Conversa com os Cabello

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Nunca soubemos o que aconteceu na casa de Camz quando seu pai chegou, mas dois dias depois disso, André, o motorista, sobe o morro à noite e chega com seu Neneco na porta de minha casa. Até que ele foi esperto e veio vestido de gente normal ao invés do uniforme de pinguim com o qual trabalha. Estava muito assustado e deu apenas um recado dizendo que o senhor Alejandro queria nós duas lá na cobertura no sábado pela manhã.

Estávamos desconfiadas e, chegando o dia, Camz telefonou para casa pedindo para que os dois nos encontrassem em um quiosque no posto 6. Chegamos a pensar que poderia haver polícia nos esperando lá, e então não facilitaríamos. Muito a contra gosto os pais dela aceitaram. Estávamos escondidas e vimos quando os dois chegaram no carro com André e ninguém mais. Aparentemente, barra limpa.

- Francamente Camz, nos fazer passar por esse constrangimento?- disse Sinu apreciando o quiosque com cara de nojo.

- Achei que nossa conversa deveria ser em território neutro.

Alejandro me olhou com ódio.

- E pensar que você pisar em meu casa!

- Se iremos começar assim, vamos embora agora! – Camila ameaçou.

- Não! Já que viemos até aqui, que não seja em vão.

Pela primeira vez eu concordava com minha "sogra". Para quebrar o clima ruim Camz pediu côco para nós.

- E então? Quem começa a falar primeiro? – perguntei.

- Você não querer Europa, não é Camila?

- Não papai. Nem insista com isso! Nem mesmo se a vovó cortar minha pensão.

- Anteontem seu pai e eu conversamos longas horas com sua avó ao telefone, e ela disse que não vai mexer em um centavo de sua pensão. Até me pareceu que ela está concordando com isso.

"Grande vovó!"

-Sinu, please. Let me talk to my daughter.

- Pai, Lauren está aqui e se quiser conversar será em português.

- Camila, quero que volte para seu casa! Seus coisas lá, seu vida lá também.

- Eu não vou desistir da Lauren.

- Eu não dizer isso, só pedir para você voltar.

- Precisamos de um tempo pra resolver tudo isso minha filha! Volte pra casa, por favor! – Sinu pediu com cara de choro.

- Resolver tudo o que mamãe? – Camz perguntou desconfiada.

- Tudo, como vai ficar. Eu já nem sei o que responder quando me perguntam por você. E olhe suas mãos – segurou as mãos da filha – Anda lavando louças ou fazendo limpeza?? – perguntou chocada – Uma Cabello não faz isso, jamais! E olha seu cabelo, sua pele... Oh, filha está tão maltratada! Daqui a pouco vai ficar uma mulherzinha como essa daí! –olhou-me com desprezo.

Não perdi meu tempo respondendo. Camz recolheu as mãos do contato com Sinu.

- Mãe eu não vivo na casa dela para ser servida e ficar a toa. É claro que eu trabalho, mas não estou "maltratada". Além do mais estou no Cantagalo só há alguns dias e nem daria tempo para tanta coisa!

- Não se chega a acordo com conversa vazia. Camz, volte seu casa e chega isso tudo! Eu não vou interferir nesse seu... relacionamento. – olhou-me com nojo.

- Filha, façamos assim: você disse que ela se forma em dezembro. Pois bem, você volta pra casa, fica lá e se em dezembro ela arrumar um emprego – e olhando para mim – de verdade, aí vocês moram juntas em algum apartamento e nós não iremos interferir.

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