Capítulo 46 - Parecia que só os verdadeiros permaneceriam em pé aquela semana.

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Dois toques na porta me acordaram de um sonho ruim. As imagens daquela noite não me deixariam tão facilmente, mesmo com a ajuda dos medicamentos para dor. Mas mesmo que eu já esperasse por aqueles pesadelos não conseguia deixar de me importar sempre que acordava.

-Pode ir Zaidi, vou ficar com ela hoje.- disse minha mãe para vovó.

As duas trocaram olhares, e eu podia sentir que vovó não achava aquela uma boa ideia. Elas não eram melhores amigas, mas ainda sim se respeitavam.

Vovó levantou da poltrona e depois se aproximou de mim somente para me dar um beijo na testa com aquele sorriso, que só ela tinha. Aquele sorriso que acalmava todo mundo.

-Eu volto mais tarde querida.- disse ela ao ir embora.

Talvez minha mãe não soubesse o que fazer em momentos como aquele. Mesmo que ela tenha dedicado a vida dela para cuidar das pessoas ela nunca soube o que fazer quando eu adoecia. Vovó sempre cuidou de mim quando pequena, sempre fazendo chás milagrosos e comidas compatíveis com qualquer doença.

Eu sabia que ela era capaz de cuidar de mim, mas ainda assim era difícil para ela sequer olhar na minha direção, quanto mais cuidar de mim. Tantas vezes a vi fazer curativos em Bruce, lhe dar banhos frios para que a febre fosse embora e medicá-lo sempre que ele sentia qualquer tipo de dor.

Mas nunca a mim.

Ela me viu crescer cercada pelos medos do nosso passado. Fingindo estar bem quando tudo que eu queria era chorar e mesmo assim não fez nada. Ela deixou que eu me culpasse por todos os seus erros, deixou que eu aceitasse pouco dela por culpa. Graças a ela eu tinha me tornado aquela pessoa, que não deixava ninguém se aproximar, por medo de me machucar.

Ela caminhou até a janela e olhou para o mundo lá fora, medindo aquilo que queria dizer. Pensando em tudo que eu tinha passado para estar ali e como seria se o pior tivesse acontecido aquela noite.

No mesmo segundo bloqueei a minha mente. Não estava preparada para ouvir seus pensamentos, não estava emocionalmente estável para sentir seu desprezo e de todas as amarras, da minha vida, era daquela que eu mais precisava me libertar.

Olhei fixamente para ela, com a maior concentração que os analgésicos me permitiam ter. Ela usava as roupas azuis de uniforme do hospital, um estetoscópio estava ao redor do seu pescoço, seus cabelos amarrados em um coque frouxo e manchas escuras cobertas de maquiagem eram a prova que ela preferia viver naquele mundo do que aquele que havia na nossa casa.

Pela primeira vez tentei algo novo com ela. Algo que poderia enfim me fazer acreditar que de alguma maneira ela também me amava. Abri uma conexão entre nós duas para que eu pudesse sentir o que ela sentia e me surpreendi com o que encontrei.

Minha mãe se sentia vazia, incompleta e incapaz de ser feliz de verdade. Parecia que no seu mundo não havia cores e uma angustia me atingiu ao ponto de doer meu peito. Coloquei a mão no peito no mesmo segundo que ela fez o mesmo movimento, como se não só nossas mentes estivessem unidas, mas nossos corpos também.

Então ela olhou para mim e trocamos olhares confusos. E lá estava o sentimento que eu tanto queria ver, aquele que me libertaria para sempre. Mas ele não era o sentimento que deveria existir dentro dela, muito menos aquele que eu tinha esperança de conhecer.

Ela nunca poderia me amar, porque para ela seu mundo era vazio por minha causa. Por minha causa ela tinha perdido tudo e enquanto eu continuasse viva sempre a lembraria do quanto ela tinha sido feliz.

Sentimentos de raiva e desprezo rondaram a minha cabeça, e por um segundo cheguei a desejar que Phoebe tivesse acabado com a minha vida.

Porque se eu não existisse tudo seria perfeito.

1- A Telepata_ PersuadidosOnde histórias criam vida. Descubra agora