Saiu do consulado japonês direto para encontrar com Leontine, com quem falou ainda no carro. Marcaram em uma confeitaria segura.
— Lucinha, vou te deixar em casa no caminho. Acho que por hoje foi muita informação pra você – sorriu condescendente — que fique entre nós, isso é um assunto além da empresa.
— Primeiramente eu trabalho para você, depois para a empresa. Eu espero sinceramente que obtenha sucesso. Se precisar de mim, é só falar.
Cláudia confiava nela, foi muito bem recomendada e não havia absolutamente nada em seu comportamento que denotasse que não era de confiança. Ficou feliz de poder contar com Lucinha, mas não queria que ela se envolvesse demais sem necessidade.
Quando chegou à confeitaria, se dirigiu a uma área discreta, onde Leontine a esperava. Cumprimentaram-se, estavam ambas ansiosas e apreensivas. Cláudia contou a ela sobre as possibilidades de dar um jeito no problema, tomando o cuidado de não citar a diplomata.
Leontine se desanimou.
— O problema, é que eu só conheço gente que é cooptada pela minha família, e mesmo se eu indicasse pra que pedisse ajuda, eles não ajudariam, pois não posso usar o nome dos Gambino pra isso.
Afinal, o pai dela havia dito que não se meteria. Se descobrisse que Leontine o desobedeceu, a punição seria severa.
— Queria conhecer um policial realmente honesto. – lamentou.
Cláudia naturalmente já estava com o nome de Maguire em sua cabeça desde que saiu do consulado japonês. Mas havia um porém: ele era um aspirante ao FBI e muito embora seu irmão já pertencesse aos federais, ela não podia colocar a mão no fogo pelo grandalhão com cara de personagem de filme de ação dos anos 80. Leontine era a prova de que uma família com certa fama pode ter membros completamente diferentes de tal renome. Havia também algo além:
— Policial honesto eu arrumo, a questão é se os chefes deles também serão.
— Claro, você tem razão. O Alto escalão... – Leontine franziu as sobrancelhas e entortou o nariz – olha... eu não conheço os bons, mas sei quem são as frutas podres. É um conhecimento ao contrario, mas pode ajudar! – ela bateu palminhas e sorriu.
Ela tinha razão, e Cláudia concordou.
— Então, tudo o que precisamos é que essas informações não cheguem na mão de alguns grandões...
E Leontine revelou o nome de alguns chefes de policia e juízes suspeitos, que Cláudia tomou nota mentalmente e assim que chegou ao carro tratou de anotar. Os números não lhe escapam, mas os nomes...
Se eu não anotar todo mundo ganha apelido esquisito e ninguém vai saber de quem estou falando a não ser eu mesma!
Sorriu satisfeita e ligou para Maguire no mesmo dia.
***
Estava cochilando em frente a TV com o controle remoto quase caindo de sua mão. O barulho insistente do telefone o acordou.
Maguire passou as mãos pesadamente no rosto e em seguida alcançou o celular ao lado da poltrona.
Atendeu de mau humor e ouviu um pedido de desculpas do outro lado da linha. Era Cláudia. Ele pigarreou e disse que estava cochilando, muito embora fosse apenas oito horas da noite.
— Muito trabalho.
Ela compreendeu. Maguire estava com dois casos em andamento e um terceiro acabara de voltar dos arquivos. Um assassino que não tinham conseguido pegar há alguns anos atrás e agora talvez pudessem. Mas ele não se delongou no assunto, por vezes ele começava a falar como se estivesse se explicando. Podia ser sua própria consciência tentando se justificar sobre o que estava fazendo que não pegava os bandidos logo. Se ele pudesse, resolveria tudo em um dia, mas sabia que precisava esperar. Como desejava sair da homicídios.
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Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]
General FictionROMANCE + THRILLER DE CONSPIRAÇÃO Claudia Cazarotto é uma contadora brasileira que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma nova chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é...