— E este aqui é o deck do quarto! – disse Leontine animadamente.
— É realmente impressionante, o espaço é incrível! – Cláudia admirou, e voltou-se para West – parece uma casa perfeita para montar uma família, não?
Brincou mantendo a expressão serena, já esperando a cara um tanto constrangida que ele previsivelmente faria. De certa forma, Leontine o acompanhou no constrangimento e então rapidamente chamou a atenção para outra coisa:
— Eu acho que West fez uma escolha ótima, em especial lá pelo quintal, onde vamos almoçar nesse dia lindo! – agarrou o braço de Lucca – você pre-ci-sa ver o que o decorador que indiquei fez no espaço.
— Ah, aquele que usou umas estampas do Herchkovich pra compor com os móveis? – animou-se a seguindo empolgado.
Leontine e Lucca seguiam a frente tagarelando sobre as novidades – Lucca estava indo morar em um dormitório próximo a faculdade –, e falando com os demais ao mesmo tempo em que os ignoravam.
West se aproximou assim que eles se afastaram, e no caminho perguntou à Cláudia sobre como ela havia conhecido o chefe Nakashima. A contadora olhou para ele franzindo a testa, como quem tentasse se lembrar a quem ele se referia.
— O Japonês... – completou constrangido.
— Humm, sim, Nakashima é um nome japonês, mas... Ah! Lembrei, algum amigo meu do consulado falou dele – riu e ironizou – parece que eu me dou bem com os descendentes! – brincou apontando para a direção do sobrinho e os dois sorriram.
West não a deteve novamente. Apenas a observou se afastar um pouco mais dele. ela era realmente boa em disfarçar, mas West tinha lá seus trinta anos de profissão e sabia identificar quando alguém mentia.
O almoço seguiu melhor do que se podia imaginar, e em partes isso foi de responsabilidade de Lucca – revelando uma admirável destreza social para um jovem estrangeiro – que soube manejar os interesses das conversas e até conseguiu uma participação maior e amigável por parte de West (geralmente tão calado).
***
Enquanto arrumava algumas de suas roupas, Leontine viu uma oportunidade de perguntar algo à West sem levantar suspeitas.
— Eu não sabia que você estava trabalhando com o pai da Yukie... o Nakashima. Ele que te procurou?
— Ah, hum... uma indicação... – respondeu sem muita atenção.
Leontine franziu a testa enquanto dobrava algumas blusinhas.
O que ela ouviu mais cedo enquanto Cláudia e West trocaram algumas poucas palavras fez sentido. E isso a deixou encucada.
***
Aquela tarde em especial estava típica da primavera. Caia pela segunda vez uma chuva grossa que começou tão repentinamente quanto terminou a anterior. Dentro do escritório, Cláudia não conseguia ouvir, mas a observava distraidamente e sobressaltou quando o telefone tocou.
Olhou a hora e atendeu.
— Obrigada Ana – desligou.
A secretaria nada precisou falar, pois Cláudia já sabia do que se tratava.
Há alguns dias havia pedido para Ana Lucia conseguisse a agenda de compromissos da funcionaria do consulado, Olivia Tokugawa. Com alguns contatos, pode ver que ela compareceu a alguns compromissos em jantares e reuniões, e que naquele dia, estaria almoçando em um recém inaugurado restaurante japonês, não tão distante dali.
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Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]
General FictionROMANCE + THRILLER DE CONSPIRAÇÃO Claudia Cazarotto é uma contadora brasileira que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma nova chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é...