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Eu não sei porque eu estava tão nervosa, eu sabia que aquele dia chegaria. Eu até queria que chegasse!

Porque eu estava tão triste?!Eu queria aquilo, minha liberdade.

Eu estava andando pelos corredores, indo para a sala de Lilien.

Minha cabeça estava cheia de pensamentos e memórias e naquele curto espaço de tempo percebi o porque de toda aquela agonia, minha vida estava ali, em cada uma daquelas paredes, em cada pedacinho daquele lugar.

Ali eu cresci, vivi e amadureci.

Memórias alheias vindo a mente, um joelho ralado no parquinho, um resfriado depois de brincar por muito tempo na neve, bolinhos de chuva quentinhos feitos por Ernest em dias de chuva. Tudo.

Finalmente cheguei até a porta da diretoria, Fechei os olhos e respirei fundo enquanto pegava a maçaneta, contei até três e bati. 4 batidinhas inseguras.

-Entre-ouvi de lá de dentro.

Abri a porta e coloquei a cabeça para dentro antes do corpo.

-Lincença?

Lilien estava com uma montanha de papéis na mesa e os lia um por um.

-Se eu disse que podia entrar não precisa pedir licença-disse sem nem tirar os olhos do papel que estava em sua mão, ela abaixou os óculos e olhou para mim- ah, é você.

Ela colocou o papel na pilha novamente.

-Me disseram que você queria me ver... Bem, quer dizer não que você queira me ver, mas você precisa falar comigo,enfim....você entendeu.

-Sim, eu entendi-disse ela se levantando e indo até o arquivo.-hummmmm,E,E,E,E- disse ela procurando pela minha ficha- Aqui! Elizabeth- falou pescando uma ficha com meu nome inteiro, Elizabeth Hilows, um nome e um sobrenome, nada mais, nada menos que isso. Apenas o básico para se ter uma identidade.

-Bom...- ela pegou um envelope A4 pardo na gaveta de sua mesa e colocou meu histórico- aqui está- disse esticando o braço e me entregando o envelope.

-É só isso?- perguntei desconfortável ao perceber q td de mais importante na minha cabia em apenas um envelope de papel.

Não parecia certo que fosse assim.

-O seu RG e CPF estão ai também, mas tem mais algumas coisas que eu tenho que te entregar. Espere um pouco.

Ela foi para trás da mesa e começou a procurar nas gavetas, ela voltou com o que pareciam ser fotos nas mãos.

-O que é isso?

- Algumas fotos suas de infância.

-Eu nem sabia que isso existia.

-Mas existe, bom, são suas- estendeu as mãos para que eu pudesse pegá- las das mãos dela.

Peguei-as e comecei a passá-las, em uma eu estava de chiquinhas, o fundo da foto era branco, roupinha preta com bordados em prata na gola. Foto de escola.

Em uma outra eu estou com todas as crianças do orfanato, algumas foram adotadas, outras já tinham ido viver sua vida e alguns muito poucos ainda estavam conosco.

Na terceira estávamos eu Cassie e Zack, eu a direita, Cassie a esquerda e Zack entre nós duas, sorrisos grandes e muito bem abertos, braços passados pelos pescoços uns dos outros, eu reconheci o lugar da foto, era do lado de fora do orfanato em um banco de madeira pintado com tinta branca que fica perto da porta, ele está lá até hoje mas era mais novo na época claro, quando a foto foi tirada nós não tínhamos mais que 10 anos.

AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora