Capítulo 65: O tabuleiro

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— Pois eu quero começar com a oferta. Quero saber quem foi o responsável por armar contra meu irmão.

Cristina soltou a ideia como um rojão e o silêncio que se fez depois disso ecoou naquela imensa sala da mansão do Palisades, que se encontrava aparentemente deserta. Exceto pelas quatro mulheres e alguns poucos empregados, que estavam àquelas horas, já recolhidos.

Rebecca boquiaberta lançou um olhar rápido para Cláudia que o retribuiu.

Passaram as horas anteriores conversando estritamente sobre a organização e como ela se daria. Decidiram que formariam uma rede, e que abririam uma empresa de seguros como fachada para fazer as conexões necessárias. Conversaram sobre implicações legais e orçamentárias, que diante a presença de Cristina Summers seriam pequenas, visto seus contatos. Rebecca se responsabilizou por cuidar da contabilidade, Leontine disse que arcaria com a parte legal, fazendo todo o levantamento do qual precisassem. Cristina pensaria em uma boa corretora que pudesse colocar à frente da empresa. Cláudia se encarregaria de conectar as pessoas certas à organização e a empresa.

Então, apesar de o assunto girar em torno disso, ninguém comentou absolutamente nada sobre o acontecido a Marcus. Todas já tinham dado as condolências em outras oportunidades, e visto que Cristina parecia querer ignorar o assunto, ninguém o trouxe a tona.

Por isso a surpresa diante a repentina declaração dela, bem quando já encerraram o assunto profissional e iniciavam os preparativos para deixarem a reunião.

Rebecca discretamente arrumou alguns fios de cabelo atrás da orelha.

Claro que ela soube que o irmão dos responsáveis pela empresa estava hospitalizado em estado grave. O problema é que a boca pequena dizia se tratar de um atentado, e não se sabia bem a quê se devia. E ao trocar olhares com Cláudia, teve a impressão de que a amiga sabia de mais coisas. Algum tempo antes ela poderia ignorar esses aspectos, mas depois de ter conhecido certa pessoa, os olhos dela se abriram para uma face da empresa de que pouco dava atenção. Como quem sabe que existe algo, mas ignora. Até o dia que tem contato direto com esse algo e então, ele lhe é impossível de ser ignorado.

Cláudia suspirou e encarou Cristina. O que a empresária entendeu como sinal de compreensão e apoio na verdade era, de certa forma, compaixão. Afinal, por mais que Cláudia tentasse, não conseguia imaginar o que Cristina sentiria se soubesse que se tratava de seu próprio amante. O quanto do que passaram juntos não seria questionado? O quanto de alguns pequenos gestos incompreensíveis de Wyclef agora poderiam lhe fazer sentido, e o quanto se culparia ou odiaria por isso?

Ao pensar nisso, virou o rosto para Cristina e seu olhar levantou até o dela com altivez:

—Eu vou cuidar disso pra você.

A voz de Cláudia continha uma firmeza que nenhuma delas havia visto antes. Por um momento, Leontine chegou a estremecer. Reconhecia ali, em alguma nota, uma imensa raiva contida.

***

Sem nenhum motivo aparente, mantiveram-se em silêncio no carro até quase chegar à ponte que daria em Manhattan. Até que ela tomou coragem de abordar:

— Você sabe quem é, não sabe?

Cláudia apenas olhou Leontine de soslaio, fingindo precisar prestar atenção ao trânsito. Deu de ombros. Da forma como ela fez, para quem a conhecia, o gesto era uma afirmativa.

— Não vai me dizer que é aquele... — Rebecca no impulso segurou no banco da frente, onde Cláudia estava, mas se interrompeu. O silêncio da amiga a respondeu. Voltou a encostar-se no banco.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora