Perseguição.

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--  Alerta de hot e não é muito agradável... Se quiserem pular a parte do hot tudo bem.. Boa leitura.--

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             Cheguei em casa e minha avó estava sintonizada na novela.
- Oi vó. Vou me arrumar e descer. Daqui a pouco o... vou sair e daí só volto amanhã.

- Está bem. - falou sem olhar para mim.

Olhei para ela e imaginei como deveria se sentir. Ela já foi rica vivendo em um barraco mal acabado no morro. Pensei no luxo do apartamento de Camila e como deveria ser a casa da minha avó na Bahia antes de perderem tudo. Ela deveria sentir muito. Eu nasci no morro e não tinha referências, mas para quem já viveu na riqueza... Nosso barraco tinha
quatro pequenos cômodos e eram todos praticamente colados entre si: sala, quarto, cozinha e banheiro. A separação entre eles era feita por cortinas de plástico amarelo translúcido. Nossa sala tinha uma poltrona de dois lugares, o móvel da TV, onde guardava meus livros e uma mesinha entre eles, com um arranjo de flores de plástico. Na parede da janela, que era a mesma da porta, duas cadeiras de madeira. Entrei no quarto e pensei em como era pequeno. As paredes, que eu mesma ajudei a levantar, eram bastante irregulares. Havia pendurado um quadro feito pelo meu primeiro namorado. Presente de aniversário. Minha avó
dormia numa cama velha de madeira, debaixo da janela, e eu, em uma cama que fiz e que era guardada embaixo da cama dela. Tínhamos um armário, que dividíamos, e havia também a mesinha onde estavam a Virgem Maria, o terço e a Bíblia de vovó. Nos dias quentes, a santa dividia seu espaço com o ventilador.


Abri o armário e olhei minha roupas: poucas. Se não fosse a fila de dona Maria, uma das patroas de minha avó me dar as roupas que enjoava de usar eu nem teria como sair.


Camz tinha uma diarista. Era como minha avó, mas usava o tal uniforme azul de mangas compridas, coisa que vovó não tinha de usar. Será que Camila percebia que seus empregados estavam do mesmo lado que eu na vida? E talvez melhor, pois não sei quanto eles ganhavam, mas deveria ser mais que vovó.


Separei um vestido azul de comprimento médio e fui para o banheiro. Nosso banheiro se resumia a um vaso sanitário, pia e um micro box. Quando faltava água, o que era comum, tínhamos de passar no seu Neneco e trazer no balde. Este homem era dono de uma quintandinha no Cantagalo e tinha três imensas caixas d'água. Por gostar muito de nós aliviava nossa barra nessas situações de "seca", sem contar às vezes em que nos vendia fiado. Fiz um teste e vi que água estava lá. "Oba! Hoje balde não rola!"

Acabei de me aprontar e esperei até às dez, que foi quando desci. Vovó estava quieta rezando no quarto. Às vezes eu passava dias sem ouvir a sua voz.

- Tchau vó.

- Amanhã vamos consertar a parte de trás da cerca. Caiu uma pipa lá nos fundos e uns moleques acabaram com ela. Ainda tenho arame farpado suficiente.

- Pode deixar.


Saí e como sempre, ouvi gracinhas e algumas zombarias na descida. Apesar disso, raramente alguém vinha me abordar ostensivamente e
eu podia ir sossegada. Pensei em Camz e rapidamente desviei o pensamento. Esperei Keaton no ponto do ônibus e ele não tardou a chegar. Estava muito bonito.

- Oi gata! Você tá um arraso!

- Você idem. - aproximei-me e cheirei seu pescoço - E muito cheiroso também.

- Não faz assim que você me deixa louco...- e nos beijamos com paixão - Vamos.


Estávamos em uma cama redonda, em uma cheio de espelhos. "Aliás, por que tem tanto espelho?" Keaton estava deitado
sob mim, segurando minha cintura, enquanto cavalgava nele deslizando as mãos em seu peito.

My only love.Onde histórias criam vida. Descubra agora