Rebecca e Claudia marcaram de se encontrar na Quinta Avenida, a fim de encontrar uma roupa apropriada a uma reunião de negócios no Palisades. Esse era uma dos bairros mais ricos da região metropolitana de Nova York. Ficava próximo ao Rio Hudson, e tinha uma visão incrível de Manhattan. Uma mansão nesse bairro chegava facilmente aos vários milhões de dólares. Causar uma boa impressão era imprescindível.
Rebecca avistou Claudia de longe, que vinha linda e com seu andar confiante. Ela já havia reparado que geralmente as pessoas abriam o caminho para Claudia passar, tamanha sua segurança de espírito e elegância. Apesar de não ser nem de perto assim, Rebecca não chegava a invejar a amiga, na verdade admirava, e costumava ter a disposição de aprender com ela essa autoestima toda. Depois de mais de um ano de convivência, pode dizer que aprendeu coisas úteis com Claudia, e isso a fazia satisfeita.
E por gostar da amiga, ainda estava preocupada com o assunto inacabado na noite anterior. Será que Claudia descobriu sobre Maguire? E se não, será que deveria contar?
Quanto mais Claudia se aproximava, mais Rebecca fazia careta.
Caretas de quem está preocupado. Ou conversando mentalmente consigo mesmo. E em obvio conflito. Claudia já sabia do que se tratava, mas por detrás daqueles imensos óculos escuros, deu para disfarçar o olhar um tiquinho preocupado.
Rebecca apertava a boca fazendo-a ficar disforme, pois tudo o que ela parecia fazer era não sorrir. Mas jurava que estava dando mostrando os dentes belamente, disfarçando a angustia.
Claudia parou em sua frente, e levantou uma sobrancelha enquanto baixava os óculos escuros.
— Eu já sei o que você queria me falar.
— Oh, deus, ufa... ainda bem, eu não ia conseguir fingir o dia todo!
Claudia concordou com um sorriso sarcástico.
— Mas e agora Claudia? Você não me ouviu e acabou indo com ele, como vai fazer e... e ai, como foi? Ele parecia te adorar, e deu pra notar que estava louco pra ficar à sós contigo!
Rebecca começou no tom de preocupação e terminou no de cumplicidade. Estava curiosíssima sobre a noite tão aguardada pela amiga. Claudia continuou no tom animado ao responde-la:
— Foi... ótimo! Há há há, foi muito bom mesmo! Ele é gostoso e meigo e tem um... ah, Foi ótimo! Vamos sair de novo hoje, talvez!
— Aaaai! Que legal!
De repente Rebecca se força a voltar à realidade. Ele era um policial!
— ...Não, que legal nada, ele é um tira, Claudia! Eu sabia que tinha visto a cara dele antes!
— É legal sim, ele é gostoso, gente boa e tamos afim! E sobre isso de tira... eu levei um susto, confesso. Mas e daí?
— E daí? Menina, já esqueceu das pastas? Gangsteres? Máfia? FBI?
Claudia, faz apenas uma careta para Rebecca, de desaprovação, e coloca a mão espalmada em frente ao rosto da amiga.
— Parou... chega de viajar e vamos voltar pra Nova York, Becky. Ok? Não esqueci de nada, só não tô vendo da mesma perspectiva absurda que você. Não tem federais, não tem máfia, nem gangsteres.
Na verdade Claudia tinha pensado nisso tudo, claro. Mas era melhor não deixar Rebecca perceber, ela iria piorar as coisas.
Claudia tratou de colocar tudo na perspectiva certa para Rebecca. Ele era um policial, detetive, do departamento de homicídios. Ainda por cima, do distrito do Harlem. Vivia lidando obviamente, com problemas de violência urbana. Harlem era barra pesada. Não era federal, longe disso, então não havia com o que se preocupar. Mesmo se fosse um "federal disfarçado", teria que ser de algo relacionado a crime organizado. Não era o caso. Homicídio é uma coisa, máfia é outra, salvadas as devidas ironias. Diante este raciocínio de Claudia, Rebecca se acalmou mais.
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Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]
General FictionROMANCE + THRILLER DE CONSPIRAÇÃO Claudia Cazarotto é uma contadora brasileira que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma nova chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é...