Capítulo 5 - Cowboy

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Logo após a aula peguei o mesmo ônibus de todos os dias e fui até a biblioteca central da cidade que ficava cerca de 7km da escola. Era um prédio de dois andares com uma estrutura quadrangular e inúmeras janelas de vidro que guardavam histórias para contar até o fim dos tempos. Era um lugar bem iluminado e tinha estantes colocadas lado a lado em forma de corredores, separados por sessões. Mesas redondas espalhadas por todas as partes para que as pessoas pudessem ficar à vontade para ler.

Sem sombra de dúvidas um dos meus lugares preferidos no mundo.

Fazia praticamente um ano que eu trabalhava em uma das maiores e mais movimentada bibliotecas da minha cidade. Serviço adquirido com os meus próprios dons mediúnicos.

Estava procurando um emprego nos classificados do jornal de domingo quando as letras pareceram simplesmente brilhar em meus olhos diante os outros anúncios. Desde pequena adorava ler todos os tipos de livro e estar entre livros velhos e com a disponibilidade total de acesso a eles era a coisa mais perfeita que poderia existir para alguém como eu. Queria o emprego e fiz tudo que pude para dizer tudo que a psicóloga queria ouvir em minha primeira entrevista de emprego bem sucedida.

Apesar de parecer totalmente errado usar meu dom para benefícios como aquele ser telepata tinha que ter o lado bom também. Então era completamente aceitável usar a mente das pessoas, às vezes, a meu favor.

Trabalhava de segunda a sexta logo após a escola. E apesar de perder o dia todo eu adorava estar naquele lugar rodeada das pessoas que eu gostava, como o próprio dono daquele lugar. Meu chefe, o Sr.Beens, era um homem simpático que me tratava praticamente igual a sua filha mais nova. Confiava a mim seu precioso lugar como se eu realmente fizesse parte da família.

A biblioteca era minha segunda casa e quando não estava muito bem gostava de ir para lá apenas sentir o cheiro dos livros enquanto lia os títulos um a um. Pode até parecer idiota fazer isso, mas por algum motivo aquilo me acalmava.

O trabalho dos sonhos para qualquer garota nerd cuja imaginação fosse fértil igual a minha.

Naquela noite cheguei em casa mais cedo já que a chuva havia corrido boa parte dos leitores diários da biblioteca, que na maioria das vezes me faziam fechar mais tarde do que devia. Havia passado boa parte da tarde pensando no novo aluno da escola e em como ele era encantador que nem vi o tempo quase voar. Quando dei por mim já era hora de ir embora.

Tive que caminhar todo o trajeto até o ponto de ônibus porque meu irmão estava ocupado e não pode me buscar. E mesmo que minha mãe não gostasse que eu andasse sozinha pela cidade tarde da noite não tive outra alternativa.

Apesar de ter dinheiro guardado suficiente para comprar meu próprio carro achava jamais ter coragem de sentar atrás de um volante depois das circunstâncias do meu passado. Então Bruce praticamente era meu motorista particular sem se importar, na maioria das vezes.

Já estava chegando em casa quando o sonho que tive na aula aquele dia veio a minha mente. Fazia muito tempo que esses sonhos não eram tão agradáveis.

E por todo o caminho desejei que quando finalmente dormisse o sonho voltasse a minha consciência. Por mais estranho que possa parecer eu nutria sentimentos especiais pelo tal garoto que nunca lembrava com clareza e sempre que ele me tocava em sonho eu me sentia extasiada somente em relembrar.

Era tão ridículo quanto absurdo desejar estar com alguém que só existia no fundo da minha imaginação sonolenta. Mas cada vez que sonhava com ele tinha a impressão de que nada mais importava além da agradável sensação que ele me trazia.

Não que eu fosse apaixonada por um cara que nunca tinha visto na vida, mas os sentimentos que eu sentia por aquele desconhecido nunca haviam sido despertados por alguém. E bem lá no fundo eu me sentia fiel a uma esperança de um dia encontrá-lo.

1- A Telepata_ PersuadidosOnde histórias criam vida. Descubra agora