Sem nada

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Na quinta liguei para Arthur e ele já havia chegado. Disse para que eu fosse lá a tarde fazer uma entrevista com ele e o tal Júlio. Fiquei receosa porque me imaginava dentro da equipe e agora tinha esse papo de entrevista.

Camz disse que iria para no Centro, passar no banco e dar uma olhada em suas finanças, uma vez que perdeu a noção de tudo desde que voltamos da Europa. Aproveitaria para comprar umas roupas íntimas.

Cheguei no escritório de Arthur em Botafogo às 13:30h. Ficava em um prédio enorme e bonito. Camz me ajudou a escolher a roupa e me arrumar. Estava meio nervosa. Quando toquei o interfone uma voz melosa de mulher me permitiu a entrada, e ao abrir a porta dei de cara como uma autêntica secretária gostosona. Não era bonita, mas dona de um belo corpo. A mulher vestia uma saia relativamente curta, usava uma blusa decotadíssima e parecia ter saltado direto de uma capa de revista erótica.

- Oi, meu nome é Simone. O senhor Arthur e o Júlio a esperam na sala. Pode vir. – sorriu.

Fui seguindo ela e achei graça dos trejeitos que tinha. Andava rebolando tanto que chegava a ser caricata. "Mas a bunda é bonita! O corpo todo, aliás."

Entrei em uma sala e Arthur e Júlio me aguardavam lá dentro. Estavam sentados em uma mesa redonda de quatro lugares. Havia uns papéis em uma das cadeiras. Ambos se levantaram para apertar minha mão. Júlio era como o colega: meia idade, calvo e barrigudo, mas ao contrário do outro, tinha a maior pinta de galinha.

- Então essa é a Lauren! Deus! Nunca vi uma engenheira linda assim! – Júlio me olhou de baixo a cima.

- Boa tarde. – respondi seriamente.

"Ai, não, coroa eu não aguento!"

- Já tirou o CREA? – Júlio perguntou.

- Ainda não. Recebi o diploma nas vésperas do carnaval. Aliás, trouxe meus documentos. – mostrei minha pasta – Hoje mesmo eu vejo isso.

- Vamos fazer o seguinte, Lula está indo no Centro por volta das três. Ele te leva lá e você se arruma com o CREA. Efetivamente seu dia começará amanhã. Vou te apresentar a equipe, amanhã você se reunirá com Alcides, Anderson e Bárbara e semana que vem começam as visitas na obra.

- Ótimo! – respondi.

- Então vamos, eu te apresento ao pessoal. – Arthur se levantou – Na volta, antes de sair com Lula te falo sobre seus vencimentos.

- Até mais, menina. Viajo hoje pra São Paulo. – Júlio estendeu a mão.

Retribui o cumprimento, desejei boa viagem e saí da sala com Arthur.

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Andamos pelo corredor e ele foi me explicando tudo. Aquilo era na verdade uma imensa sala onde haviam divisórias separando pessoas. Ao todo, quinze funcionários, comigo dezesseis.

Ele me apresentou Simone, a secretária que me recebeu, e os engenheiros civis Alcides, Anderson e Carlos. Em outra baia estavam dois engenheiros elétricos, Fernando e Sandro. Na 'ala dos técnicos', havia um projetista apelidado Cancan, dois técnicos em edificações, Bárbara e Rodrigo, um técnico em estradas, Ricardo, um mestre de obras, Raimundinho. Em uma sala separada, o engenheiro de segurança no trabalho, Lula, e ao lado os contadores Camille e Leon, o maior gay do mundo. "Bom saber disso! Sinal de que eles aceitam o homossexual."

Júlio era o sócio de Arthur, e o homem que saía em reuniões a fora fechando negócios. A empreiteira tinha sociedade com outra em São Paulo e a carteira de obras de ambas era imensa. Com a Prefeitura do Rio havia três trabalhos, sendo que um deles envolvia obras em favelas. Disse para Arthur que tinha interesse nisso depois que encerrasse com o caso de Bonsucesso. Ele gostou de saber, pois me disse que o pessoal dele morria de medo de favela.

- Eu fui criada em uma. – disse

- Bom. Então você sabe como agir e se aproximar das pessoas sem morrer de medo delas. Importante pra ter harmonia no trabalho de campo.

Ao final do tour, onde todos me pareceram simpáticos, Arthur me falou de grana. Eu receberia R$2500,00 líquidos, e teria direito a plano de saúde médico e odontológico. Disse que se tudo desse certo em Bonsucesso, ao final , eu poderia receber um aumento.

- Antes de sair com Lula preencha uma fichinha que Simone vai te dar, OK?

- Certo.

Preenchi a tal ficha e só lamentei de não poder marcar em estado civil a opção casada. Então marquei "outros".

Lula me deu carona até o Centro e ele era um homem de vinte e oito anos, moreno dos olhos verdes e muito bonito. Disse que era casado com a técnica Bárbara, que era mulata, cabelos estilo tranças afro, magra e bonitinha. Ela tinha vinte e cinco anos. Ele me pareceu ser rapaz sério.

Fui no CREA e não esperei muito para resolver as coisas. Mas o documento demoraria um mês e pouco para sair. Liguei para professor Ramirez contando as novidades e ele se animou. Corri para casa para falar com Camz . Tudo havia dado certo e eu queria que ela soubesse. Antes de sair do Centro ainda liguei para seu celular, mas deu fora de área. Quando cheguei em casa ela não estava lá e estranhei. Eram seis e pouco da tarde. Fui tomar banho e saí pensando em preparar um jantar especial. Macarrão seria uma boa pedida. Mal comecei a ajeitar as coisas e ouço o barulho da porta se abrindo. Corri para saudá-la e parei estupefata.

Seu semblante estava abatido e ela nitidamente havia chorado.

- Meu amor, o que houve? – abri os braços e me aproximei.

Ela se jogou em meus braços já soluçando e me abraçou com força.

- Deus, o que foi?? – fiquei preocupada.

- Lolo ... – me abraçava com força – estamos sem nada, estamos sem nada...

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