Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]

Capítulo 46: Lembrete: você não pertence a esse ninho.

Cláudia acordou mais cedo naquele dia e seguiu com os planos: corrida e em seguida pegou seu violão para continuar a prática a qual se dedicava fazia uma semana, afinal faz anos que ela não toca por muito tempo, especialmente porque trocou a viola pela bateria basicamente desde a adolescência.

Quando chegou na mansão, apenas West não havia chegado ainda. Mas estavam lá o casal Silva e o casal Christus com seu filho, além claramente da anfitriã Cristina. Além deles, apenas a matriarca dos Cunnings, Anabella. Cláudia lamentou por Seth não estar, mas em meio aos amigos talvez ficasse evidente que eles tinham alguma coisa, então, foi conveniente a ausência dele.

Haviam mesas próximas à piscina e churrasqueira, já arrumadas e devido ao caráter intimo da reunião, não haviam empregados da casa presentes. Isso deixava a todos mais à vontade, e as conversas adquiriam um tom extremamente informal. Foi a primeira vez que Cláudia pode ver a intimidade que Cristina tinha com os associados e suas famílias. Diferente da reunião na casa de Cláudia (onde Cristina estava até que a vontade) agora ela estava em sua própria casa e regada de vários tipos diferentes de bebida, o que ajudava na descontração.

Não demorou para que West chegasse acompanhado de Leontine.

— Oi, vim por sua causa – confidenciou baixinho Leo ao ouvido de Cláudia – tô super curiosa pra ouvir a musica que vocês vão tocar.

Leontine estava animada e West também parecia curioso.

Enquanto ainda "se esquentavam" iniciando o preparo do churrasco, arrumando as mesas e bebidas, conversavam sobre qualquer coisa; gostos, experiências, opiniões e claro, política.

Cristina observava Anabella sondando Cláudia, como ela previra que aconteceria: todos do meio íntimo de Seth estavam cansados de saber que ele andava de olho em alguém, e ao ver a cara nova entre os associados, Anabella não precisou pensar duas vezes para saber quem era a escolhida. A conversa era generalizada, e basicamente todos os interessados davam opinião sobre o que achavam. E era nítido para ela que a mãe não estava gostando do que ouvia das opiniões de Cláudia que eram nitidamente destoantes das suas: uma mulher branca, rica e tradicionalista siciliana.

— Quem vai levar essa agora?

— Democratas, certeza! – Cláudia dizia.

Percebeu alguns narizes tortos de incredulidade, na verdade a maioria deles, e isso a deixou um pouco incomodada.

— Espere... vocês acham que o último governo foi bom? – perguntou chocada.

— hum – grunhiu West – economicamente falando...

— Não estamos falando só de economia, governar é pra economia, pra sociedade, pra educação... – Cláudia argumentava.

— Nunca vi uma crise que não se resolvesse com dinheiro – Anabella sorriu fazendo graça – muito me admira uma contadora dizer isso! – observou e todos caíram na risada.

Cláudia ficou um pouco sem graça, mas comentou discretamente.

— Bem, não vamos nos preocupar com o déficit, pois ele é grande o suficiente pra se cuidar sozinho, não é?* – riu disfarçando seu incomodo ao ter sido motivo de riso. Não que se afetasse demais, até porque ali ainda estava em um circulo restrito, mas não poderia dizer que estava tranquila com isso. Ela ainda era julgada e por mais que todos fossem simpáticos à ela, Cláudia ainda não poderia se dizer amiga íntima de ninguém ali, exceto Leontine.

Logo o assunto foi mudado para o que lhes interessava ali no momento: comida, bebida e música. Os Silva combinaram com Cláudia algumas músicas e no repertorio, seriam entre bossa, samba e algumas famosas de Gonzaga. Não faltou um sambinha de Cartola e Paulinho da Viola, mas a coisa tendeu mais para o lado nordestino, especialmente porque Maria tocava muito bem o acordeão, enquanto Tony, para acompanhar, alternava entre o triângulo e o pandeiro (sendo que esse Cláudia pediu para tocar, pois percussão ainda era sua maior habilidade). Mas Cláudia puxou uma consagrada por Gonzaga e Fagner só que em uma versão mais próxima da moda de viola: