1- A Telepata_ Persuadidos

Capítulo 16 - Uma versão do garoto de olhos cinzentos

-Vamos, se concentre.- ele me incentiva.

Esqueci completamente tudo que estava a minha volta. Foquei no objetivo que tinha me sido dado, apesar de ser extremamente cansativo.

Estar em um lugar cheio de pessoas com música alta e luzes piscando era muito mais difícil de controlar do que qualquer outra coisa que tivesse vivenciado.

Já havia frequentado shows, festas e festivais, mas em todas as ocasiões eu estava com a minha mente bloqueada. Estava com aquele muro entre mim e os pensamentos das outras pessoas. Não era nada como aquela noite.

Era fácil passar pelas pessoas se não estivesse com as suas vozes na minha cabeça. Só que abrir o canal que levava o fluxo de pensamentos de todos no recinto até mim era quase impossível. Josh só poderia ser louco de me arrastar para aquela boate cheia de pessoas e pedir que eu encontrasse uma delas e me focasse em ouvir somente os pensamentos daquele indivíduo.

Basicamente, toda vez que eu abria minha mente para poder ouvir os pensamentos das pessoas não acontecia como um telefone, onde você tem alguém ouvindo e outro falando, era mais como um estádio de futebol cantando um hino, só que todos cantando partes diferentes.

E se já era difícil filtrar os pensamentos quando havia duas, três, quatro pessoas, imagina filtrar diante de centenas.

A impressão que eu tinha era que ia desmaiar se deixasse aquilo acontecer, mesmo que Josh me disse que eu estava mais forte a cada dia, eu não me sentia capaz de conseguir fazer algo tão grandioso.

Fechei os olhos por um instante e pensei em todas as vezes que me subestimei, só para logo depois provar a mim mesma que era capaz. Eu não poderia dizer que não conseguia sem nem tentar, ainda mais depois de todo o treinamento que Josh vinha me dando.

-Okay.- falei de olhos fechados.

Então abri os olhos e foquei em uma garota de olhos castanhos, que tinha um corpo atlético e não mais que a minha minúscula altura. Ela dançava com mais duas amigas, parecia estar com o nível de bebida no sangue bem acima do que era permitido para a idade dela. Mas parecia não ligar para isso, seu único foco era se divertir.

Meu olhar estava fixo nela. Como se todo o resto não estivesse lá. Eu precisava de toda a concentração que pudesse ter para olhar dentro da sua cabeça.

Não foi fácil, muito menos rápido, mas quando dei por mim o mundo inteiro tinha silenciado. O som alto, juntamente com os ruídos do ambiente, não estavam mais lá. Eu me sentia sugada para dentro de um buraco negro e tudo que eu podia ouvir era a voz da garota na minha cabeça.

"Hoje eu quero esquecer aquele otário e nada vai me impedir de fazer isso."

Quase como de imediato fui tomada por uma angustia completamente nova. Não era a necessidade de sair da cabeça dela, nem o cansaço que vem em seguida. Era quase como se sentisse empatia com o sentimento dela. Como se eu estivesse absorvendo de alguma forma os seus sentimentos e compartilhando da sua angustia.

Me desliguei por completo quando o aperto no meu peito se tornou quase insuportável e tudo que eu queria fazer era abraçá-la e dizer-lhe que tudo ia ficar bem.

Nunca tinha sentido nada igual, nem remotamente perto. O máximo que meu dom tinha se expandido era em ver pequenos deslumbres do passado de alguém. Pequenos fragmentos de uma memória que já havia habitado os pensamentos das pessoas. Nunca tinha conseguido nada além daquelas pequenas imagens e conseguir fazer algo completamente novo me animou.