Cristina tinha uma das sobrancelhas arqueadas, com ar irônico.
— Olá Cláudia! Está surpresa ao me ver – riu – é evidente.
— Ora, mas é claro! Você não vem me visitar faz tempos – abriu um sorriso e tergiversou.
Polidamente cumprimentou Cristina e convidou ambas a tomarem alguma coisa.
Cristina acompanhou a pequena rotina das amigas com seus instrumentos, que segundo elas, as ajudavam a se esquecer do mundo e dos problemas. E ficou impressionada com a habilidade delas, não imaginava que Rebecca tocasse guitarra, nem que Cláudia tinha esse aspecto mais enérgico de um baterista.
Entre o descanso delas, um certo clima pairava no ar enquanto as duas recuperavam seu fôlego. Em uma troca de olhares, Cláudia entendeu que possivelmente Rebecca havia convidado Cristina. E Cristina ter aceito, significava algo.
A conversa estava mais para um bate-papo onde comentavam qualquer coisa sobre qualquer assunto. Sempre regado a bebida e música alta.
Algumas vezes, as três falavam de coisas completamente diferentes ao mesmo tempo; o clima, os namoros, lançamentos do cinema, trabalho. Mas quanto mais o assunto ficava mais pessoal, mais enredavam em tópicos sérios...
— Existem coisas que você não se sente a vontade de falar com ninguém... talvez apenas com outra mulher – Rebecca ponderou.
— Embora falar ajude um pouco, mas... as vezes... sei lá, as vezes queria que alguém fosse lá e resolvesse o problema. Tipo aquele filme do Woody Allen, mas pra qualquer outra coisa – riu Cláudia.
— Mas nossos maiores problemas não são as relações com os homens?
— Claro que não! Existem várias coisas... digo, pode até ter relação com essa nossa sociedade patriarcal, mas... – Cláudia agitava as mãos, como se buscasse uma justificativa mais palpável.
Cristina riu.
— Sabe o que me deixa louca da vida? Aqueles porcos se organizarem, decidirem as vidas das pessoas baseados nos seus desejos pessoais – de poder ou dos seus pintos, tanto faz! – enquanto nós ficamos como algo a ser desfrutado ou usado...
Cláudia e Rebecca a olharam estupefatas. Rebecca e Cláudia tentavam associar essa fala as informações que possuíam do momento e de vida. E por, obviamente, carecer de algum complemento, Cláudia com uma careta interveio:
— Er, cê tá falando... de... quê, mesmo?
— Ora você sabe muito bem do que eu estou falando! Do Clube. Dos Clubes – Cristina encarava as duas que mantinham ainda a mesma expressão de confusão, agora um pouco alarmadas – Desde sempre esses caras se juntam em clubinhos particulares do bolinha, maçonaria, templários, charutada no cassino, futebol de terça, o que diabo seja!
— Ah, certo, entendi! – Cláudia concordou um pouco mais aliviada.
— Bem, sempre foi assim, não? – comentou Rebecca – as mulheres também tem confrarias desde a antiguidade.
— Pelo visto, pelo mesmo motivo até hoje: garantir nossa sobrevivência!
— ohhhh, isso está indo por um caminho muito esquisito! – Cláudia exclamou – você não vai começar com discursos de ódio aqui vai? vamos matar os homens? Escraviza-los ou o que? por que está pegando esse tom, Cris?
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Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]
General FictionROMANCE + THRILLER DE CONSPIRAÇÃO Claudia Cazarotto é uma contadora brasileira que decide esquecer o turbulento passado em São Paulo e busca em Nova Iorque uma nova chance de recomeçar sua vida. Depois de dois anos sem um bom emprego, ela é...