Capítulo 15 - Conclusões sobre a vida alheia

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Acordei aos prantos enquanto meu corpo parecia prestes a queimar. Meus lençóis estavam ensopados de suor e a minha temperatura corporal parecia tão alta quanto às batidas do meu coração.

Levantei quase que de imediato e acendi a luz do quarto temendo que algo estivesse escondido na escuridão.

Não conseguia respirar direito e sentia que algo me sufocava.

Eu ainda vestia as roupas do dia anterior e tudo estava exatamente onde deveria estar. O desenho estava no criado mudo, juntamente com o relógio que marcava 4h00 da manhã, a cama parecia um festival de lençóis amassados e suor, a janela ainda aberta e a porta trancada. Tudo como havia deixado antes de adormecer.

Demorei um pouco para me recompor e mais ainda para criar coragem para entrar no banheiro e lavar o rosto com água fria. Encharcar as mãos e o rosto sempre me trazia de volta à realidade depois de um pesadelo.

Assim que já estava respirando normalmente voltei para o quarto a fim de escrever os detalhes daquele sonho no meu caderno secreto. Porque nunca tinha tido um sonho tão perturbador antes, nunca nem sequer tinha sonhado com todas aquelas pessoas juntas. Era como meu próprio filme de terror.

Peguei o caderno da sapateira e estava me dirigindo para a cama quando uma luz vinda da janela chamou minha atenção. Não era comum ter carros passando pela nossa rua àquela hora e minha curiosidade ganhou.

Larguei o caderno na escrivaninha a caminho da janela e depois fiquei observando um carro parar em frente à casa dos Mcfilds. Os faróis foram apagados, mas ninguém saiu do veículo.

Já tinha me esquecido do que estava fazendo à medida que pareceu estranho de mais o carro continuar lá por tanto tempo. Então, uma porta se abriu e de lá desceu Josh abotoando a camisa de flanela que usava. Ele colocou a cabeça mais uma vez para dentro do carro, antes de ir, e depois deu as costas à pessoa que o dirigia, sorrindo.

Mesmo que não fosse da minha conta eu me sentia intrigada em saber com quem ele estava àquela hora. Era uma mulher, sem sombra de dúvidas. E aquilo me incomodou mais do que deveria.

Algo dentro de mim quebrou e me senti estúpida só por achar que poderia existir alguma coisa entre eu e ele. Se no passado nunca havia acontecido, não tinha porque existir naquele momento.

Ele caminhava devagar para a porta dos fundos, de onde minha janela era visível, e quando parou na porta olhou na minha direção. Eu apenas saí antes que nossos olhares se cruzassem e depois apaguei a luz. Não querias que ele visse que eu estava acordada ou pior ainda, que tinha visto ele saindo daquele carro.

Peguei o caderno outra vez e sentei na cama para escrever os detalhes do sonho. À medida que ia escrevendo as palavras meu coração acelerava.

Só quando algumas lágrimas caíram sobre o papel foi que notei que estava chorando. E mesmo que tentasse dizer o porquê não o sabia. Em parte chorava de pavor por lembrar do sonho que tinha tido e em maior parte por um coração partido.

Não aguentava mais a vida que levava, os sonhos, ouvir o que as pessoas pensavam e gostar de alguém que não existia. Não aguentava mais nada, só queria fugir para qualquer lugar em que me sentisse normal.

Terminei de escrever o sonho e atirei o caderno na cama com força. Abri o armário e escolhi uma roupa quente para colocar. Nada de mais, só queria me arrumar para a escola e sair bem mais cedo.

Calcei um tênis de corrida, calças jeans e um moletom com capuz. Depois guardei o caderno dos sonhos no lugar e juntei todas as coisas que iria usar naquele dia de aula. Parei somente para deixar um bilhete avisando que havia saído para correr e iria direto para a escola depois.

1- A Telepata_ PersuadidosOnde histórias criam vida. Descubra agora