Abro a porta lentamente e meu avô pula pra dentro do quarto. - Cafira - diz ele segurando meu rosto com as mãos e em seguida ligando a luz, me fazendo apertar os olhos. - Você está bem, peixinho?
- Sim - respondo sufocada quando ele me puxa para um abraço. - Por que eu não estaria? - Ele fixa o olhar na parede e arregala os olhos. Me encara nervoso. - Não - digo deixando os braços penderem ao lado do corpo. - Como eles puderam fazer isso?
- Calma Fira, eles apenas tentaram ajudar - justifica tentando fazer com que eu não fique chateada.
- Ajudar? Ajudar? - Pergunto me direcionando rapidamente para a janela ao lado da cama. - Eles não tinham o direito...
- Te entendo querida - disse ele parando ao meu lado e acariciando meus cabelos. - Depois vocês se resolvem. Agora nós precisamos conversar.
Ele estende-me a mão. Descemos as escadas e encontramos tia Lia sentada na sala. Ela levanta assim que me vê e me envolve em seus braços. Sento ao lado dela, meu avô a nossa frente. Eles me olham confusos e eu os encaro em busca de explicação. Qual é, sou eu quem está confusa aqui!
- Qual o motivo de todo esse suspense? - Pergunto finalmente. - Estão querendo me matar de aflição?
- Temos uma coisa muito importante para lhe contar - meu avô começou e tia Lia apenas balançava a cabeça, concordando.
- Então digam logo - falei impaciente.
- Sabe como acabou vindo morar conosco...
- Sim, meus pais morreram em um acidente de carro quando eu ainda era um bebê - o interrompi para que ele contasse mais rápido e me poupasse de ouvir a mesma história de sempre.
- Não foi bem isso que aconteceu - disse tia Lia. Eu já ia começar a falar, mas ela me interrompeu com um sinal de cabeça e continuou. - Sua mãe era uma surfista, assim como você. Um dia ela voltou da praia e disse que estava apaixonada pelo mar. Não entendemos muito bem e pensamos que ela estava tirando onda de nós. Até que um dia ela chegou em casa e disse que o mar a chamou para ser sua mulher. Achamos aquilo estranho e ela nos levou até o deque abandonado. - Eu escutava cada palavra com muita atenção. - Ela se aproximou da beirada e tocou a água, em seguida um homem emergiu e segurou em sua mão.
- Ele se apresentou, disse que se chamava Kai e que estava apaixonado por Kaylane, sua mãe. - Continuou meu avô. - Eu fiquei intrigado e disse para que ele saísse da água para conversarmos melhor. Foi então que ele nos mostrou sua cauda. Sim, ele era um tritão. Sua mãe chorava dizendo que estava apaixonada por ele. Ele prometeu cuidar dela. O modo como os dois se olhavam, havia um amor tão intenso entre eles que ninguém ousaria os atrapalhar.
- Mas como ela poderia se casar com um tritão? - Perguntei confusa.
- Ele disse que a transformaria em uma sereia, pra que pudesse casar-se com ela - meu avô continuou. - Eu acabei concordando, pois o que mais quero e ver a felicidade da minha família e pedi que ela me visitasse toda semana. Porém, depois de alguns meses, algo muito ruim aconteceu no mar, não sabemos o que, porém ele mudou completamente. Fui me encontrar com sua mãe no deque, ela se tornou uma bela sereia - um sorriso se formou no rosto de meu avô ao se lembrar de sua amada filha. - Perguntei a ela o que estava acontecendo e ela disse que estava tudo bem. Podia ver em seus olhos que era mentira, mas não questionei, afinal ela era a rainha do mar. Foi aí que ela me entregou você, e disse que só lhe entregaria porque você nasceu com pernas e que seria mais seguro você viver aqui comigo e com Lia.
- Mas ela também disse que um dia você retornaria para o mar e cumpriria o seu destino - completou minha tia apertando minhas mãos entre as suas.
Comecei a rir freneticamente. Minha barriga doía de tanto rir. Comecei a bater as mãos no sofá e ria sem parar. Os dois me encaravam assustados. - Parem de curtir com a minha cara, valeu? - Disse entre risos.
- Não estamos "curtindo com a sua cara", Cafira - falou minha tia claramente irritada.
- Acham mesmo que vou cair no papo de que meu pai era um tritão e minha mãe uma sereia? - Ri mais um pouco. - Combinemos, não tenho mais idade para contos de fadas.
- Como você explica tudo o que vem acontecendo com você, Fira? - Perguntou meu avô rispidamente, o olhei assustada, pois dificilmente ele alterava o tom de voz. - Você vem tendo sonhos estranhos. Consegue sentir o mar. Ganhou uma cauda. Acha isso uma simples coincidência?
- Não - disse raciocinando. - Acho que tem alguém gostando de brincar com a minha cara.
- Escuta Fira - minha tia segurou minhas mãos e olhou em meus olhos. - Jamais faríamos uma brincadeira desse tipo com você.
- Mas então... - pensei por um momento. - O que tem haver eu ter uma cauda?
- Sua mão não contou nada sobre isso - meu avô disse. - Ela apenas falou que ao completar 17 anos seria o tempo certo para cumprir o seu destino.
- O que quer dizer? - Perguntei confusa e sentindo uma pontada de frustração.
- Não sabemos querida - voltou a falar minha tia. - Isso você terá que descobrir sozinha, foi isso que sua mãe informou. Mas a cauda deve ser um bônus.
- É muita coisa para você digerir tão rápido, Fira - disse meu avô. - Acho melhor descansar. As coisas vão se esclarecer com o tempo. - Olhei assustada para ele. - Eu queria ter todas as respostas para te dar, ou melhor, queria poder descomplicar essa situação... não, queria que você nem tivesse passado por isso, meu amor. - Eu o abracei e chorei baixinho. - Sinto muito.
Subi para o quarto e chorei abraçada ao travesseiro. Bia me ligou diversas vezes, porém fingi não ouvir e acabei desligando o celular quando Carlos e Maik se puseram a ligar também. Procurei na gaveta da escrivaninha uma foto, a unica foto que eu tinha de minha mãe, as outras meu avô escondeu quando eu ainda era pequena, para que eu não ficasse chorando cada vez que a visse. Olhei para ela, tentava encontra-la em algum lugar esquecido da minha mente, mas não consegui me lembrar de nada. Deixei lagrimas rolarem por minhas bochechas e pingarem na foto. Me aproximei do espelho e chorei ainda mais. Uma mistura de dor e ódio invadiram minha mente.
- Porque não me contaram antes? - Questionei a mim mesma, como se meu reflexo fosse me responder. - Porque tinha que ser justo comigo? Justo agora que minha vida estava ficando como eu queria, com o campeonato e os contratos?
Não consegui aguentar. Dei um soco forte no espelho. Ele se partiu em vários pedaços e vi sangue escorrer por minha mão, mas não senti dor. Ouvi passos apressados se aproximando da porta e pensei o mais rápido que consegui. Olhei para a janela aberta e corri até ela, pulei para a sacada e desci pela lateral da mesma, não queria falar com ninguém e nem dar explicações de nada, até por que eu nem as tinha. Corri para a praia e andei pela areia, não tive coragem de entrar no mar, mesmo a vontade me consumindo por dentro, me mantive forte, ainda estava receosa da cauda reaparecer. Andei por uma hora e cheguei ao final da praia. Subi nas pedras que demarcavam o final e fiquei assistindo ao espetáculo noturno das ondas.
- O que uma coisinha como você faz aqui a uma hora dessas? - Disse uma voz masculina desconhecida atrás de mim. Não movi um músculo, apenas senti uma mão áspera apertar meus ombros. - Fique bem quietinha, viu?
E agora?????? Meu coração está quase pulando pela boca. O que acontecerá com a Fira?
Beijos
NatáliaB.
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Filha do Mar [Em Revisão]
FantasyCafira vivia a vida comum de uma típica adolescente de 16 anos, mas tudo vira de cabeça para baixo no seu décimo sétimo aniversário. Uma voz do além, uma profecia e uma cauda? Muitas coisas precisam ser explicadas a ela. Será que Cafira obterá as re...