Capítulo 49: Junta-se a fome com a vontade de comer

63 9 24
                                    

A rotina de corrida foi mudada por um pequeno gesto peculiar. Antes de voltar para casa, Cláudia parou em um telefone público e discou.

O número continuava gravado em sua cabeça, assim como muitos. Sempre teve uma memória invejável e depois de um tempo, percebeu que conseguia guardar os números com mais e mais facilidade. Ter em sua cabeça, registrados com exatidão, alguns valores relacionados a alguns nomes já lhe rendera bons frutos. E ruins também.

Atenderam no terceiro toque. Aquela mesma voz grave, com quê de rouca.

— Olá... Eu sou... er, nós não nos conhecemos, mas falamos ao telefone um certo tempo atrás, por causa de sua amiga... não sei se lembra – Cláudia tinha ensaiado várias vezes o que iria dizer e na hora disse tudo errado.

Ouviu um soltar de ar, típico de um sorriso do outro lado da linha.

— Pode ser – achou graça – pode ser mais especifica?

— Copas.

— Ah tá. Que tem ela? Tá com problema de novo?

— Não, não... é que... eu preciso falar com ela, mas...

— Ai, ai, ai – a voz rouca interrompeu Cláudia, falando lentamente – ô docinho, eu não sou garoto de recados, né? – explicou paciente.

— Eu tenho certeza de que não é! Mas eu também tenho certeza de que é uma pessoa de confiança pra ela – disse de forma doce, quase aduladora — e eu preciso muito, dar uma noticia.

— Espera, espera... fala de novo, não te ouvi direito.

Desconfiada, Cláudia repetiu a frase. Ouviu uma risada de júbilo do outro lado.

— Há, há, há, adorei seu sotaque. Que gracinha, como foi conhecer a Copas, hein?

— Mas gente, qual é o problema disso? – seu tom saiu levemente irritado, lembrou-se de Seth falando algo sobre ter uma relação com Copas ser estranha para ela, no mesmo tom – er, querido... – amenizou a voz e usou um tom que sabe que faz sucesso com os homens — eu estou incomodando você, não é? Eu sinto muito...

— Ora, com essa vozinha você não incomoda ninguém, meu docinho – respondeu simpático.

Cláudia riu para ser simpática.

Esse possível mercenário tá flertando comigo ou só correspondendo a minha forma de falar? Que estranho, por que esse bom humor logo pela manhã?

— Só porque você é uma moça muito educada e tem um sotaque sexy, vou passar seu recadinho à nossa amiga, tá bem? Agora, já que tem o meu número, pode ligar pra mim pra conversar outras coisas, não é? Algo do meu interesse, quem sabe. Vez ou outra eu tô pela cidade fazendo uns trabalhos, sou de confiança e tenho referências melhores que as da Copas, alias. Tô disponível até pra uma cerveja, vou te falar, esse pessoal ai da sua cidade é chato pacas, preciso de contatos decentes por aí.

— Você é realmente muito prestativo e gentil, quando vier te indico uns lugares!

Ela disse, entrando na brincadeira. Ele não tinha um tom sério em nenhum momento, então não adiantava engrossar. Além do que, era um tiro no escuro e ele era o único meio de chegar à Copas (sem usar seus contatos e isso gerar perguntas).

Ouviu então a gargalhada jovial e alta do outro lado do telefone.

— Que figura! – riu – pode deixar eu falo com ela de você.

— Ah eu...

— Sim, eu sei, você é a "Voz Misteriosa" – gargalhou enquanto gracejava, canastrão "e que voz" — Se cuida, docinho.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora