Capítulo 11

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Impressionante. De fato é uma Estufa. Grande - pouco mais de três metros e meio de altura. Uma estrutura, em sua maioria, envidraçada, com lacunas e divisões de ferro, na vertical e horizontal, quadriculando; foram pintadas à mão na cor branca. De forma alguma aparenta desgaste, alguns vidros quebrados, até mesmo sujos de lama. Sara caminha para a lateral. Frente às duas portas de vidro juntas, consigo ver, através delas, somente altas plantações familiares, finas e verdes, rodeando as paredes transparentes, tornando a quase impossibilidade de visualização interna. Meu espanto, à princípio, é de imaginar como lhe ocorreu essa ideia. Miguel tinha um propósito, uma fundamentação. Analisando os aspectos da Estufa por fora, me parece que passou por reformas. Sara me chama para ver a lateral. Vou. Então percebo a longitude estupenda e grandiosa.

- Isso é absurdamente inacreditável. - ela comenta num tom amargo.

- Ele pensou... Meio àqueles delírios esquematizados. - não quis dizer essas coisas.

- Temos que entrar. - ela corta abruptamente a suposta linha de raciocínio. Ainda bem.

- Está trancada. - suscito, pois vi o cadeado na parte de dentro preso na fechadura.

Diante das maçanetas, ela tenta achar algo por dentro. Sem sucesso. Aparentemente não há passagens para outro lugar. Então ando a procurar. Uma pedra, algo sólido, para um dos vidros quebrar. Percebo um agrupamento de pedrarias lisas e suficientemente eficazes para tal feito, no gramado alto. Agora podemos entrar.

O vidro de um dos quadrados estruturais, se estilhaça. Ela raspa os cacos pontiagudos e a passagem estreita é liberada. Não e difícil de atravessar. Eu primeiro, Sara depois.

A única luz que emana aqui é vinda do teto totalmente de envidraçado, ainda que dois tubos de lâmpadas fluorescentes tubulares sejam capaz de conceder iluminação às noites. Nessa região, há uma abertura nas copas das árvores mais altas, ou foram realmente derrubadas para "dar espaço". Necessariamente, não precisamos, mas ligamos as lanternas. Os tímidos raios solares atingem as plantações em vasos de flores cultivadas e germinadas. Noto a existência duma quantidade significativa de margaridas posicionadas em cantos adjacentes. Olho para ela, que embasbacada, leva uma das mãos à boca. Imagino que esteja pensando em como fez isso ou o que aconteceria se ele a trouxesse para esse lugar. Não sei mais ao certo sobre o que pensa. Inversão. Tudo está invertido.

Vemos outras plantações adiante. Algumas espécies parecem reproduções para a realidade de uma das obras de Douglas Frasquetti. Estão dispostas estrategicamente expondo tamanha beleza. O chão é composto por um gradeado de ferro, que ressoam nossas pisadas, porém não é aparente, estando coberto com folhas entre verdes e secas. Chegamos até o fim da Estufa. Encosto levemente minha mão ao vidro, no espaço entre a vegetação. Nada. O que ele quis dizer com: "A Cúpula não importa, o que tem dentro deve ver". Não. Foram só "distrações". Este lugar está vazio! Meu sangue começa a aquecer e os pensamentos descompassados ameaçam retornar. Nos entreolhamos.

Silenciosos.
Exaustos.
Curiosos.
Nervosos.
Receosos.
Machucados.
Cabisbaixos.
Raivosos.

Sob uma consequente conexão, nossos estados emocionais variam. No caso, só aumentam e afligem nossos corações em alguns segundos imóveis. Mesmo que nela haja arrependimentos pelo o que passamos, consigo compreender certo tipo de luta interna. Não imaginaria estar com alguém que transmitisse valor e perigo ao mesmo tempo. No dia que a vi, naquele primeiro instante, trazia consigo algo diferente. Thomas, inacreditavelmente, confiou no que dizia. Demonstrou a coragem na impostação da iniciativa decisiva.

Nós podemos encontrá-lo.
Nós podemos encontrá-lo!

Começo a vasculhar por entre os vasos. Chamo pelo seu nome numa entonação que se eleva gradativamente. Nós podemos encontrá-lo. As terras escuras caem nos meus pés. Estou ficando sufocado. Ajoelho. Procuro atrás de cada plantação. Empurro uma. Empurro outras. E mais algumas. Pego um dos vasos de barro que cabe na mão e arremesso com agressividade do chão.

Venho a chorar.

Ela corre na minha direção.

- Daniel, para. Para com isso! - Agachada, acaricia meu ombro. - Não tem ninguém aqui.

Entrelaço meu braço bom em suas costas. Nos abraçamos outra vez. Tento me acalmar aqui. Respiro pausadamente. Ainda não acabou. Não acabou para Thomas.

- Alguma ideia? - pergunto-lhe, enfim.

- Podemos... Caminhar pelas redondezas. - Desencostamos. - Não faz sentindo ele querer mais de uma Estufa do que algum alojamento.

- Tudo bem. - assinto, parcialmente conformado.

Já em pé, estende a mão para mim. Cedo ao amparo em silêncio, e assim, endireito a mochila. Estamos prontos. Prontos para sairmos deste belo lugar danificado pela revolta.

Mas algo intercepta.

De súbito, um som grave vem de baixo. Em seguida, uma batida. Abrimos bem as pálpebras um para o outro. No mesmo momento, abaixamos para tatear o chão de folhas na busca por encontrar qualquer passagem.

Até o Limite por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora