Eu te amo

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Eu andava em um lugar cheio de vielas estreitas, sentia um cheiro de azedo, como vômito, eu ouvia crianças chorando. Olhei ao redor e vi casas erguidas com paredes de tábuas de madeira ou folhas de papelão. O chão em que pisava era de terra umedecida por valas de esgoto que corriam a céu aberto.

"Meu Deus, que pobreza!"

Não sabia porque, mas sabia que estava em algum lugar no Recife, cidade que nem conhecia. Parei de frente a uma casa horrível, quase se desmoronando, e de repente a tábua que servia de porta começou a se mexer. Vi uma mulher sair de lá de dentro, de cabeça baixa, e, uma vez do lado de fora, ela levantou a cabeça e me olhou. Ela era como eu, só que mais velha, e tinha os olhos pretos.

- Lauren? Você é Lauren?

- E quem é você? Como sabe meu nome? - perguntei.

- Sou sua mãe!


E daí tudo ficou escuro.


**********


Acordei com o corpo todo doído, a cabeça aérea e a boca seca. Sentia uma sede violenta e ouvia barulhinhos engraçados como que de um monte de coisas piando. Abri os olhos. Vi um homem de branco de costas para mim lendo alguma coisa. Segurava uma bacia metálica.


- Onde eu tô? Cadê a Camz?

Ele me olhou surpreso e esboçou um belo sorriso. Era um moreno bonito, alto e bronzeado dos olhos verdes. "Gente, que homem é esse?"


- Olá Lauren, bom dia! Você está em um dos melhores hospitais da cidade. – começou a aplicar alguma coisa em um dos vidros de soro. - E Camz deve ser Camila, a menina que você salvou. Ela está bem e vem te visitar todos os dias. Daqui a pouco deve aparecer. É que ainda é muito cedo. São 6:20h.

Olhei ao meu redor e me vi em um grande quarto de hospital. Havia três frascos de soro espetados em minhas veias e um tubo que saía por baixo das cobertas preso em uma bolsinha estranha. Umas ventosas me faziam leve pressão no peito, presas a um equipamento daqueles de eletrocardiograma, além de um nebulizador que me enchia o saco. Foi à primeira coisa que retirei.

- Ei menina, sem rebeldia! Você só pode tirar isso aí com autorização médica! – advertiu.

- Pode chamar um médico então? Já acordei e não vou mais precisar desse diabo. Além dessas ventosas presas no meu peito. Isso é incômodo!

Ele achou graça e respondeu:

- A doutora fará a visita às 8:00h Não vai demorar tanto. Enquanto isso procure se distrair.

"Procurar me distrair como? Será que tem quadra de vôlei no hospital?"


Tentei mexer meu braço esquerdo mas ele doía muito. O direito doía bem menos. Levantei as cobertas e vi que o tal tubo preso à bolsinha saía de dentro da minha barriga. Notei que meus pêlos pubianos também haviam sido depilados. "Mas o que aconteceu comigo afinal? Qual é a dessa bolsinha?" Mexi o corpo todo e vi que sentia cada parte, porém com uma dor associada a cada uma delas.

Não sei quanto tempo se passou quando de repente vejo a porta se abrir. Era Camz, mais linda do que nunca em um vestido branco estampado. Meu coração disparou a máquina piou com vontade.

- Tá vendo o que você faz com meu coração lindinha? A máquina vai explodir a qualquer momento!

- Boba. – aproximou-se e me beijou a testa – Não sabe o quanto estou feliz por ter acordado! – passou as mãos em meu rosto – Orei tanto, tanto por você! Até minha avó passou esta noite em vigília na igreja orando por você. – beijou-me o rosto.

My only love.Onde histórias criam vida. Descubra agora