Capítulo 75: o verdadeiro rato

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Não precisou esperar mais de dez minutos.

A Rainha de Copas chegou ao seu lado e ela lhe entregou a pasta.

— Como quer usar isso aqui? – perguntou.

— Vou te dizer depois. Primeiro preciso levar parte disso pra mim. Depois te passo o restante.

Cyrenna apenas concordou. Estava pronta para entrar e encontrar Dallas e decidir o que fazer. Olhou para Claudia agradecida.

Claudia segurou o rosto dela com suas duas mãos e Cyrenna pode sentir como o toque dela era aconchegante. Ela se aproximou e deu um beijo demorado no rosto da amiga. Antes de solta-lo, se olharam longamente com cumplicidade e carinho.

Apesar do andar rápido, a cabeça de Claudia rodava a ponto dela não ter certeza de que estava com a visão clara. Entrou no carro se jogando e pediu para seguir para a Blue Velvet.

Ainda não eram nem sete e meia quando ela entrou em sua sala, depois de atravessar uma andar basicamente vazio. O expediente não havia começado ainda. Se dando conta do espaço ainda vazio, ela começou a se acalmar. Fez um café, bebeu um gole e deixou o resto na xícara.

Abraçou a si mesma enquanto olhava a janela, sentia frio embora a sala estivesse aquecida. Percebeu então que sua blusa estava com respingos de sangue. Foi até o seu banheiro e se trocou. Encarando-se no espelho se perguntava se deveria ou não contar sobre o plano de Viggo de incriminar Seth.

Se ele souber disso, ele conseguirá com certeza reunir provas de que um membro do Clube está armando pra ele. E o que essas pessoas farão?

Ela não tinha certeza. Apesar de ser uma organização de mercenários, havia muito jogo de poder. Talvez, Viggo tivesse aliados o suficiente para impedir que algo mais drástico fosse feito.

Não, eles vão se encobrir. Vão fazer como sempre fazem nesses "clubes de cavalheiros". Seth pode querer mata-lo, mas se não permitirem, ele nada poderá fazer. Com certeza haverá mil e um motivos para afastá-lo somente... quanta civilidade! Porcos! Chega, eu não preciso que Seth faça nada por mim. Essa briga não é mais dele... eu vou pegar a merda da cabeça desse filho da puta e enfiar numa bandeja de prata por mim mesma!

Claudia podia sentir o gosto de ferrugem na boca, e nesse momento era a única coisa que ela desejava.

A ira e o desejo de sangue que vinha guardando embaixo de várias camadas de passividade e controle por todos esses anos, pouco a pouco escorria pelas rachaduras causadas pelos impactos do ano que passou. Se no inicio ela não queria entrar nesse mundo de acordos e violência, agora a única coisa que ela pensava era em colocar essa porta abaixo. Ela também podia jogar esse jogo.

***

Achou estranho quando ela lhe convidou para um café, depois da discussão que tiveram e de mais de um mês sem se falarem. Mas lá estava ele indo para aquela cafeteria suja no Harlem. A curiosidade era maior do que o orgulho.

Além disso, ele farejava que ela teria informações. Desde que encontrou aqueles fuzis automáticos e apareceu o nome Blue Velvet (descobriram que o CEO havia feito uma longa viagem ao Brasil, país de origem da fabricante dos protótipos, coincidentemente) ele imaginou que cedo ou tarde eles iriam se falar por conta disso. Ele sabia que ela era certo alguém dentro da empresa, a única satisfação é que ao menos isso era proteger a si mesma de alguma forma. Talvez ela ainda tivesse um mínimo de instinto de sobrevivência.

Vê-la com um penteado em coque e aquele sobretudo elegante, parecendo uma sóbria diva do cinema, o fez perceber como Claudia destoava de todo o cenário. Não era algo que todos notassem, era só algo nela que havia mudado bastante. E quando a encarou, percebeu também o quanto emagrecera e sua fisionomia adquirira uma expressão mais feroz. Mas quando ela o viu abriu um discreto sorriso, e ele ficou um pouco mais aliviado; ainda reconhecia algo da mulher por quem se apaixonou.

Scrupulo - Vale Quanto Pesa [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora