Um painel, na parede, preenchido. Imagens de jornais compõe o plano de fundo dos ligamentos por linhas presas nos pontos exatos enroladas em pregos. São pessoas, famílias. Pais e filhos adolescentes. Garotos adolescentes. Não identifico as relações com os textos jornalísticos descritivos cortados grosseiramente. A dor na cabeça avisa o início do processo de assimilação doentia quando me deparo com algumas polaroides empoeiradas. São da minha família. Nós estamos demarcados e ligados aos pontos traçados como "OBJETIVO". Há inúmeros códigos Morse para cada fotografia nossa na frente da casa da Vó Bette da última vez que estivemos em Juiz de Copas. Nossos nomes e características estão transcritos ao redor duma polaroide solitária. É o ponto de encontro das ligações. Sou eu. Me aproximo. Flashes de lembranças daqueles dias me deixam em agonia. É como se eu estivesse sendo conduzido, arrastado, pela correnteza ávida de um rio progressivo para uma só direção. Mesmo que eu tente, à margem não chego. Ainda mais próximo, vejo a tinta preta da caneta que usara para escrever os bilhetes, e dessa vez, fez pior. Nossos rostos estão com xises riscados. Mas Thomas e eu, circulados. Meu corpo opta por não mais resistir às sucessões de descobertas. Ao me afastar lentamente, noto outros riscos. Ligações. Conspirações. Articulações. Destoo dos meus pensamentos oportunos depois de afugentar minhas perspectivas.
Algumas certezas pairam ao ar. Elas invertem, sacodem e esparramam o pouco de estrutura emocional que ainda restava em mim.
Eu sou o alvo.
- Tudo isso... Foi planejado? - indago, andando de costas. Ouço seus murmúrios de dentro do esconderijo. - Sara, o que significa exatamente? Sara? - ela sai com as bochechas banhadas em lágrimas e com os olhos avermelhados. - O que ele quer? Me diz, o que está acontecendo?
Ela sobe cuidadosamente o vestido com as mãos nas coxas e revela um aparelho de cor preta. Desamarra e o atira no chão com veemência, o espatifando em pedaços.
- Daqui pra frente, arriscaremos nossas vidas.
Não correspondo.
- Este era um gravador. Ele usava para monitorar o que conversávamos e saber o melhor... Momento. - ela dá uma pausa. - Essas cartas, foram distrações dolorosas... Aquele quadro, mostra seu sistema de planos para o dia da tua chegada. - ela suspira entre um choro quase incontrolável. - Não vou mais fazer parte disso... Vou dar um jeito. Pensei que seria diferente, mas não tinha você aqui, comigo, para saber como agiria.
- Nunca o vi na minha vida, no que eu interferi? - precisava desimpregnar isso de vez.
- Por favor, Daniel, não podemos parar para que ouça nossa história. Thomas tem que ser resgatado antes que seja tarde.
- Você sabia? De... Tudo o que ele faria? Sabia que atiraria no meu ir...
- Não! Ele... Quer te encontrar no lugar que construiu na floresta. Usou dessa crueldade para te desestabilizar.
- Mas Thomas está ali, riscado como alvo!
- Não pensei que era possibilidade. Nunca me deixou entrar ali... - ela se posiciona mais próximo de mim. - Ele está muito ferido, Daniel. Precisa de um hospital.
- E se eu não conseguir?
- Eu acabei de me tornar um alvo, e vou te ajudar... Nem que seja a última coisa que eu faça em vida. - Sua voz falha, e sinto como se um peso saísse das suas costas e outro sobrepor no lugar. Estava aprisionada a si mesma. Estava aprisionada aqui. Esboço fraqueza ao sentar na cama bruscamente. Eu confiaria em quem acaba de assumir e dissociar o envolvimento dum arquétipo manipulativo para me ter como culpado de um íntimo motivo capcioso? Volto para suas falas às avessas e atino à realidade sabida. As metáforas. As delicadezas. A suspensão da aliança. Céus! E se eu não conseguir, sozinho? Ainda que essas imensas dúvidas consuma meu ser, já sei do que aquele homem é capaz. Presumo pelo o que foi capaz. Sara não queria estar onde eu estava quando fomos para o Lago da Vitórias, não queria que Thomas sofresse o atentado.
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Até o Limite por Você
Mystery / ThrillerE se conseguíssemos perceber no ápice duma exaustão contínua que para salvar a vida de quem amamos, precisamos tomar decisões arriscadas que se fazem necessárias para reconhecer o cerne deste sentimento para ambos conseguirem sobreviver? Daniel é um...