- Sinto muito... - ainda mais perto, consegue me abraçar. Com força. Claramente, destaca mais seu nervosismo. O meu, idem. Soltando os braços, devagar, segura minhas duas mãos. Em minha boca há um vazio de palavras, mas não é o que espera. Ela passa os dedos duma mão no rosto e diz, como se estivesse degustando o embargo:
- Entra. Vou te contar tudo.
O sofá ensanguentado. Só. Está no meu campo central de atenção. E Thomas não está nele. A insegurança me consome gradativamente. Ele é a minha família. Ele é a parte além do quesito importante. Onde estava meu cuidado? Piso nos cacos, os fazendo tintilar pelas solas dos tênis.
- Sara, c-cadê meu irmão?
Ela parece se restringir antes de verbalizar; e eu não meço minhas atitudes à medida disso. Seguro em seus ombros e insisto com mais rigor:
- Sara! Cadê ele?!
Ela franze o cenho e não fixa o olhar em mim ao, enfim, responder:
- Ele o levou, Daniel. - A solto. - Eu, eu tentei evitar... Mas ele estava transtornado. Não foi por descuido.
Me forço a respirar lentamente. Com os olhos fechados, teimo em não acreditar. Não. Não outra vez. Não!
- É minha culpa.
- Não diz isso.
- Por quê?! - esbravejo. - Meus pais não vão chegar! Thomas foi levado inerte por aquele homem asqueroso.
Ela leva as mãos aos cotovelos, se isolando. Sinto uma incômoda dor de cabeça. Pulsa. Pulsa. Me sento numa das poltronas. Abaixo fisicamente a estima, e ouço seus passos virem.
- Só queria entender, Sara... Desculpa.
- Precisa se acalmar. - Senta ao meu lado.
- Podia jurar que saberia controlar isso.
- Não pense em desistir. Isso vai te fazer muito mal.
- Mas... Como quer que eu aja de outra forma? A minha vida é uma droga! Sempre foi.
- O quê? - agora, vejo seu rosto. - Você ouviu o que acabou de dizer? Antes de se expressar com tanta convicção, já reparou ao redor? Eu não estou querendo te desmerecer, apenas imagine que o diferencial das pessoas capazes de lutar com as próprias dores por alguém que ama, as tornam... Esperançosas e... Corajosas.
Não me manifesto por palavras. Meu gestual diz tudo para ela. Lembro de quando falou aquelas metáforas. Nunca antes algo fora tão paralelo. Acredito que eu preciso de um norte, e Sara como sendo a minha atual ilha, poderei recuperar os resquícios perdidos de fé. Mesmo triste, modestamente transmite boas energias. Ainda que não a conheça por inteiro, nem se a teria como um farol para o pai, é a representação personificada da completude de confiança em mim. Com nossos corpos plenamente encostados, a agradeço.
Apoiando meus antebraços nas suas mãos, ao desencostarmos, ela se assusta. Tinha esquecido por não incomodar quanto antes.
- Seu braço! Precisamos dar um jeito nisso, agora! - Ela encosta e na mesma hora, contraio. Está mais inchado. - Talvez esteja quebrado. - Ela vai transferindo sua mão até o cotovelo. - Posso ver uma coisa?
- Sim... Aaah! Deus! - Rapidamente, ela GIROU meu pulso.
Desconsiderando o grito que ressoei, pensa alto ao dizer: - Teria alguma faixa médica isolante por aqui?
- Não sei... Ouch. Talvez no quarto onde dormimos quando chegamos.
- Tá. Vamos subir.
Meu semblante comprimindo os músculos do rosto, faz a dor de cabeça piorar. A do braço, permanece suportável. A sigo, subindo as escadas, imaginado como aconteceu. E se ele a ameaçou com o revólver? Estava exaltado? E se ele agiu sem piedade e levou Thomas sem o mínimo cuidado? Fez isso para contemplar uma chantagem posterior? Só há uma noção afirmativa, e sendo verídica ou não, acaba me deixando num gral além dos vigores exauridos: dessa vez, ele não o levou para a sua casa.
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Até o Limite por Você
Misterio / SuspensoE se conseguíssemos perceber no ápice duma exaustão contínua que para salvar a vida de quem amamos, precisamos tomar decisões arriscadas que se fazem necessárias para reconhecer o cerne deste sentimento para ambos conseguirem sobreviver? Daniel é um...