmos todos os suprimentos restantes, fecharmos as mochilas, além de relembrarmos do que realmente faremos. A chuva cessa e os trovões continuam. Tentamos conter o apuro, para que invariavelmente não justifique nossas ações posteriores.

Não corremos, mas nossos passos são longos em direção às portas da Estufa. Não queremos desgaste, mas nossos corações fazem esse trabalho. Não temos mais chances brilhantes, mas possibilidades escassas. Não será fácil, mas há resquícios de fé aqui. Iniciaremos nossa intencionada volta. A investida para a solução cabível.

De repente, algo cai no chão, e se estilhaça. Quando olhamos na direção, percebo que foi um dos vasos com duas margaridas, próximo à saída. A terra preta se espalhou por entre o chão de folhas, fazendo o imediatismo despontar em curiosidade. Quando abeiramos, algo me intriga. Este, que não me traz boas recordações, nem boas expectativas, nos afronta. É mais um bilhete listrado de um alguém infame. Não pestanejo. Não olho para ela. Só levo meu desejo em saber o que há. Desdobro, então, me deparo com o inédito. Um X. Só. Aos mesmo moldes dos feitos naquelas polaroides no quadro de esquemas. Grande e suficientemente cabível no papel. Está grotescamente escrito com a mesma tinta preta de caneta.

Distingo a feição injuriada de Sara, me permitindo definir a tristeza significativa. Não diz uma palavra. Simplesmente, larga sua mochila, a afastando no chão com o pé. No momento que ergue a cabeça, identifico o que irá fazer. Primeiramente, morde os lábios inferiores, que após soltá-los, emite um leve murmúrio os estremecendo. Suas sobrancelhas juntas, bochechas rosadas, respiração ofegante, uma aproximação constante, fez clarear sua característica mais obscura: Medo.

Não há com que se preocupar. Não há o que temer.

Temos que seguir!

Todavia, contrariando o que imaginava, o que previa, seu olhar me institui uma forte câimbra vertiginosa. O ar gélido, inesperado, me envolve, e meus sentimentos, latentes, emanam vontades inalcançáveis. Não há sequer tempo para respirar, andar, ao menos falar. Agora, com prontidão e sutileza, ela vem perto mim, sustenta meu braço enfermo com sua mão direita, encosta seu corpo no meu, ainda segurando o braço entre nós. Reajo fazendo o mesmo, a abraçando. E como numa forte incerteza submetida ao pensar em questioná-la, perco a atenção direcionada. Meus sentidos proliferam de forma intensa e visceral. Um grandioso susto. Uma significativa mudança de planos. Uma furiosa queda. Por frações de segundos, meus sonhos vieram à tona. A maneira bruta que a gravidade nos proporciona, espanta minhas esperanças. Me torno cego ao tentar enxergar a aparente vontade de voltar, sou afetado, pelo foco às dores descomunais.

Caímos no abismo.


Meu grito ecoa. Meus sussurros, também. Queria estar errado, mas a narrativa habilmente inesperada, mais uma vez me surpreende. Está escuro. Não consigo vê-la. Não consigo escutá-la. Ouço a chuva recomeçar a cair sob o teto longe da Estufa. Ouço meu cérebro, irradiar informações nervosas por todo corpo, que junto ao meu coração, não paralisa nem por um milésimo. O único resquício de luz que há aqui em baixo, é emitida pela abertura deixada pelo alçapão escancarado. No meio percurso da queda, nos soltamos, caí de costas, e talvez bati a cabeça no chão. Ainda estou imóvel, perante ao nada, tentando enxergar algo. Me esforço para levantar; sem sucesso, alço o pescoço de um lado a outro neste buraco úmido. A iluminação me permite ver apenas terra barrosa e as várias folhas que caíram junto a nós. Quando tento outra vez levantar, meu braço esquerdo fisga a conhecida dor latejante. Contudo, não me faz desistir facilmente. Tento várias vezes, furioso com as circunstâncias, até conseguir de fato.

Soam trovões ao céu.

- Sara... - minha voz é fraca. - Onde você está? Sara!

Nenhum vestígio de resposta. Estou segurando meu braço contra o estômago. Não quero acreditar no pior. Quero pensar em agir seguindo meus - ocultados - pensamentos construtivos. Logo, lembro de cair com a mochila de Thomas nas costas. Droga! Não está mais comigo. Neste instante, tateio o ar na tentativa de seguir este sinal de luz; somente movo pouco mais que dois passos. Ofego, cego, desoriente, descontente. Nada.

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora