Surpresa na Coffeeshop
Claudia entrou esbaforida, mas ainda com sono. Apesar de ser quarta-feira, estava de folga devido às horas extras feitas na semana e ao fechamento da pasta do seu cliente. Praticamente seu único cliente. Olhou entre as mesas e logo viu Rebecca, com seu jeito de ratinho assustado a encarando e acenando, histérica. Claudia largou a pesada porta da Cafeteria, aonde ainda se apoiava, e foi se aproximando com passos rápidos e largos, esperando que o assunto fosse mesmo sério (afinal foi acordada às seis da manhã pelo telefonema da amiga, exigindo um encontro o mais breve possível), mas torcendo para não ser nada grave. Se fosse algo com o trabalho, a pasta errada ou demissão, ela estaria em maus lençóis. Rebecca a deixou preocupada, ela nunca adiantava o assunto a ser tratado.
Mal chegou à mesa, Rebecca já foi atropelando o cumprimento:
– Nós estamos encrencadas, muito encrencadas!
– Ei garota! Bom dia pra você também!
– ai Claudia me desculpe mas...
Percebendo que as duas estavam ainda em pé, Rebecca respira, interrompendo o que dizia, e dá um beijinho no rosto de Claudia que responde o cumprimento.
Rebecca aponta para sentarem. Ambas sentam e ela continua:
– Mas o assunto é mesmo sério, pode ser caso... de policia!
Rebecca quase sussurrou ao falar "polícia", histérica.
Claudia continua estática. "Polícia". Foi isso mesmo que ela ouviu? Mas de onde, como e por quê? Ela revê em sua mente o que fez (ou sabe) que tivesse a ver com isso. E quando Rebecca abre a boca para explicar o pensamento, Claudia adivinha o que sairá de lá:
– nosso cliente é um gangster!
Rebecca sussurra como se estivesse gritando.
Ao que Claudia responde como se mal tivesse ouvido.
– Ahn... de onde você tirou isso?
Cinismo puro por parte de Claudia, pois sabia de onde ela mesma teria tirado "isso"; dos números que o tal cliente apresentava para que ela desse conta de disfarçar. Mas sinceramente não havia se importado, depois de quase um ano no país sem um emprego decente como contadora, não podia desperdiçar o que apareceu; uma pequena firma com no máximo seis funcionários, trabalhando em sua maioria para restaurantes, armazéns e estabelecimentos comerciais do estilo.
Desde que chegou ao emprego, pegou a pasta de um cliente entre alguns que depois de quatro meses de trabalho, pediu exclusividade a ela, que acabou estendendo à Rebecca, que também trabalhava para o mesmo cliente, só que relacionado a outro estabelecimento. Com isso, elas deixavam de ganhar com outros clientes, mas ele sempre mandava uma bonificação às duas. Elas já estavam com a pasta do Sr. Jagger fazia um ano e três meses. Graças a esse emprego, Claudia podia alugar um apartamento de um quarto no Harlem, de frente ao Central Park, e fazer uma poupança magra, mas constante.
– Eu desconfiava de algo, mas agora...
Rebecca coloca em cima da mesa um jornal, apontando para uma manchete que dizia "Cocaína matinal: Apreendido no porto carregamento de drogas escondidas entre grãos de cereais". Claudia olha por um momento e logo encara Rebecca, dizendo:
– E dai?
— E dai? E dai que esse carregamento ai, está sendo ligado a um cara chamado John Abdel Mataha, e segundo as informações do jornal, corresponde a pasta que fizemos no mês passado! Você lembra?
— Hum. Bem, mas esse não é o nome do nosso cliente, então...
— Ai é que está! Como poderiam existir duas pessoas com as mesmas exatas informações? Olha, eu desconfio do nosso chefe, ele tem cara de ser desonesto... digo, não com a gente, que recebe direitinho, mas com o governo ou mesmo a justiça!
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Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]
General FictionROMANCE + THRILLER DE CONSPIRAÇÃO Claudia Cazarotto é uma contadora brasileira que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma nova chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é...