Epílogo

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"E quem vem de outro sonho feliz de cidade,

Aprende depressa a chamar-te de realidade."

Londres, dezembro 2006

Agora são 20:00h. E tudo continua cinza, como já estava desde a manhã. Continuava chovendo como se a cidade chorasse. E continuo no Thames Footpath, neste momento em frente à ponte de Westminster, ainda sem direção certa, sem destino.

Percebo que me perdi em meio a lembranças e não acompanhei a sucessão das horas. Eu estava em outros lugares, pelo menos a cabeça e o coração, mas o frio e as últimas lembranças me fizeram voltar à realidade, e novamente eu precisava dar uma direção em minha vida

Olhei para meu sobretudo cinza. Sorri. Camz me deu de presente na única vez em que estivemos em Gramado. E isso foi na virada 2000/2001.

"Faz tempo!"

Senti o celular vibrar. Nove chamadas não atendidas e um torpedo. Mirayn me escreveu dizendo que estavam preocupados comigo.

"Ai, meu Deus, tenho que voltar!"

Depois da morte de Camz muitas coisas aconteceram, mas posso resumir dizendo que não havia mais a Máxima Engenharia. Perdi muito, tomei vários caminhos confusos e em 2005 aceitei o convite insistente de vó Dorte para morar com ela em Londres. A velhinha tinha suas influências e facilitou minha entrada no país numa época em que a Imigração britânica estava cada vez mais exigente. Consegui um emprego "meia boca" trabalhando numa firma que prestava serviços de soldagem.

Vó Dorte me prendia àquele país, e só por ela vivia em um ambiente que não era meu, que não me pertencia. Mas agora, dois dias depois de seu falecimento por uma parada cardíaca, pensava seriamente no que fazer.

A velhinha conversou comigo mais de uma vez sobre seus bens e deixei claro que não queria nada. Não achava correto e nem desejava o patrimônio dos Cabello's. Na leitura do testamento, no dia anterior, descobri que Henry e seus filhos herdaram praticamente tudo e Shelley o imóvel em Londres, com o que havia dentro, e mais um bom dinheiro.

E apesar de minhas negativas, a teimosa vovó me deixou uma soma de libras esterlinas, que não era uma fortuna, mas uma quantia que me estimulava a voltar à terra natal e começar de novo

Henry, Mirayn, Shelley e Herbert me esperavam em casa. Precisava voltar para que não se preocupassem mais. Passaram a tarde telefonando

Segui cruzando a ponte e acredito ter me decidido naquele momento. Sim, eu voltaria ao Brasil e estava disposta a mais uma vez recomeçar. Eu estava viva, e enquanto estivesse, multiplicavam-se as possibilidades. Tinha que acreditar!

E durante a travessia veio a ideia de fazer algo que precisava para extravasar o que sentia e desabafar o que nunca foi dito. Eu iria escrever, e começaria naquela noite. Escreveria sobre tudo que rememorei, sobre as coisas que me marcaram e estavam vivas, muito vivas, somente dentro de mim.

Fim.

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