Desencontros

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- Ai Camz, o que eu visto? – mexia nas roupas dentro do armário. - Tá um calor demais e parece que nada serve.

Camz pegou dois cabides com roupas e me mostrou.

- Que tal esta saia preta e esta blusa azul? Ela é frente única e você não sentirá calor.

- É, boa! – peguei as roupas – Eu fico bem com isso? – olhei para ela.

- Maravilhosa! – beijou minha boca - Agora vá se vestir por causa da hora! – deu um tapinha na minha bunda

- Você tem certeza de que não vai comigo?

- Agora não é o momento. Vocês precisam ter uma conversa séria entre mãe e filha e eu só iria atrapalhar. Ela não me conhece e não ficaria à vontade.

- Como será essa conversa hein? – vestia a roupa

- Na hora você saberá.

- Eu... eu queria ajudar ela. Tirar de lá daquela pobreza.

- Nós faremos isso. – nos entreolhamos e sorrimos – Uma coisa de cada vez.

Já eram dez horas e nada! Eu andava tanto pelos mesmos lugares que o chão deveria estar marcado. Olhava por dentro e por fora da igreja e nada. Ainda insisti em esperar mais, só que em vão. Fiquei aborrecida e naquele dia nem almocei. Fui embora às 13:00h mais ou menos.

Cheguei em casa muito chateada e não quis tocar no assunto. Saí para correr e me joguei no mar com roupa e tudo. Revivi as emoções da infância, minha mãe era sempre assim. Eu esperava e ela não vinha.

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Os dias passaram e Camz me convenceu a procurar por minha mãe, só que dessa vez pedi para que fosse comigo. E no sábado fomos para o Afogados, uma semana depois do encontro frustrado. Camz ficou extremamente chocada com o que viu mas manteve-se firme. Paramos em frente a casa e percebi uns barulhos que vinham do interior. Respirei fundo e bati palmas chamando por ela. Logo um homem atendeu.

- Quem é? – perguntou nos olhando de cima a baixo.

- Lauren. Clara está?

- Lauren? – perguntou desconfiado.

- A filha dela. – Camz completou.

- Ah! – ficou de boca aberta – Tu é... – coçou a cabeça – Eu sou o companheiro dela, nós tinha até um menino que morreu...

- Sinto muito. - "Então eles voltaram..." - Mas, cadê ela?

- É pena... – olhou para mim desanimado.

- Por que? Cadê ela? Não me diga que foi pra Bahia de novo?

- Não... Agora ela foi pro céu...

- O que?? – senti um choque no peito.

Camz segurou meu braço preocupada.

- Ela... Que aconteceu? – perguntou surpresa.

- Ela saiu daqui no sábado passado, diz que conversou com Dézinha e foi... Num sei onde ia. Mas foi atropelada aqui perto e diz que o safado fugiu. Toninho viu tudo! Diz que morreu antes de chegá assistença.

- Ela ia encontrar comigo... – foi só o que consegui dizer.

Camz segurou minha mão com força e a beijou

- Onde ela está agora? – perguntou.

- No cemitério Santo Amaro. Trabaio lá e dei modo di interrá o menino e ela. Tão em cova rasa nu chão.

My only love.Onde histórias criam vida. Descubra agora