Capítulo 7 - Megafone

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Passei a manhã toda indignada com Bruce por ele ter me acordado num dos melhores sonhos que havia tido com o cara dos meus sonhos. Não disse nada, porém, não estava nem um pouco feliz por ter que deixar um lugar onde queria tanto estar.

As aulas correram naquela manhã, com o sabor daquele desconhecido ainda vivido dentro de mim. Por mais que tentasse, encontrar muitas formas de me concentrar nas aulas volta e meia eu voltava para aquele peito coberto de tatuagens. Um rebelde, que apanhava tudo de inocente que havia em mim e escondia no fim do mundo.

Quando o sinal soou para o horário do almoço me adiantei em encontrar Suan e Bruce nos seus armários. Queria qualquer tipo de distração que me fizesse ficar longe daqueles pensamentos.

Não que tais lembranças me fizessem mal, mas não era saudável ficar pensando em coisas que nunca haviam acontecido.

Precisava esquecer aquele garoto. Mas se continuasse com os sonhos tinha a impressão de que nunca conseguiria.

Virei o corredor quase chegando aos armários, quando vi Suan e Bruce agarrados um no outro, como se fizessem parte de uma coisa única, me senti desanimada. Não tinha como atrapalhar aquilo. Minha única chance de distração estava ocupada de mais para me dar atenção.

Então, como boa amiga que se preze, tirei meu time de campo.

Resolvi que se não podia esquecer, então, ia encontrar um lugar apropriado para continuar pensando sem ser atrapalhada.

Na parte externa da escola havia uma arvore bastante especial para mim. Um lugar que adotei como meu desde o ensino fundamental.

A árvore não era como nenhuma outra que eu houvesse visto. Ela era composta por duas árvores, com troncos de cores adversas, que se uniam a ponto de se formar apenas uma. Tinham galhos e folhas da mesma cor, mas o destaque era dos trocos, um na cor bege e o outro marrom. Juntos eles pareciam tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais.

Existia uma lenda na escola que dizia que as árvores não nasceram juntas. Que uma mulher apaixonada via a forma do marido falecido nos galhos da enorme árvore e que quando morreu a árvore de tom bege simplesmente apareceu entrelaçada à outra. Era o significado do amor eterno e do quanto os mundos poderiam estar sempre unidos. E que se homem e mulher se amassem verdadeiramente estariam para sempre juntos.

Tinha uma placa bem em frente a tal árvore, que explicava detalhadamente a lenda da Napean. Não que eu não acreditasse na lenda. Na verdade, eu achava incrível uma história de amor imortal. Porém, aquela árvore tinha sido o meu lugar de acolhimento. Muito dos momentos difíceis compartilhei com aqueles galhos. Então, não conseguia ver ela de outra forma que não fosse meu lugar de sossego. Porque apesar de ser um lugar marcado por uma lenda tão fabulosa às pessoas tinham medo de chegar perto do lugar, pois, como toda boa lenda tinha seus lados ruins. Os alunos mais veteranos da escola diziam que à noite podia-se ouvir as vozes de lamento da mulher da lenda. E esse fato já era suficiente para as pessoas não chegassem perto do local, o deixando exclusivamente para mim.

Sorte minha que as pessoas acreditavam em tudo que ouviam.

Os alunos já haviam se espalhado por todos os cantos quando sai do prédio. Ouvia gritos e risadas escandalosas enquanto eu estava presa em meus próprios pensamentos.

Nunca gostei muito de estar no meio de um público gigante. Gostava do silêncio. Porém, era boa sempre que tinha que conviver com um grupo de pessoas, sendo elas conhecidas ou não.

É meio complicado de entender. Não é que eu fosse uma reclusa, eu me dava com praticamente todas as pessoas que eu conhecia. Tinha poucas inimizades e era vista como uma boa pessoa aos olhos de todos ao redor. Só que prezava por meus momentos sozinha. Até porque quem guarda segredos gosta de ter seu próprio tempo para pensar neles.

1- A Telepata_ PersuadidosOnde histórias criam vida. Descubra agora