Capítulo 2: Jagger tem uma proposta

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Claudia passou o resto do dia revisando as pastas do cliente, pensando nas desconfianças de Rebecca e nas consequências caso fossem justificadas. Era por volta de cinco da tarde quando o telefone tocou. Claudia atendeu. Era Jagger:

– Boa tarde senhorita Cazarotto.

– Hã, sim. Bo-boa tarde.

– Gostaria de conversar com você sobre seu trabalho, tenho uma proposta a lhe fazer.

– Pois sim? Digo, pois não? Er... sim, estou ouvindo.

– Prefiro um encontro pessoalmente, hoje no Michael's às sete e meia. Acredito que não seja um problema para a senhorita.

– Não... seria.

– Como?

– Não seria. Não seria um problema. Nos vemos lá.

Ela desliga rapidamente.

Como sempre, ele era muito autoritário, direto e seco.

Essa conversa teria sido completamente normal antes do encontro com Rebecca.

Claudia olha o relógio na parede e resolve começar a se arrumar. Esse restaurante era numa área nobre, conhecido por ser frequentado por executivos, políticos, tudo muito ostensivo. Ou seja, era um lugar para "fazer cena". Ela precisava da sua melhor roupa. Em Nova York, se você almeja um bom emprego precisa demonstrar que é capaz de manter a aparência dele, não muito diferente de sua cidade natal.

Neste momento ela estava abaixo, bem abaixo na escalada social. Teria que se contentar com um blazer mais descontraído Marc Jacobs de tom terra avermelhada, e o restante; blusa cinza escura e calça alfaiataria grafite da Prada, coleção do período cretáceo, mas é o que tinha para hoje. Infelizmente a primavera ainda estava no seu inicio (o gelo tinha ido embora, mas ainda havia uma lembrança do inverno), e ela precisaria usar um dos seus sobretudos de liquidação da Zara (o que significa que era melhor ela chegar mais cedo, para se livrar dele logo na entrada, antes que Jagger a visse).

Ligou o radio e deixou tocando alto enquanto tomava banho e depois se vestia andando pelo apartamento, cantando sozinha. Ela precisava relaxar um pouco antes de ir ver a cara de merda do Jagger.

It's Friday I'm in love... ah, droga hoje é mesmo "Wednesday heart attack".

Chegou pontualmente ao restaurante e a recepcionista a encaminhou até a mesa. Jagger já a aguardava.

Droga! Será que ele reparou no sobretudo chinfrim?

Nunca se sentia a vontade com ele, mesmo quando falava sobre algo do seu domínio. Ele era tão sisudo que intimidava qualquer sentimento de conforto ou leveza que ousasse se aproximar dos recintos. Tinha a aparência típica dos homens caucasianos loiros, comum.

Eles se cumprimentaram e sentaram.

Jagger sugeriu um vinho, e ela não fez objeção. Durante a escolha do prato, Claudia procurou ser rápida. Ela queria que essa situação toda passasse. Ela detesta comer com pessoas desconhecidas. Jagger também fez a escolha sem rodeios e após a saída do garçom disse:

— Conforme conversamos ao telefone Cazarotto, venho aqui lhe fazer uma proposta.

— Claro...

Claudia começou a ficar apreensiva. Jagger apoiou o antebraço na mesa e segurou as mãos. Uma sobre a outra, meticulosamente.

— Faz algum tempo que você cuida de minha contabilidade, e sempre fez um ótimo trabalho. Pelo que se percebe, poderia dizer que você é mais competente do que o Vitti, seu chefe.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora