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- Venha- sussurrou.

Eu me sentei abruptamente, abrindo os olhos ao mesmo tempo que lançava o meu corpo para a frente, senti algo escorrendo em minha testa e logo percebi que era suor, tentei secar as gotículas que estavam lá, mas depois percebi que era inútil porque as palmas das minhas mãos também estavam suadas.

Acordei com as ondas do mar ainda em meus ouvidos.

Com os olhos ainda arregalados, olhei apressadamente para um lado e para outro, o sol já havia nascido e começava a esquentar a barraca, à minha esquerda Cassie continuava a dormir profundamente, se continuasse nesse ritmo logo, logo estaria coberta de suor assim como eu mesma estava.

Fiquei sentada por uns momentos deixando que meus olhos se acostumasem com a luminosidade a minha volta e tentando entender se eu estava molhada de suor pelo calor ou por causa de algum sonho/pesadelo que tivesse tido durante a noite e esquecido de repente.

Mas a única coisa de que me lembrava era do sussurro sinistro que acabara de me acordar, o mesmo sussurro que estivera presente em um outro sonho esquisito de... O que? Um dia atrás?

Eu estava começando a perder a noção do tempo.

Talvez um pouco de ar fresco (e salgado) me fizesse bem.

Fazendo o menor barulho possível me levantei e abri o zíper da barraca.

Do lado de fora não havia ninguém,  apenas o mar.

Com os olhos semi-cerrados por causa tanto do sono como da claridade cheguei bem perto das ondas.

Continuava sem ter ninguém, respirei profundamente o ar salgado enquanto ele pinicava levemente meu nariz de um modo que não era exatamente ruim, tentando entender o que estava acontecendo comigo e por quê eu estava ouvindo vozes.

Inspira, expira, inspira, expira.

Fiquei assim, por alguns instantes apenas vendo as ondas se quebrando a minha frente e revisando o sonho estranho que tive há não muito tempo.

-Mas eu tinha certeza que tinha alguém me chamando, isso não pode ser coisa da minha cabeça, eu ouvi- murmurei.

Até que senti algo tocar meu ombro.

Me virei bruscamente deixando escapar um grito estrondoso e agoniado de minha garganta,  preparada para me defender como de costume.

-Desculpe, desculpe- disse Max com as duas mãos a frente do corpo.

Olhei para minha mão direta fechada em punho pronta para socar quem quer que fosse.

Fechei a cara.

- Da próxima vez- falei agarrando sua camisa com a mão esquerda- ela- ergui minha outra mão ainda na mesma posição- vai encontrar encontrar o alvo, a questão é: será o olho de outra pessoa ou o seu que vai ficar roxo?- o soltei e fui em direção a barraca- pense bem- lhe disse com os dentes cerrados.

- Tudo bem- ele disse alguns segundo depois e veio atrás de mim- eu não tinha a intenção de assustá-la.

Virei bruscamente, ficando de frente para ele.

- Claro que não, por isso pôs a mão no meu ombro quando não havia ninguém fora das barracas além de mim, sem nem mesmo dar sinal de que estava se aproximando.

- Só queria saber se estava tudo bem com você- disse olhando em meus olhos, a cor de cobre profunda que corava seu olho me deixando quase um pouco destraída demais- me desculpe, eu a vi aqui sozinha e quis saber se precisava de algo, não foi minha intenção assustá-la.

AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora