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Medo e insegurança dançavam uma valsa que era ao mesmo tempo tranquila e agitada em meu peito.

Finalmente chegava a hora de deixar meu porto seguro para trás, meu porto seguro e minha prisão.

New York City.

Parecia quase inacreditável, parando para pensar eu tive muita sorte, passei toda a minha vida em um ótimo lugar sendo muito bem alimentada e cuidada e por mais que eu não tivesse vivido ativamente neste meio eu estive entre pessoas poderosas, afinal New York City é mais do que tudo um agitado centro de negócios, além de, é claro, abrigar os eventos mais importantes e badalados, festas muito bem organizadas e muito, muito caras lotadas de celebridades.

Tudo bem que o orfanato ficava mais aos arredores, um pouco isolado de toda a riqueza alheia da cidade que nunca dorme, mas era um lugar enorme gerenciado por pessoas com muito dinheiro, que conheciam outras pessoas com muito dinheiro para fazer doações por amizade ou só por hipocrisia mesmo. Mas independente de tudo isso eu estive ali, deixei minha marca nos corações da pessoas daquele lugar.

Sinto algo aquecer meu peito, um misto de alegria e tristeza.

Agora eu iria em direção a segurança do meu lar, em direção a minha liberdade, ao encontro de minha família.

Família.

Eu testava a palavra em minha cabeça, como seria ter uma família, uma de verdade?

Partilhar laços sanguíneos com pessoas.

Então pensei em Cassie e Zack em meio a tudo isso, sobre como eles iriam se sentir quando eu tivesse uma mãe e um pai e eles não.

Querendo ou não isso era um ponto que nos unia, nos sentíamos bem ao compartilhar nossas dores e essa era a maior de todas e a que tínhamos em comum.

Quando já não fosse assim para mim, será que alguma coisa mudaria?

Não, isso não vai acontecer, nós prometemos.

Prometemos cuidar uns dos outros, nunca abandonar uns aos outros, foi uma promessa selada com sangue e mesmo que eu não quisesse reconhecer isso as vezes quando me convinha uma promessa selada com sangue não pode ser desfeita jamais.
É um compromisso eterno.

Minha cabeça girava com todos aqueles pensamentos sem conseguir chegar a uma conclusão exata.

Até que então ali, sentada naquele ônibus antes mesmo de ele dar partida eu prometi que eles também seriam filhos do meus pais.

Seriam meus irmãos para sempre, como foi até aquele momento e antes dele, eles também fariam parte da minha familia como sempre.

Estava decidido e eu não ia mudar de ideia.

Caso meus pais não quisessem aceitar a condição de incluí-los na família eu não ia pensar nem duas vezes: não ficaria com eles, pessoas que não aceitassem o amor que sinto por Zack e Cassie não poderiam me amar de verdade.

Eles foram minha primeira família, graças a eles eu tinha uma noção, mesmo que vaga, do que é ter uma família. Eles me amaram e eu os amei, cuidaram de mim e eu cuidei deles. Nada mais justo que isso.

A promessa de não permitir que fossem excluídos foi gravada em minha mente e guardada com muito cuidado no fundo do meu coração.

Depois disso sentada na janela de um dos banco do ônibus, lugar que a propósito foi escolhido por  Cassie que insistiu muito para que sentamos em um dos lugares que ficava nem tão para a frente nem tão para trás, eu pude finalmente descansar, dar uma folga aos pensamentos.

AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora