Capítulo 48: Discrições necessárias

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Uma semana se passou e nela Cláudia se viu às voltas com Maguire e Seth, pois ambos estavam disponíveis e queriam vê-la. E embora sua cabeça estivesse mais concentrada em outras coisas, ela não podia negar que estava com vontade de desanuviar. Queria ter marcado um café com Seth para passearem no centro, mas ao mesmo tempo não queria ser vista com ele, sendo assim acabaram se encontrando para um jantar discreto no meio da semana seguido por um cinema que não se delongou, pois ambos tinham o que fazer com o finalzinho de noite que lhes restava.

— Enquanto você estuda e termina seu projeto para a universidade, eu também preciso estudar uns novos clientes e projetos para a Blue Velvet pra nossa reunião na costa leste... – ele fez cara de cansado.

— Sabe que eu acho curioso o fato de você nunca ter se formado? – ele apenas a olhou com um sorriso curioso, e ela explicou – É que você é tão inteligente, sabe um monte de coisas...

— Ah sim, sou o famoso sabe tudo-especialista em nada – gargalhou – na minha área de atuação a formação acadêmica não é tão necessária... talvez quando eu me aposentar eu me dedique mais aos estudos de forma séria. Quem sabe você não me inspira?

— Até lá já fui ao máximo que poderia com a contabilidade – riu – Poderíamos começar uma coisa completamente nova... – pensou por alguns instantes – que tal filosofia?

Seth fez cara de surpresa.

— Taí, parece uma ótima escolha!

Riram juntos e se despediram com um beijo no rosto, dado estrategicamente mais perto dos lábios, de forma discreta.

Com Maguire marcou um café logo após seu treino. Ele estava mal humorado como sempre e isso era de certa forma engraçado, pois com Cláudia ele acabava fazendo piada da sua rabugice ou mesmo do que o estava incomodando. Falaram mal de várias coisas, das corriqueiras às absurdas e passaram o resto da tarde até o inicio da noite no parque, onde decidiram alugar bicicletas para andarem juntos.

Tiveram que parar um pouco na metade do caminho. Ele estava com uma péssima forma.

— O quê, mas já? – ela brincou.

— Nossa, nem fale isso... – ele arfava visivelmente cansado – cacete, eu tô mesmo um velho!

— Que nada! você ainda é cheio de energia – brincou maliciosa.

— Há há há... é por que pra algumas coisas a gente pode ficar deitado né? – gargalhou – Jesus! Eu preciso melhorar esse condicionamento físico é pra já, se não tô fodido...

— Nossa, mas pra que tudo isso, o que houve? – se preocupou Cláudia, imaginando que poderia ser algum caso de saúde.

— Tô de olho no FBI, não te contei? Pensei que tivesse falado... mas, preciso estar inteiro né? Se não...

— Ah claro que falou! Então vai rolar mesmo? – comemorou animada.

Ele então falou que anda sendo sondado e que não aguenta mais o departamento de homicídios. Maguire não era de falar muito sobre os casos que pegava, embora uma vez ou outra soltasse algo, dado à tensão que era trabalhar com casos de assassinatos. E nesse dia, ele confessou que estava mesmo cansado. Vinte anos trabalhando na polícia, pelo menos dezessete em homicídios. Isso o deixava tão cansado, se deparar com o que havia de mais atroz e mesquinho nas pessoas: a fúria ou a crueldade que levavam ao assassinato.

Toda vez que Maguire falava sobre suas experiências, Cláudia se sentia muito mal. Era impossível para ela não lembrar o episódio da briga na adolescência onde acredita ter matado um homem. Era impossível não se repreender pelos impulsos violentos que tinha toda vez que precisava engolir em seco o fato dos dossiês e julgamentos que não eram levados à frente na sua época de trabalho no Brasil, ou mesmo essa vontade que ela sentia de acabar com a raça de algumas pessoas (como o noivo de Yukie, por exemplo), políticos, enganadores, com suas próprias mãos. Cláudia ouvia Maguire falar e se achava suja, pois ele por mais ranzinza que fosse, nunca saía da linha. Ele nunca ia atrás de um bandido sem que fosse pelas regras, ele nunca se deixava tomar pela ira. Maguire era um ser humano exemplar, Cláudia era apenas uma besta furiosa bem adestrada.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora