Descobertas.

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Sexta-feira chegou e o dia estava lindo. Sai do laboratório às 17:00h, como sempre. Estava pensando nos serviço que me aguardavam em casa e senti cansaço por antecipação.
Caminhei até o ponto de ônibus e vi um amontoado de gente no bloco A. Parecia trote. Ouvi várias vozes e de repente alguém falou a palavra gringa. Senti uma coisa estranha e me misturei no meio do pessoal para ver o que seria aquilo.

estava no meio de uma roda de rapazes que prendiam minúsculos pedaços de grafite entre os dente. Eles queriam que ela tirasse o grafite com a boca de cada um usando seus dentes.


Outros caras gritavam como bichos e umas garotas zombavam dela, que chorava, nitidamente com medo. Aquilo mexeu comigo e me encheu de ódio. Agi como que por instinto. Coloquei-me no centro da roda a seu lado.


- Chega dessa palhaçada aqui. A garota não tá a fim disso e vocês tão extrapolando!


- Ih... Quem é essa aí? Advogada dos calouros? - perguntou um dos caras.

- Dá um tempo Lauren! Vai embora! - disse um que me conhecia.


Segurei uma das mãos de e falei em seu ouvido: - Vem comigo.

Fomos saindo da roda e um cara me pegou pelo braço com agressividade.

- Qual é vagabunda?


Desvencilhei-me com força e dei-lhe um soco certeiro no rosto que o derrubou no chão.

- Se te alguém vagabunda aqui é você seu babaca. - olhei para todos - Acabou a palhaçada por hoje. Se vocês estiverem a fim a gente vai na sala da diretoria e joga a merda no ventilador.


Todos ficaram meio sem saber o que fazer. Continuei segurando a mão de e a levei até o banheiro do corredor entre os blocos A,B e C. Entramos e levei-a até a pia.


- Está tudo bem agora querida. - passei água em seu rosto - Não vai acontecer nada com você. Eles são apenas uns idiotas, mas não vão te fazer nenhum mal. - permaneci olhando para ela.


lavou o próprio rosto com mais calma e me afastei. Olhei para minha mão esquerda. Estava dolorida.

- Você se arriscou por mim. Não sabe o quanto me sinto grata! - olhou-me com o rosto ainda molhado.


Fiquei perturbada com aquele olha e nossa proximidade.

- Aqui é difícil de achar papel. Deixa eu ver se... - comecei a procurar papel para poder romper a proximidade - Que sorte! Tem um rolo aqui.


Cortei um bom pedaço de papel e dei a ela.


- Obrigada!


enxugou o rosto e começou a se arrumar diante do espelho. Ou do que sobrou do espelho. Ela vestia um vestido parecido com o que usava no dia em que a conheci, só que era azul. Calçava sandálias de salto alto. Estava com uma mochila de um tom rosa, bem claro. Vendo-a assim parecia uma menina tão jovem, tão indefesa.


- Por que está na faculdade ate uma hora dessas? As aulas da calourada acabam ao meio dia ou às três, no máximo.


- Fui para a biblioteca estudar e acabei às quatro e meia mais ou menos. Caminhei até o ponto de táxi e aqueles rapazes me tiraram de lá dizendo que eu levaria um trote. Então começaram querendo que eu tirasse
pedaços de grafite de entre os dentes deles e eu não quis. Depois vieram aquelas moças e elas riam e diziam várias coisas zombando de mim.

Lembrei da imagem daquele pessoal ao redor dela e me deu muita raiva.


- Você não pode dar mole desse jeito. Tá na cara que é caloura, que é estrangeira, e vai aparecer sempre alguém para encher o saco e te dar trote.

My only love.Onde histórias criam vida. Descubra agora