Primeiro Encontro

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 "Foi assim 

como ver o mar,  

a primeira vez,

 que meus olhos,

caíram no teu olhar... "  


  Rio de Janeiro, março de 1993, verão, sol e calor. 

           Estava com pressa. Vestia uma blusinha e um short jeans, calçava as sandálias correndo. Mochila nas costas desci as escadarias do morro com empolgação. Começava para mim o chamado ciclo profissional do curso de engenharia civil.
Meu nome é Lauren Michelle Jauregui, nesta época estudava na UFRJ, tinha 22 anos e aparentemente ser filha única, mas nunca tive certeza disso. Morava no Morro do Cantagalo, Copacabana, junto com minha avó Eleonor, Sem dúvida a pessoa mais enigmática que já conheci.

Tinha poucos amigos no morro, a maioria dos jovens me antipatizava. Já na faculdade era popular, tinha muitos colegas, namorava e fazia parte de um quarteto, integrado por, Ally e Veronica, intitulado de "As Feiticeiras". Era boa aluna e nunca reprovei uma matéria sequer. Trabalhava na Universidade desde o segundo período.
Comecei como monitora, além de dar aulas particulares de diversas matérias. Em 93 começava como bolsista de iniciação científica do CNPq, o que significava que trabalharia vinculada a um laboratório e seria pago pela minha produção em ciência e tecnologia, oque não me impedia, porém, de continuar com as aulinhas particulares.

Minha avó era diarista e trabalhava em duas casas em Copacabana. Isso mantinha a semana dela cheia de segunda a sexta. Considerava a vida dura, era órfã e pobre, mas me sentia motivada pela esperança de um futuro melhor quando me formasse e arrumasse um emprego.

-Então Laur, você ainda tá disponível pra aulas particulares? - perguntou Veronica apoiando o queixo nas mãos.

- Por que vero? Algum problema? Sabe que pra vocês eu tô sempre disponível. - respondi.

- Oque??? Vero querendo estudar?? Realmente 93 será um ano de grandes transformações" - comentou Ally de brincadeira.

- Não é pra mim não gente, eu hein! O período acaba de começar e eu sou do tipo que deixa o cerco fechar pra começar a se desesperar, vocês sabem! Na verdade seria pra uma filha de uma das piruas que minha mãe conhece.

- E quem é essa "filha de pirua"? - perguntei.

- Uma patricinha caloura que acaba de entrar na engenharia. Parece que já ta tremendo por causa de cálculo 1, esse tipo de gente que sofre por antecedência! Aí a pirua mãe dela comentou com a minha mãe e EU - apontou para si mesma- fiquei com incumbência de resolver o problema da pobrezinha... - disse com ironia colocando a mão no peito e revirando os olhos.

- E aí você pensou em mim?

- Claro" Você pode tirar uma boa grana da paty. Ainda mais que eles são ingleses e acham nosso dinheiro irrisório...

- Eles são ingleses? Estão no Brasil há muito tempo? - perguntou .

- Chegaram no ano passado.

- E como essa menina conseguiu entrar na nossa faculdade? Ela sabe falar nossa língua então? - disse Ally.

- Bem, na verdade só o bolha do pai dela é inglês. A pirua mãe é brasileira, filha de um embaixador da velha guarda que mexeu os pauzinhos pra netinha ter dupla cidadania. A paty estudou português desde criança lá em Londres, ao que parece, e no ano passado fez um verdadeiro misto de terceiro ano com pré-vestibular, um cursinho em casa com professor particular. Tudo pra não se atrasar em um ano sequer!

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