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  Não sei quanto tempo depois as ondas daquele mar profundo no qual eu estava mergulhada passaram a não ser mais tão pesadas, eu aos poucos fui despertando, ao que parece podia se sentir jet lag mesmo sem se viajar de avião, mesmo assim permaneci de olhos fechados.

  Até sentir o carro desacelerar um minuto depois, meus olhos se abriram instantaneamente, desencostei a cabeça da janela em expectativa.

  - Nós já chegamos?- perguntei enquanto passava a mãos pelos cabelos tentando arrumar a bagunça causada pela soneca.

  Max olhou para trás, surpreso.

  -Você está acordada?- desta vez olhando para mim pelo espelho retrovisor.

  -Acordei um pouco antes de pararmos- expliquei, olhei para o lado, Zack dormia apoiado no ombro de Cassie, ela adotou o mesmo método que eu e estava com a cara grudada no vidro da janela, pelo jeito Max lidava com o cansaço da viagem melhor que nós três, voltei meu olhar para rua, procurando por alguma casa que se parecesse com um lar apropriado a uma família, mas onde estávamos era mais próximo de um centro comercial que a uma vizinhança tradicionalmente parisiense, fosse isso como fosse- e então, chegamos?

  -Não- ele respondeu para meu desanimo, me joguei no banco novamente- é apenas uma pequena parada, pedi a Frans para buscar algo para bebermos- disse ele apontando para a cafeteria do outro lado da rua, franzi o cenho- eu percebi que vocês não estão lidando muito bem com o jeg lag, na verdade nem eu estou- disse ele dando uma risadinha- só disfarço melhor que vocês , eu só queria dar uma ajudinha, eu imaginei que você, bem como os seus amigos, ia querer estar acordada e minimamente disposta quando fosse conhecer seus pais, então pensei que café pudesse ajudar.

  Não soube o que responder, minha cabeça ainda pesada, uma enxaqueca estava começando a aparecer, então ele continuou a falar para preencher o silêncio desconfortável.

  - Espero que não tenha problemas com café, não tive tempo de perguntar se gosta ou não.

  -Não tenho problemas- respondi simplesmente.

  Não era a minha bebida preferida, mas ia servir para o momento.

  - Estamos perto agora, questão de vinte minutos no máximo- falou ele olhando para a rua.

  Meu coração voltou a acelerar novamente, Frans voltou e eu acordei Cassie e Zack, os cafés foram distribuídos e voltamos a andar.

  Vinte minutos.

  Vinte minutos e o resto da minha vida seria mudado, redefinido.



 ***


  -Aqui estamos- disse Max com um suspiro, ele passou o resto da viagem estranhamente calado, bebericando seu café no copo de cor diferente do nosso, talvez por causa do sabor, em um silêncio tenso, anti-natural para ele que queria sempre saber algo novo sobre os novos membros da família... eu não sabia qual era o sobrenome dos meus pais, o meu tinha sido escolhido para fins de registro uma vez que ao que parecia eu não tinha nenhum documento de identificação.

Olhei para a casa, muito comum, até para uma americana, esperava encontrar alguma diferença nas casas parisienses, mas parecia tudo muito convencional, foi então que me ocorreu que eu podia ser francesa, eu não sabia qual era o local real do meu nascimento, em tese eu teria nascido em solo americano, mas não teria como ter certeza, ao menos não sem ouvir isso da boca de um dos meus pais.

AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora