Capítulo 1 - Nada menos que estranho

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Não lembro a primeira vez que tive aquele sonho.

Só sei dizer, que o tive muitas e muitas vezes, desde que sofrera aquele acidente quando eu era criança. Ele sempre acontecia da mesma forma, e sempre que eu acordava, tinha a mesma sensação de vazio.

Não lembrava de nada que acontecia nos sonhos, apenas que um belo par de olhos cinza me encarava todas às vezes. Apesar de ter certeza, que os sonhos tinham muito mais conteúdo do que me lembrava toda vez que acordava, eles permaneceram um mistério para mim por muitos anos.

Com o passar do tempo, comecei a ligar algumas peças e então as coisas começaram a fazer mais sentido. Às vezes eu até conseguia distinguir um cenário, que nunca havia presenciado, e pessoas que nem conhecia. Como se fosse um longo filme, que eu praticamente, assistia a todas as noites.

Mas nada daquilo me era familiar.

Eu particularmente adorava ter aqueles sonhos, e quando era pequena, até achava que aqueles olhos, tão marcantes, fossem de um garoto que um dia viria me buscar em um cavalo branco. Mas com o tempo, acabei por nunca tentar definir, o que aqueles olhos significavam.

Acabou apenas por ser tornar uma agradável rotina.

Até que um dia, os olhos não eram mais personagens de sonhos felizes, e sim de sonhos angustiantes. Tanto que praticamente rezava para que eles não acontecessem mais.

Porem, eles ainda insistiam em acontecer.

Abri meus olhos cedo de mais aquela manhã. O sol ainda nem havia nascido, e meu corpo já estava enjoado de estar deitado.

Olhei para a cabeceira da cama, onde havia um relógio em formato de sapo, que vovó tinha me dado no ultimo aniversário, e ele marcava 05h15min.

Era comum acordar cedo, depois de ter mais um sonho daqueles. Eu sempre via pela janela a cidade inteira dormir, enquanto eu simplesmente tentava ligar as coisas que aconteciam no sonho.

Daquela vez não foi diferente.

Eu levantei com a sonolência de sempre ,e fui até a janela olhar para o céu, que ainda era negro lá fora. E quanto mais tentava lembrar, menos conseguia. Então tentei relaxar e segui rumo a cozinha. Arrastando os pés eu segui pelo longo corredor que levava até as escadas, sem parar nenhum segundo de piscar os olhos e bocejar. Desci as escadas de maneira silenciosa, e segui até o armário de copos na cozinha, para me servir. A torneira moderna, que Peter havia instalado, não fazia nenhum ruído enquanto a água descia, de modo que tinha que ficar o tempo todo me certificando que o objeto metálico estava mesmo funcionando.

Depois de beber, o que parecia meio oceano, segui o mesmo caminho pelo qual havia ido.

Enquanto andava pelo mesmo corredor, que separava os quartos da casa, ouvia os barulhos ensurdecedores que vinham do quarto na última porta.

Era engraçado como eu ainda ria, sempre que ouvia, os roncos barulhentos do meu padrasto. Ás vezes ficava tentando imaginar, como minha mãe conseguia dormir com tanto barulho, porem nunca havia ela reclamar.

Abafei a boca com a mão, quando uma pequena risada surgiu, logo após um engasgo do coitado. E nem pensei duas vezes em apressar o passo, antes que eu acabasse caindo na gargalhada, acordando todos na casa.

Entrei no meu quarto e fechei a porta com cuidado. Depois me sentei na cama e tentei lembrar do sonho mais uma vez.

Nada.

Desisti depois da décima quarta tentativa, e fui tomar uma chuveirada, já que dormir novamente, estava fora de cogitação, se queria chegar a escola a tempo.

1- A Telepata_ PersuadidosOnde histórias criam vida. Descubra agora